Mundo

Ricos e pobres se confrontam em nova galeria de luxo de Havana

Algumas das marcas mais luxuosas do mundo estão fazendo sua primeira aparição em Cuba

Turistas caminham nas proximidades do hotel Manzana Kempinski, em Havana Hotel, em 22 de maio, o primeiro cinco estrelas da ilha
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Por Andreas Knobloch

Marta espia através das vitrines do andar térreo da nova e sofisticada galeria de lojas de Havana. “Minha aposentadoria mensal é de 342 pesos cubanos [cerca de 14 dólares]”, diz a professora aposentada. Ela nunca poderá se dar o luxo de comprar os itens do outro lado do vidro.

Os produtos de luxo – cosméticos, jóias e relógios de última linha, artigos eletrônicos custando centenas ou milhares de dólares – estão expostos no shopping que faz parte do Hotel Manzana, no coração da capital cubana. O consumo capitalista chega a uma sociedade que há décadas defende os ideais de igualdade social.

Luxo suíço, propriedade militar

O suntuoso edifício de cinco andares, erguido entre 1894 e 1917, foi o primeiro centro comercial do país insular. Após a Revolução Cubana na década de 1950, foi confiscado pelo Estado e transformado em escritórios e uma escola, para depois entrar em decadência.

Revitalizado, o prédio abrigará a partir de junho um hotel cinco estrelas com 246 quartos, cujas diárias custam entre 370 e 660 dólares. O hotel é operado pela rede hoteleira Kempinski, da Suíça. A propriedade permanece nas mãos da Gaviota, operador turístico pertencente aos militares.

“É uma desgraça”, diz a atriz Edenis Sanchez. “Quem vai poder fazer compras aqui?” Poucos cubanos, já que a maioria não tem condições nem mesmo de adquirir os produtos básicos do dia a dia nas lojas comuns.

Da União Soviética e Venezuela ao turismo

O luxo recém-chegado contrasta com os anos de crise da década de 1990, quando o fim da União Soviética representou a perda do principal benfeitor de Cuba quase da noite para o dia.

Hotel Manzana Kempinski Mulheres fazem selfie em loja no hotel Manzana KempinskiO Produto Interno Bruto (PIB) de Cuba caiu um ponto percentual em 2016. O parceiro comercial mais importante do país, a Venezuela, reduziu as exportações de petróleo devido a suas próprias dificuldades econômicas e políticas, obrigando o governo de Raúl Castro a recorrer ao turismo como fonte de crescimento econômico.

Mais de 4 milhões de turistas visitaram Cuba em 2016, incluindo 614 mil americanos, e a tendência é ascendente. Mas nem todos estão satisfeitos com o “upgrade estético” do país. Muitos visitam a ilha caribenha exatamente para ter uma pausa do luxo que tem tomado outros lugares. “É decepcionante”, diz um casal alemão de férias na ilha. Eles vieram para “fugir do McDonald’s e Starbucks”: “Agora, encontramos tudo isso aqui”, lamentam.

Equilíbrio improvável

O governo cubano quer atrair turistas e o dinheiro que eles trazem para gastar no país, o que significa empregos. Ele quer também se proteger contra uma crescente divisão entre ricos e pobres, porém esse equilíbrio se prova difícil.

Um desfile exclusivo da Chanel realizado em 2016 no famoso Paseo del Prado, um espaço público, foi alvo de críticas por analistas cubanos e alguns membros da sociedade civil.

Mas nem todos os cubanos temem um futuro de luxo e o risco de uma maior disparidade econômica. Rodolfo, que vive num edifício em ruínas, não muito longe do Hotel Manzana, vê sinais de bons tempos por vir: “Tudo a serviço do desenvolvimento é bom. Essas lojas e o hotel trarão turistas com dinheiro.”

O hotel de luxo a ser inaugurado em breve pode ser o primeiro de Cuba, mas não será o último. Não longe dali, outro futuro hotel, um prédio alto, está sendo preparado para servir a um novo tipo de turista que escolhe passar as férias na ilha comunista.

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