Mundo

Racismo no futebol é a parte visível do perigoso nacionalismo sérvio

O nacionalismo racista da Sérvia se manifesta mais um vez no futebol. Ele precisa ser combatido com urgência

Danny Rose é abraçado por um jogador da Sérvia. Ele foi expulso por chutar uma bola contra a torcida da sérvia que havia imitado o som de macacos. Foto: Reprodução
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Na noite de terça-feira 16, a partida entre as seleções sub-21 da Inglaterra e da Sérvia, válida pelas eliminatórias do campeonato europeu da categoria, terminou em confusão. Durante a comemoração do gol da vitória da Inglaterra (por 1 a 0), o lateral-esquerdo Danny Rose provocou a torcida da cidade sérvia de Krusevac, iniciando uma briga entre jogadores dos dois times. Rose estava respondendo ao que chamou de “90 minutos de racismo” a que foi submetido diante da partida. O episódio não é uma novidade no futebol europeu, mas mostra que passou da hora de a União das Associações de Futebol Europeu (a Uefa) tomar ações decisivas contra atos de racismo, em particular o da torcida sérvia.

A federação de futebol da Sérvia adotou uma estratégia comum em casos de racismo: culpou a vítima. Em comunicado, a entidade acusou Rose de comportamento “antidesportivo e vulgar” e negou que tenha havido “qualquer ocorrência de racismo antes e durante o jogo”.

A reação da federação sérvia é, ao mesmo tempo, previsível e escandalosa. Previsível porque, como mostrou Franklin Foer no livro Como o futebol explica o mundo, o futebol é uma das ferramentas dos extremistas sérvios para expor suas ideias. Escandalosa porque, se a federação acoberta o racismo de sua própria torcida, o uso do futebol por extremistas passa a ser institucionalizado. É um sinal preocupante para um país que tenta deixar seu passado recente de atrocidades.

A Sérvia de hoje é resultado de uma sequência de guerras que deixou milhares de mortos e provocou a dissolução da Iugoslávia. As guerras foram lideradas por líderes nacionalistas e racistas como o sérvio Slobodan Milosevic (morto na prisão, em 2006) e o croata Franjo Tudjman (morto em 1999). No livro Origens de uma Catástrofe, Warren Zimmerman, embaixador dos Estados Unidos em Belgrado entre 1989 e 1992, explica que líderes como Milosevic e Tudjman ajudaram a desencadear uma perigosa forma de nacionalismo pós-comunista. Na Iugoslávia, as duas ideologias – ambas coletivistas, exclusivistas, militantes e hostis aos “inimigos”, que devem ser eliminados – se combinaram de forma perversa. Os líderes usaram mecanismos autoritários da ditadura comunista (polícia secreta e controle da imprensa, por exemplo) para defender causas nacionais. Isso somado ao ódio étnico reforçado por Milosevic provocou conflitos e massacres que deixaram cicatrizes enormes nas populações da ex-Iugoslávia.

Na Sérvia, as cicatrizes são particularmente mais graves pois muitos sérvios enxergam o país como vítima de uma conspiração norte-americana e europeia para separar a Iugoslávia e acabar com seu domínio sobre as outras repúblicas. Esses extremistas ignoram que o governo sérvio foi responsável por grande parte das atrocidades e tratam criminosos de guerra, como Ratko Mladic, Goran Hadzic e Radovan Karadzic, como heróis.

Entre 2004 e 2012, a Sérvia foi governada pelo Partido Democrático de Boris Tadic. Neste período, o governo tentou aproximar o país da União Europeia e da Otan. Em 2011, conseguiu prender Mladic e Hadzic, agora julgados em tribunais internacionais, mas pouco fez contra o “hooliganismo” dos torcedores de futebol. Neste ano, Tadic perdeu sua tentativa de reeleição. Foi derrotado por Tomislav Nikolic, ex-integrante de longa data do Partido Radical, herdeiro político dos crimes de guerra e da xenofobia de Slobodan Milosevic. Nikolic diz ser um moderado, capaz de levar o nacionalismo extremista para o centro do espectro político, mas nada indica que combaterá os extremistas infiltrados no futebol.

O esporte é uma das mais visíveis áreas de choque entre os extremistas sérvios e a Europa. Há episódios de racismo em todo o continente, desde a Rússia até a Espanha e inclusive na Inglaterra, mas a diferença é que os extremistas sérvios podem ultrapassar a por si só lamentável violência moral (da qual o inglês Danny Rose foi vítima) para gerar violência física. Em outubro de 2010, uma partida entre as seleções principais da Itália e da Sérvia foi adiada depois que “torcedores” sérvios queimaram uma bandeira da Albânia e ameaçaram invadir o gramado. Eles eram liderados por Ivan Bogdanov, um brutamonte que fazia saudações nazistas e acabou preso. Todo o racismo e a xenofobia devem ser combatidos pela Uefa, mas a entidade que comanda o futebol europeu precisa ser especialmente dura ao lidar com a “torcida” sérvia e com a federação local. Se não fizer isso, vai se calar diante da parte mais visível de um grupo que, cedo ou tarde, pode provocar violência irreparável.

Na noite de terça-feira 16, a partida entre as seleções sub-21 da Inglaterra e da Sérvia, válida pelas eliminatórias do campeonato europeu da categoria, terminou em confusão. Durante a comemoração do gol da vitória da Inglaterra (por 1 a 0), o lateral-esquerdo Danny Rose provocou a torcida da cidade sérvia de Krusevac, iniciando uma briga entre jogadores dos dois times. Rose estava respondendo ao que chamou de “90 minutos de racismo” a que foi submetido diante da partida. O episódio não é uma novidade no futebol europeu, mas mostra que passou da hora de a União das Associações de Futebol Europeu (a Uefa) tomar ações decisivas contra atos de racismo, em particular o da torcida sérvia.

A federação de futebol da Sérvia adotou uma estratégia comum em casos de racismo: culpou a vítima. Em comunicado, a entidade acusou Rose de comportamento “antidesportivo e vulgar” e negou que tenha havido “qualquer ocorrência de racismo antes e durante o jogo”.

A reação da federação sérvia é, ao mesmo tempo, previsível e escandalosa. Previsível porque, como mostrou Franklin Foer no livro Como o futebol explica o mundo, o futebol é uma das ferramentas dos extremistas sérvios para expor suas ideias. Escandalosa porque, se a federação acoberta o racismo de sua própria torcida, o uso do futebol por extremistas passa a ser institucionalizado. É um sinal preocupante para um país que tenta deixar seu passado recente de atrocidades.

A Sérvia de hoje é resultado de uma sequência de guerras que deixou milhares de mortos e provocou a dissolução da Iugoslávia. As guerras foram lideradas por líderes nacionalistas e racistas como o sérvio Slobodan Milosevic (morto na prisão, em 2006) e o croata Franjo Tudjman (morto em 1999). No livro Origens de uma Catástrofe, Warren Zimmerman, embaixador dos Estados Unidos em Belgrado entre 1989 e 1992, explica que líderes como Milosevic e Tudjman ajudaram a desencadear uma perigosa forma de nacionalismo pós-comunista. Na Iugoslávia, as duas ideologias – ambas coletivistas, exclusivistas, militantes e hostis aos “inimigos”, que devem ser eliminados – se combinaram de forma perversa. Os líderes usaram mecanismos autoritários da ditadura comunista (polícia secreta e controle da imprensa, por exemplo) para defender causas nacionais. Isso somado ao ódio étnico reforçado por Milosevic provocou conflitos e massacres que deixaram cicatrizes enormes nas populações da ex-Iugoslávia.

Na Sérvia, as cicatrizes são particularmente mais graves pois muitos sérvios enxergam o país como vítima de uma conspiração norte-americana e europeia para separar a Iugoslávia e acabar com seu domínio sobre as outras repúblicas. Esses extremistas ignoram que o governo sérvio foi responsável por grande parte das atrocidades e tratam criminosos de guerra, como Ratko Mladic, Goran Hadzic e Radovan Karadzic, como heróis.

Entre 2004 e 2012, a Sérvia foi governada pelo Partido Democrático de Boris Tadic. Neste período, o governo tentou aproximar o país da União Europeia e da Otan. Em 2011, conseguiu prender Mladic e Hadzic, agora julgados em tribunais internacionais, mas pouco fez contra o “hooliganismo” dos torcedores de futebol. Neste ano, Tadic perdeu sua tentativa de reeleição. Foi derrotado por Tomislav Nikolic, ex-integrante de longa data do Partido Radical, herdeiro político dos crimes de guerra e da xenofobia de Slobodan Milosevic. Nikolic diz ser um moderado, capaz de levar o nacionalismo extremista para o centro do espectro político, mas nada indica que combaterá os extremistas infiltrados no futebol.

O esporte é uma das mais visíveis áreas de choque entre os extremistas sérvios e a Europa. Há episódios de racismo em todo o continente, desde a Rússia até a Espanha e inclusive na Inglaterra, mas a diferença é que os extremistas sérvios podem ultrapassar a por si só lamentável violência moral (da qual o inglês Danny Rose foi vítima) para gerar violência física. Em outubro de 2010, uma partida entre as seleções principais da Itália e da Sérvia foi adiada depois que “torcedores” sérvios queimaram uma bandeira da Albânia e ameaçaram invadir o gramado. Eles eram liderados por Ivan Bogdanov, um brutamonte que fazia saudações nazistas e acabou preso. Todo o racismo e a xenofobia devem ser combatidos pela Uefa, mas a entidade que comanda o futebol europeu precisa ser especialmente dura ao lidar com a “torcida” sérvia e com a federação local. Se não fizer isso, vai se calar diante da parte mais visível de um grupo que, cedo ou tarde, pode provocar violência irreparável.

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