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Para diminuir consumo, associação em Paris ensina a consertar objetos

O “Repair Café” ensina os interessados a arrumar eletrodomésticos e brinquedos

Um ateliê do Repair Café no 13° distrito, em Paris
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Por Taíssa Stivanin

Pouco a pouco, a sala situada no liceu parisiense Lazare Ponticelli, no 13° distrito da capital, vai ficando lotada. Nas mesas, aspiradores, computadores e ferros de passar quebrados acompanhados de seus donos aguardam uma “consulta” com um dos voluntários da associação Repair Café.

Os voluntários são, na maior parte, engenheiros, que ajudam as pessoas a consertarem, ou melhor, darem uma “nova vida” a seus objetos. O conceito nasceu na Holanda e chegou em Paris em 2013. Hoje existem projetos similares na Bélgica e nos EUA.

Nessa tarde ensolarada de quarta-feira, cerca de 20 especialistas em eletrônica estão à disposição do público. “A fundadora do Repair Café na Holanda queria que as pessoas se reapropriassem de um know-how que existia há 50 anos e desapareceu. O público tem vontade de voltar a ter essa autonomia”, explica Stéphane Gauchon, representante da associação em Paris.

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Um dos objetivos da associação é também a luta contra a chamada obsolescência programada. O conceito refere-se a produtos lançados no mercado com um prazo de vida propositadamente curto. Dessa forma, vão quebrar mais rápido e estimular o consumidor a comprar novamente, o que gera mais lucros para as empresas mas também mais lixo eletrônico no meio-ambiente.

“O Repair Café foi criado por cidadãos que identificaram um problema, o de jogar muita coisa fora e o dos objetos que quebram rapidamente. Não há iniciativas na esfera política ou uma legislação a respeito”, diz Stéphane Gouchon. Segundo ele, essa é uma tendência europeia: os cidadãos percebem que, agindo coletivamente, podem lutar contra comportamentos nocivos para o meio-ambiente e para a própria população.

Aposentada de 69 anos vira voluntária

Alguns aprendem tanto nos ateliês que passam a trabalhar como voluntários. Um dos exemplos é a aposentada Monique Metayer, 69 anos, que depois de três anos frequentando a associação agora ajuda a consertar os eletrodomésticos em pane.

“Todo mundo pode aprender, é preciso só um pouco de boa vontade e ser meio faz-tudo. É convivial, eu já tenho uma certa idade, mas mesmo assim fui muito bem aceita”, conta a aposentada francesa, que explica sempre ter tido uma vocação para “consertar as coisas dentro de casa”.

Quando a reportagem da RFI Brasil chegou ao ateliê, o engenheiro Bertrand Casnabet, que integrou a associação há uma semana, consertava o leitor de memória do PC da jovem Odete. “É bom aprender, mas eu seria incapaz”, brincou. Bertrand discorda. “Você já tem uma qualidade essencial, suas mãos não tremem”, responde, tentando convencer Odete a consertar seu próprio computador.

Compartilhar, aprender e também diminuir o consumo. Esses são alguns dos vários objetivos da associação que inspiraram Chantal, que depois de frequentar os ateliês também se tornou voluntária. “É uma pena jogar as coisas fora se elas podem ser consertadas”, observa. “Prefiro tentar arrumar. Já que está quebrado mesmo, não perco nada tentando. O objetivo é consumir de maneira mais inteligente. Se todo mundo fizer isso, podemos obter mudanças”.

Nesses quatro anos de existência, o Repair Café também coleciona histórias emocionantes. Uma delas, lembra o representante da associação, Stéphane Gouchon, é a de uma mulher que trouxe um urso de pelúcia falante quebrado, que pertenceu a sua filha, hoje nos Estados Unidos, na infância. O brinquedo foi consertado em um dos ateliês e entregue em seu aniversário. “Temos muitas histórias belas como essa”.

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