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Nos EUA de Trump, os “dreamers” não se entregam

Casa Branca encerra programa de proteção aos “sonhadores” que chegaram aos EUA quando crianças

Imigrantes e apoiadores em protesto a favor do Daca em Los Angeles, na terça-feira 5
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Justino Mora chegou aos Estados Unidos com 11 anos: sua mãe, fugindo da pobreza e da violência doméstica no México, cruzou a fronteira em busca de uma vida melhor para seus três filhos.

Mora tem hoje 28 anos e até o momento se beneficiava com o Daca, o programa que protegia da deportação cerca de 800 mil imigrantes ilegais que chegaram aos Estados Unidos ainda crianças e que na terça-feira 5 foi revogado pelo presidente Donald Trump.

Surpreso? “É claro” – responde o jovem cientista político e ativista pelos direitos dos imigrantes, mas recordando que Trump chegou ao poder prometendo deportar 11 milhões de imigrantes ilegais e construir um muro na fronteira com o México. “Mas não podemos nos dar por vencidos, este é o início de uma nova batalha por nossos direitos”, afirma.

O procurador-geral, Jeff Sessions, anunciou o fim do plano de Ação Diferida para os Chegados na Infância (Daca, sigla em inglês), criado pelo então presidente Barack Obama em junho de 2012, argumentando que a medida é “inconstitucional” e tirou o trabalho de milhares de cidadãos americanos.

A administração Trump não cancelará o Daca imediatamente, mas deixará que as permissões expirem nos próximos meses, sem renová-las. No caso de Mora, a permissão vencerá em outubro de 2018.

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Assim, a menos que o Congresso aprove uma nova legislação sobre o tema, os beneficiários do programa – que formalizaram sua situação nos EUA – ficarão em situação ilegal no país.

Obama qualificou a decisão de “equivocada” e “cruel”, enquanto o governo mexicano pediu uma “rápida solução” do Congresso que resolva a incerteza jurídica dos envolvidos. Grandes empresas do Vale do Silício, como Apple, Facebook e Google, também condenaram a decisão.

“Sou um ser humano”

“Vergonha”, “Trump, você é um covarde”, “Meus sonhos não são ilegais” – diziam alguns cartazes em um pequeno protesto em Los Angeles. A Califórnia é o estado com o maior número de beneficiários do Daca: cerca de 200 mil.

“O que você fez é imoral, uma decisão covarde, irresponsável”, declarou em uma mensagem a Trump a diretora da Coalizão Pró-Direitos Humanos do Imigrante (Chirla), Angélica Salas. “O que você fez hoje foi destruir centenas de milhares de vidas, de jovens. Se meteu com os mais jovens dos Estados Unidos, os vulneráveis, os que têm menos de 15 anos e agora ficarão desprotegidos”.

Imigrantes nos EUA Ato contra a decisão de Trump em Nova York, na quarta-feira 5, reuniu milhares

Em outra manifestação, diante da Casa Branca, em Washington, Greisa Martínez Rosas, de 28 anos, que chegou com seus pais há oito anos procedente do México e hoje milita na organização “United We Dream” declarou: “Sou um ser humano e parte da sociedade, não nos mandarão novamente para as sombras, resistiremos, somos fortes”.

Também participaram do protesto os irmãos Ángel e Jennifer Romero, vindos do México quando crianças. “É um grande medo, a possibilidade de voltar ao meu país natal (…). Não me lembro de nada de lá”, disse Ángel.

“Meu futuro é aqui”

“O Congresso não tem outra opção que salvar estes meninos”, declarou Beth Werlin, diretora-executiva do American Immigration Council.

Mas Obama firmou o Daca justamente porque o Congresso não conseguiu aprovar uma lei sobre os imigrantes ilegais chegados quando pequenos.

“O Daca mudou minha vida”, disse Martín Batalla Vidal, um “dreamer” de 27 anos que chegou do México aos 7 anos e hoje estuda enfermagem em Nova York. “Agora preciso pensar no que vai acontecer quando me formar. Estou chocado, mas vamos lutar e talvez, vencer”.

Iván Ceja, mexicano de 26 anos e companheiro de Mora na ONG Undocumedia, tem convicção de que ficará na mira para a deportação, “mas se isto acontecer, farei o possível para voltar, cruzar a fronteira, porque este é o único país que conheço, meu futuro está aqui e não parto sem antes lutar”. O “mexicano” Ceja chegou aos Estados Unidos em 1992, com apenas 9 meses de idade.

*Leia mais na AFP

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