Mundo

No Parlamento alemão, todos querem distância da extrema-direita

Ninguém quer se sentar ao lado dos deputados da AfD, e uma regra foi alterada para evitar que um eleito do partido presida a sessão de abertura

Os representantes dos outros partidos temem que a AfD baixe o nível dos debates
Apoie Siga-nos no

O muito provável ingresso do partido populista de direita Alternativa para a Alemanha (AfD) no Bundestag (Parlamento) gera desconforto entre as demais legendas políticas antes mesmo da eleição do domingo, 24 de setembro.

É a primeira vez que um partido populista-nacionalista estará representado no Parlamento alemão no pós-Guerra, e é grande o debate sobre como lidar com essa situação. Ao menos uma decisão prática já foi tomada.

A regra vigente até algumas semanas atrás determinava que o deputado mais velho presidisse a sessão de abertura da legislatura até a eleição do presidente do Bundestag. Agora, essa honra caberá ao deputado mais antigo, ou seja, aquele que está há mais tempo na casa parlamentar.

Pela regra anterior era muito provável que a sessão de abertura fosse presidida por um deputado da AfD, Wilhelm von Gottberg, de 77 anos. Von Gottberg, ex-integrante da CDU, chamou o Holocausto de “instrumento eficaz para a criminalização dos alemães e de sua história”.

Ainda que oficialmente os deputados rejeitem essa justificativa, está claro que a regra protocolar foi alterada para evitar que uma pessoa que fez declarações desse tipo presida a sessão de abertura da nova legislatura no Parlamento alemão.

E isso não é tudo. Uma briga pré-programada para a próxima legislatura é a eleição dos vice-presidentes do Bundestag. Pela regra, cada partido tem direito a um vice-presidente.

É possível que também essa regra venha a ser alterada para evitar que um deputado da AfD se torne vice do segundo cargo mais alto do Estado alemão. Ou, como o posto depende da aprovação do plenário, os deputados rejeitarão candidatos da AfD até se chegar a um menos radical ou simplesmente protelarão a escolha.

E há ainda as comissões parlamentares, onde os partidos estão representados de acordo com o tamanho de suas bancadas. A presidência de algumas dessas comissões também poderá caber à AfD, incluída a poderosa comissão orçamentária caso o partido populista se torne a terceira força do Parlamento e as duas maiores bancadas, CDU/CSU e SPD, reeditem a grande coalizão de governo.

Nessa situação, a AfD seria líder da oposição, a quem, de praxe, cabe a presidência da comissão orçamentária. É possível que essa regra também seja alterada.

E antes de tudo isso há uma questão prática a ser decidida: onde os deputados da AfD vão se sentar no plenário? CDU e CSU não querem os populistas a seu lado, na posição mais à direita, com o argumento de que, assim, a AfD estaria de frente para os assentos ocupados pelos representantes do governo.

Leia Mais:
O Vale do Silício não está interessado em direitos trabalhistas

No outro extremo, o partido A Esquerda não quer de jeito nenhum a AfD por perto. O meio é desde já reivindicado pelo Partido Liberal Democrático (FDP), e muitos deputados argumentam que colocar a AfD nessa posição transmitiria uma mensagem equivocada, pois se trata de um lugar de destaque.

A experiência com os parlamentos regionais mostra que o tom dos debates parlamentares se eleva com a presença da AfD. Resta saber se isso acontecerá também no Bundestag. Alguns deputados, como a esquerdista Petra Sitte, acreditam que sim. “Se a AfD entrar no Bundestag, contamos com uma queda no linguajar e uma elevação do tom dos debates”, declarou.

ENTENDA MAIS SOBRE: , ,

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo

Apoie o jornalismo que chama as coisas pelo nome

Os Brasis divididos pelo bolsonarismo vivem, pensam e se informam em universos paralelos. A vitória de Lula nos dá, finalmente, perspectivas de retomada da vida em um país minimamente normal. Essa reconstrução, porém, será difícil e demorada. E seu apoio, leitor, é ainda mais fundamental.

Portanto, se você é daqueles brasileiros que ainda valorizam e acreditam no bom jornalismo, ajude CartaCapital a seguir lutando. Contribua com o quanto puder.

Quero apoiar