Mundo

Mulheres, jovens e minorias garantiram a reeleição de Obama

Para se tornar uma opção viável, o Partido Republicano precisa rediscutir suas propostas e relação com os eleitores

Músicos "mariachis" cantam de casa em casa em distrito majoritariamente latino de Los Angeles, na terça-feira 6, encorajando a população a votar. Foto: Joe Klamar / AFP
Apoie Siga-nos no

Reeleito presidente dos Estados Unidos por mais quatro anos, Barack Obama conseguiu sua vitória graças às vantagens que obteve entre os jovens, as mulheres e as minorias (negros e hispânicos). Foi nesses grupos, tradicionalmente pendentes ao Partido Democrata, que o presidente se distanciou de forma significativa do republicano Mitt Romney. Os resultados mostraram que Obama continuará a presidir um país altamente dividido e que o Partido Republicano precisará atualizar suas ideias para voltar a ser uma alternativa viável.

De acordo com os números do National Election Pool (NEP), um consórcio de empresas de mídia dos Estados Unidos, os jovens (entre 18 e 29 anos) representaram 19% dos eleitores neste ano, uma margem alta, acima da média das eleições norte-americanas e parecida apenas com a registrada em 2008 (18%). Obama conseguiu uma vitória representativa neste grupo – de 60% contra 37% de Romney. Entre as mulheres (53% do eleitorado total), Obama venceu Romney por 55% a 44%.

As vantagens entre os contingentes de eleitores negros e hispânicos também foram decisivas para Obama. Segundo os números do NEP, os “não brancos” representaram 28% dos eleitorado em 2012 (eram 26% em 2008). Como ocorreu há quatro anos, quando Obama derrotou John McCain, o democrata obteve 80% dos votos entre esses eleitores. Entre os negros, Obama teve 93% dos votos (contra 95% em 2008). Entre os hispânicos, teve 71% (67% em 2008). Esses grupos foram particularmente importantes em dois Estados-chave fundamentais na vitória de Obama, a Flórida e Ohio. Em Ohio, 15% dos eleitores eram negros, contra 11% de 2008. Na Flórida, os hispânicos eram 17% do eleitorado, contra 14% em 2008.

“Muito velho, muito branco e muito masculino”

Se Obama venceu entre jovens, mulheres e minorias, onde Romney obteve vantagens? O republicano não conseguiu fugir da principal base de seu partido atualmente. Segundo a estimativa do instituto de pesquisa Pew Research baseada nos números do NEP, 89% dos votos de Romney são de “brancos não-hispânicos”. O ex-governador de Massachusetts venceu entre os homens (por 52% a 45%), entre os brancos (59% a 39%), entre os eleitores com idades de 45 a 64 anos (51% a 47%) e entre aqueles com mais de 65 anos (56% a 44%).

Esses resultados acenderam o sinal de alerta no Partido Republicano. “Nosso partido precisa entender que está muito velho, muito branco e muito masculino e que precisa descobrir como acompanhar a demografia de nosso país antes que seja tarde demais”, disse ao site Politico Al Cardenas, chefe da União Conservadora Americana. “Nosso partido tem muito trabalho a fazer se queremos ser competitivos no futuro próximo”, afirmou.

O alerta de Cardenas é muito claro. Se os republicanos não conseguirem modular seu discurso e suas práticas de forma a se tornarem uma opção mais palatável às minorias, vão continuar perdendo terreno. Nas contas do jornal The Washington Post, o Partido Republicano tem hoje um teto de votos que pode obter no Colégio Eleitoral, de 292 votos (equivalente aos 286 que George W.Bush conseguiu em sua reeleição, em 2004). Como um presidente precisa de 270 votos para ser eleito, a margem de erro dos republicanos está ficando cada vez menor. Essa situação se complicará à medida que os anos passarem, pois a tendência demográfica dos Estados Unidos é que a população branca diminua de tamanho, enquanto a hispânica e a negra continuem crescendo.

“Matemática e decência moral”

Nesta eleição ficou claro que Estados antes considerados conservadores (e portanto pró-republicanos), como Colorado, Flórida, Nevada e Virgínia estão cada vez mais se tornando Estados-chave onde os democratas também podem vencer. Com altos índices de imigração hispânica, o Arizona, que não elege um democrata desde 1996, pode se tornar um Estado-chave em 2016 e o Texas, que só elegeu republicanos desde 1976, poderia pender para o lado democrata em 2020. Também ao site Politico, Matt Schlapp, ex-auxiliar de Bush, afirmou que os republicanos precisam ir atrás dos votos da comunidade hispânica pois “é obrigatório do ponto de vista demográfico e o certo a se fazer”. “É uma questão matemática e de decência moral básica”, afirmou.

Se o diagnóstico do problema republicano está feito, qual é o tratamento? Em primeiro lugar, o partido precisa de candidatos capazes de gerar uma identificação com as minorias. Uma dessas lideranças pode ser Jeb Bush, irmão de George W. e um ex-governador da Flórida bastante popular. Outro nome importante pode ser o de Marco Rubio, senador pela Flórida e filho de cubanos.

Em segundo lugar, o partido precisa lidar com um dilema claro, exposto pelo historiador Timothy Stanley no site da tevê CNN. Segundo Stanley, por um lado os republicanos têm uma enorme base de eleitores que se descrevem obstinadamente como conservadores do ponto de vista econômico e social. Por outro, precisa dos moderados capazes de dar a vitória ao partido. Para combinar essas duas necessidades, o partido terá muito trabalho. Ao tentar fazer isso em 2012, Romney pendeu mais para a direita do Partido Republicano e fez com que os eleitores do centro questionassem se ele era um moderado ou um conservador. Romney fez isso em dois assuntos em particular: ao defender tratamento draconiano para os imigrantes (o que atinge diretamente o eleitor hispânico) e ao criticar duramente a reforma da saúde de Obama (que beneficiava diretamente as mulheres).

Completa o quadro de exigências para o Partido Republicano a necessidade de entender o seu próprio eleitor. Romney e outros integrantes do partido passaram os últimos anos criticando o resgate das montadoras General Motors e Chrysler, realizado por Obama meses depois de assumir a Casa Branca. O plano custou bilhões de dólares ao Tesouro americano, mas salvou milhares de empregos nos Estados Unidos. Os republicanos foram incapazes de entender que, apesar de serem ideologicamente contra o resgate, boa parte da população norte-americana era favorável a ele.

O resultado foi dado nas urnas: no Estado do Michigan, onde Romney nasceu e tinha grandes expectativas, ele foi derrotado por Obama. Fica no Michigan a cidade de Detroit, coração da indústria automotiva norte-americana. Fenômeno parecido ocorreu em Ohio. No Estado-chave, onde Obama conseguiu grande votação entre a população negra, o presidente venceu também entre os brancos (por três pontos percentuais). Essa população branca de Ohio, além de contar muito com a indústria automobilística, está longe de ser rica. É uma maioria de classe baixa e média, trabalhadores, representantes dos 47% de norte-americanos que não pagam impostos e foram ironizados por Romney no famigerado vídeo em que confraternizava com doadores milionários. São eleitores que poderiam votar em Romney, mas se sentiram desprezados por Romney e preferiram manter o atual presidente, um homem aparentemente capaz de entender os dramas da maioria da população norte-americana.

Reeleito presidente dos Estados Unidos por mais quatro anos, Barack Obama conseguiu sua vitória graças às vantagens que obteve entre os jovens, as mulheres e as minorias (negros e hispânicos). Foi nesses grupos, tradicionalmente pendentes ao Partido Democrata, que o presidente se distanciou de forma significativa do republicano Mitt Romney. Os resultados mostraram que Obama continuará a presidir um país altamente dividido e que o Partido Republicano precisará atualizar suas ideias para voltar a ser uma alternativa viável.

De acordo com os números do National Election Pool (NEP), um consórcio de empresas de mídia dos Estados Unidos, os jovens (entre 18 e 29 anos) representaram 19% dos eleitores neste ano, uma margem alta, acima da média das eleições norte-americanas e parecida apenas com a registrada em 2008 (18%). Obama conseguiu uma vitória representativa neste grupo – de 60% contra 37% de Romney. Entre as mulheres (53% do eleitorado total), Obama venceu Romney por 55% a 44%.

As vantagens entre os contingentes de eleitores negros e hispânicos também foram decisivas para Obama. Segundo os números do NEP, os “não brancos” representaram 28% dos eleitorado em 2012 (eram 26% em 2008). Como ocorreu há quatro anos, quando Obama derrotou John McCain, o democrata obteve 80% dos votos entre esses eleitores. Entre os negros, Obama teve 93% dos votos (contra 95% em 2008). Entre os hispânicos, teve 71% (67% em 2008). Esses grupos foram particularmente importantes em dois Estados-chave fundamentais na vitória de Obama, a Flórida e Ohio. Em Ohio, 15% dos eleitores eram negros, contra 11% de 2008. Na Flórida, os hispânicos eram 17% do eleitorado, contra 14% em 2008.

“Muito velho, muito branco e muito masculino”

Se Obama venceu entre jovens, mulheres e minorias, onde Romney obteve vantagens? O republicano não conseguiu fugir da principal base de seu partido atualmente. Segundo a estimativa do instituto de pesquisa Pew Research baseada nos números do NEP, 89% dos votos de Romney são de “brancos não-hispânicos”. O ex-governador de Massachusetts venceu entre os homens (por 52% a 45%), entre os brancos (59% a 39%), entre os eleitores com idades de 45 a 64 anos (51% a 47%) e entre aqueles com mais de 65 anos (56% a 44%).

Esses resultados acenderam o sinal de alerta no Partido Republicano. “Nosso partido precisa entender que está muito velho, muito branco e muito masculino e que precisa descobrir como acompanhar a demografia de nosso país antes que seja tarde demais”, disse ao site Politico Al Cardenas, chefe da União Conservadora Americana. “Nosso partido tem muito trabalho a fazer se queremos ser competitivos no futuro próximo”, afirmou.

O alerta de Cardenas é muito claro. Se os republicanos não conseguirem modular seu discurso e suas práticas de forma a se tornarem uma opção mais palatável às minorias, vão continuar perdendo terreno. Nas contas do jornal The Washington Post, o Partido Republicano tem hoje um teto de votos que pode obter no Colégio Eleitoral, de 292 votos (equivalente aos 286 que George W.Bush conseguiu em sua reeleição, em 2004). Como um presidente precisa de 270 votos para ser eleito, a margem de erro dos republicanos está ficando cada vez menor. Essa situação se complicará à medida que os anos passarem, pois a tendência demográfica dos Estados Unidos é que a população branca diminua de tamanho, enquanto a hispânica e a negra continuem crescendo.

“Matemática e decência moral”

Nesta eleição ficou claro que Estados antes considerados conservadores (e portanto pró-republicanos), como Colorado, Flórida, Nevada e Virgínia estão cada vez mais se tornando Estados-chave onde os democratas também podem vencer. Com altos índices de imigração hispânica, o Arizona, que não elege um democrata desde 1996, pode se tornar um Estado-chave em 2016 e o Texas, que só elegeu republicanos desde 1976, poderia pender para o lado democrata em 2020. Também ao site Politico, Matt Schlapp, ex-auxiliar de Bush, afirmou que os republicanos precisam ir atrás dos votos da comunidade hispânica pois “é obrigatório do ponto de vista demográfico e o certo a se fazer”. “É uma questão matemática e de decência moral básica”, afirmou.

Se o diagnóstico do problema republicano está feito, qual é o tratamento? Em primeiro lugar, o partido precisa de candidatos capazes de gerar uma identificação com as minorias. Uma dessas lideranças pode ser Jeb Bush, irmão de George W. e um ex-governador da Flórida bastante popular. Outro nome importante pode ser o de Marco Rubio, senador pela Flórida e filho de cubanos.

Em segundo lugar, o partido precisa lidar com um dilema claro, exposto pelo historiador Timothy Stanley no site da tevê CNN. Segundo Stanley, por um lado os republicanos têm uma enorme base de eleitores que se descrevem obstinadamente como conservadores do ponto de vista econômico e social. Por outro, precisa dos moderados capazes de dar a vitória ao partido. Para combinar essas duas necessidades, o partido terá muito trabalho. Ao tentar fazer isso em 2012, Romney pendeu mais para a direita do Partido Republicano e fez com que os eleitores do centro questionassem se ele era um moderado ou um conservador. Romney fez isso em dois assuntos em particular: ao defender tratamento draconiano para os imigrantes (o que atinge diretamente o eleitor hispânico) e ao criticar duramente a reforma da saúde de Obama (que beneficiava diretamente as mulheres).

Completa o quadro de exigências para o Partido Republicano a necessidade de entender o seu próprio eleitor. Romney e outros integrantes do partido passaram os últimos anos criticando o resgate das montadoras General Motors e Chrysler, realizado por Obama meses depois de assumir a Casa Branca. O plano custou bilhões de dólares ao Tesouro americano, mas salvou milhares de empregos nos Estados Unidos. Os republicanos foram incapazes de entender que, apesar de serem ideologicamente contra o resgate, boa parte da população norte-americana era favorável a ele.

O resultado foi dado nas urnas: no Estado do Michigan, onde Romney nasceu e tinha grandes expectativas, ele foi derrotado por Obama. Fica no Michigan a cidade de Detroit, coração da indústria automotiva norte-americana. Fenômeno parecido ocorreu em Ohio. No Estado-chave, onde Obama conseguiu grande votação entre a população negra, o presidente venceu também entre os brancos (por três pontos percentuais). Essa população branca de Ohio, além de contar muito com a indústria automobilística, está longe de ser rica. É uma maioria de classe baixa e média, trabalhadores, representantes dos 47% de norte-americanos que não pagam impostos e foram ironizados por Romney no famigerado vídeo em que confraternizava com doadores milionários. São eleitores que poderiam votar em Romney, mas se sentiram desprezados por Romney e preferiram manter o atual presidente, um homem aparentemente capaz de entender os dramas da maioria da população norte-americana.

ENTENDA MAIS SOBRE: , , , ,

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo

Um minuto, por favor…

O bolsonarismo perdeu a batalha das urnas, mas não está morto.

Diante de um país tão dividido e arrasado, é preciso centrar esforços em uma reconstrução.

Seu apoio, leitor, será ainda mais fundamental.

Se você valoriza o bom jornalismo, ajude CartaCapital a seguir lutando por um novo Brasil.

Assine a edição semanal da revista;

Ou contribua, com o quanto puder.

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo