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Igreja lidera movimento contra casamento homossexual na França

Protesto em Paris não afetará a adoção de lei que permitirá matrimônio gay e adoção homoparental

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De Paris

Quem diria? Uma lei inserida em 1905 na Constituição desta República que estabeleceu a separação entre a Igreja Católica e o Estado não é respeitada.

O presidente François Hollande é inflexível em relação ao projeto de lei que permitirá o casamento homossexual e a adoção homoparental a partir de junho.

No entanto, o cardeal de Paris, André Vingt-Trois, faz suas as palavras do papa: “O casamento gay é um abuso da laicidade”.

E, assim, no domingo 13 a igreja liderou um protesto contra o casamento gay e a adoção homoparental em Paris. O poder de mobilização dos líderes católicos ficou claro diante dos números de participantes: 800 mil segundo os organizadores, enquanto a polícia fala em 340 mil.

Em outras manifestações nos anos 1980 a Igreja Católica perdeu outra contenda, quando o ensino público tornou-se laico.

Desta feita, estima o cardeal de Paris, os socialistas foram longe demais. Não, a luta contra o casamento gay não é política e nem religiosa – ela é social. Ou pelo menos é isso que alega André Vingt-Trois.

O cardeal, convenhamos, é no mínimo hábil. Sem fazer maiores esforços, ele angariou o apoio de rabinos, líderes muçulmanos, evangélicos conservadores, embora tenha falhado em relação aos budistas. O objetivo do cardeal foi transparente: demonstrar que a iniciativa do protesto de domingo não foi da Igreja Católica.

O cardeal também se revelou sutil ao aconselhar a não participação de líderes das igrejas no protesto de domingo. Os representantes de diferentes confissões participaram como meros cidadãos. E, assim, evitou reportagens sobre a conspícua queda de braço entre a Igreja e o governo socialista.

Por sua vez, o cardeal se limitou a saudar os manifestantes pouco antes do início do protesto. O gesto, contudo, foi simbólico: a multidão, que convergiu de vários pontos da capital para a Torre Eiffel, recebeu a benção da Igreja Católica.

Participaram 34 associações com nomes como SOS papai, e Aliança Vida. Diários direitistas como o Le Figaro publicaram, entre outros, uma foto de um casal com duas crianças empunhando uma faixa na qual se lia: “A família é sagrada”.

Políticos pegaram carona para desafiar o presidente socialista. O ex-primeiro-ministro conservador François Fillon escreveu uma carta aberta na qual pediu para o presidente Hollande desistir da lei favorável ao casamento gay.

O motivo, segundo Fillon, é que a França está dividida. Outro líder da União por um Movimento Popular (UMP) argumentou que Hollande errou ao não consultar o povo em um referendo. Rebateu Christiane Taubira, ministro da Justiça: “A Constituição é específica sobre as áreas nas quais um referendo é possível. Esse não é o caso”.

Mas, de fato, o país está, como diz Fillon, dividido. Segundo uma recente enquete realizada pela BVA, 58% dos franceses aprova o casamento gay, ante 63% no ano passado. Por outro lado, 50% entre aqueles interrogados não desaprova a adoção homoparental, ante 56% em 2011.

Para os inimigos da adoção homoparental, crianças criadas por casais gay têm problemas sociais e psicológicos. No entanto, em entrevista para o website Mediapart, a socióloga Martine Gross observou que desde os anos 1970 associações norte-americanas de psicologia, psiquiatria e pediatria provam que não há diferenças entre crianças de famílias homoparentais e aquelas oriundas de lares heterossexuais.

A Igreja Católica venceu, porém, uma batalha: o governo teve de postergar a adoção de um plano para permitir a casais de lésbicas o acesso à inseminação artificial. Mesmo assim, no próximo dia 29 o projeto de lei a aprovar o casamento gay e a adoção homoparental será aprovado pela maioria socialista no Parlamento.

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