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Harry Potter contra Donald Trump

Pesquisa da Universidade da Pensilvânia conclui que exposição aos livros criados por J.K. Rowling aumenta rejeição às ideias do candidato republicano

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Pesquisa da Universidade da Pensilvânia, nos Estados Unidos, concluiu que os leitores da saga Harry Potter não cultivam simpatia pelo candidato republicano à presidência nos Estados Unidos, Donald Trump.

J.K Rowling, a autora do império (apenas os livros venderam 450 milhões de cópias no mundo todo) iniciado com o livro Harry Potter e a Pedra Filosofal, publicado em 1997, também não é fã. Em dezembro de 2015, após ouvir diversas comparações entre o magnata e o vilão da série, Rowling tuitou: “Que horrível. Voldemort não era tão ruim”.

Alguns adeptos do republicano, porém, parecem ter abraçado a ideia. Há, inclusive, pôsteres a venda com a foto do candidato diante de um fundo com a bandeira americana e uma citação do próprio Lorde das Trevas: “Não existe bem ou mal, existe apenas o poder e aqueles que são fracos demais para buscá-lo”.

Atualmente, há poucas pesquisas que buscam conectar a possível influência de obras de ficção, ainda que muito bem-sucedidas em termos de público, nas visões políticas de seus consumidores.

Publicada no jornal PS: Political Science and Politicsa pesquisa “Harry Potter and the Deathly Donald” busca analisar a questão de como mensagens de obras de ficção podem influenciar nos valores e nas opiniões políticas de sua audiência. A conclusão foi que leitores de Harry Potter são mais inclinados a não nutrir simpatia pelo republicano – a conclusão perpassa as variantes de idade, gênero, educação, filiação política, ideologia e religião.  

Coordenado pela professora de Ciências Políticas da Universidade da Pensilvânia Diana Mutz, o estudo utilizou dados coletados em duas pesquisas com 1142 americanos, realizadas em 2014 e 2016. 

Em 2014, um levantamento inicial mediu a exposição dos participantes da pesquisa aos livros e aos filmes da série Harry Potter. Em seguida, outra levantamento conduzido em 2016 pediu aos pesquisados que avaliassem em uma escala seus sentimentos com relação a Trump em uma escala de 0 (desfavorável) a 100 (favorável).

De acordo com os pesquisadores, assistir aos filmes não causou impacto significativo sobre as impressões dos participantes sobre o candidato republicano. Por outro lado, ler os livros, sim. Possivelmente, tal cenário está relacionado com os diferentes tipos de impactos causados por diferentes mídias.

As visões de Trump e Daquele-Que-Não-Deve-Ser-Nomeado 

Apesar de intensas discussões sobre a “agenda política e ideológica” dos livros e de sua autora, há consenso em pelo menos três pontos principais: há a defesa por valores de tolerância e respeito com o diferente, oposição à violência e ao punitivismo e alerta aos perigos do autoritarismo. Os mesmos três temas emergiram durante a campanha presidencial de Donald Trump.

“Como as visões de Trump são diametralmente opostas aos valores proferidos pela série Harry Potter, a exposição aos livros pode ter um papel central em como os americanos respondem a Donald Trump”, escreveram os pesquisadores.

Com relação ao respeito às minorias e às diferenças, há diversos casos nos livros que norteiam a discussão. Uma das melhores amigas do protagonista, Hermione Granger, cria uma associação para lutar pelos direitos dos Elfos Domésticos. Ao mesmo tempo, durante seu reinado, Voldemort defendia que apenas bruxos “puros” deveriam atuar, defendendo a erradicação de bruxos com sangue “trouxa” (como são chamadas pessoas nascidas sem o dom da magia neste universo ficcional) e os “trouxas” em si.

Na série, é relatado um clima de medo entre as pessoas, que temiam ser prejudicadas por ter sangue “impuro” ou simpatizar com aqueles dotados desta característica.

O estudo compara as falas de Voldemort e de Trump sobre diversidade, destacando as posições anti-imigração e misóginas do político.

Outro ponto central da mitologia criada pela série é a oposição ao pensamento autoritário. A similaridade entre Voldemort e Adolf Hitler é constantemente lembrada pela base de fãs e já foi endossada pela própria autora. Entre os componentes autoritários expressados pelo candidato republicano, estão a promessa de ordem e dominação sobre possíveis inimigos que ameacem os EUA. “Assim como Voldemort, Trump constrói a imagem de um ‘homem forte’ capaz de subjugar outros, sejam eles o governo chinês ou grupos terroristas”, escrevem os pesquisadores.

O estudo ressalta os limites de uma pesquisa feita com uma base pequena e dos perigos de generalizar sua aplicação. Há também alguns trechos bastante editorializados na pesquisa, com posições anti-Trump. No entanto, o estudo sugere que as mensagens de tolerância e de defesa de grupos menos favorecidos presentes nos livros pode, sim, ter influenciado os ideias de uma geração de fãs. 

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