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Ex-porta-voz de Cameron é preso por suposto perjúrio

Justiça e mídia britânicas servem de modelos para o Brasil onde é praticado o jornalismo de Policarpo Jr. da Veja

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Nesta manhã de quarta-feira 30, Andy Coulson, ex-porta-voz do premier britânico David Cameron e ex-editor do tabloide News of the World (NOW) foi preso por perjúrio. Motivo: quando já estava no segundo ano no posto de porta-voz de Cameron ofereceu um falso testemunho: em um tribunal disse não estar a par de que o NOW usava escutas ilegais. Isso a despeito de jornalistas e um detetive do tabloide NOW, do magnata Rupert Murdoch, terem sido presos por utilizarem esse método então sob direção de Coulson, hoje com 44 anos. O caso foi grave a ponto de o tabloide ter sido tirado de circulação pelas autoridades.

Murdoch, o magnata mais poderoso do Reino Unido, 81 anos, tem sido interrogado horas a fio pela comissão parlamentar do Inquérito Leveson, o qual busca, desde o final do ano passado, se aprofundar mais na nebulosa relação da mídia com políticos e funcionários públicos.

Eis algumas questões: Murdoch queria favorecer Cameron nas últimas legislativas a qualquer custo? Ele sabia sobre as escutas ilegais, prática que, suspeitam os investigadores, poderia ser utilizada por outros de seus meios de comunicações, inclusive nos Estados Unidos?

Enquanto isso, em solo canarinho a CPI do Cachoeira hesita em convocar o patrão da Editora Abril, Roberto Civita, de 75 anos, e Policarpo Jr., diretor da sucursal da revista Veja (do grupo Abril). Eles, muito provavelmente, não darão o ar da graça na CPI do Cachoeira. Policarpo Jr., vale recapitular, trocou ligações com Carlinhos Cachoeira, o bicheiro goiano atualmente atrás das grades.

Civita sabia que Policarpo Jr. usava como parceiro de reportagem um bicheiro com estreitos elos (às vezes acompanhados de subornos) com um senador, deputados, governadores e uma empreiteira?

Sabiam Civita e Policarpo Jr. que o uso da fonte criminosa por parte do chefe da sucursal da capital fugia à uma regra básica do jornalismo – a de apurar as duas ou mais versões da mesma história?

O objetivo de Policarpo Jr., através do bicheiro goiano, era este: dar furos a envolver os inimigos “esquerdistas” da mídia tucana, principalmente petistas.

É isso que chamamos de jornalismo no Brasil?

Embora esteja agora interessado em falar sobre sua relação com Policarpo Jr. na CPI, Carlinhos Cachoeira está longe de ser o garganta profunda, o agente do FBI que deu suficientes informações para Bob Woodward e Carl Bernstein, do diário Washington Post, desvendarem o caso Watergate, o escândalo de escutas ilegais que derrubou o presidente norte-americano Richard Nixon em 1974.

Ao mesmo tempo, Coulson e Policarpo Jr. estão longe de ser Bob Woodward ou Carl Bernstein. De saída, a fonte de Woodward e Bernstein era mais crível.

No entanto, e vale repetir, a Justiça, e basta ver como se comporta agora o ministro Gilmar Mendes, ex-presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), está muito aquém daquela do Reino Unido, que não evita interrogar jornalistas.

Aqui, Policarpo Jr. não precisa se defender. Esconde-se atrás de editorais de seus amigos a defendê-lo com unhas de dentes.

Não: Policarpo Jr. não será interrogado como Coulson, o qual na segunda vez em que é preso pagará fiança (provavelmente já pagou enquanto essas linhas estão sendo escritas) e irá para casa.

Civita, por sua vez, também não comparecerá à CPI do Cachoeira. Jornalões e a tevê Globo fecham-se em copas para que isso não aconteça. Os motivos são dois. O bicheiro, atualmente atrás das grades, favorecia os “furos” a envolver os inimigos “esquerdistas” da mídia tucana (tradução: das elites tucanas). Segundo motivo: jornalistas de outros órgãos da mídia também obtinham seus “furos” de Cachoeira.

Mesmo não sendo a selva a reinar na Justiça e mídia no Brasil, o reinado de Elizabeth II também não é nenhuma maravilha. Até que ponto Cameron estava a par que seu porta-voz Coulson sabia sobre as escutas ilegais do NOW? Mais: de que forma Coulson, ex-funcionário de Murdoch, contribuiu para a vitória do conservador Cameron?

A Justiça britânica e o comportamento dela com a mídia e entre meios de comunicação do reinado deveriam servir de modelos para o Brasil. E, fique claro, o reinado está repleto de inenarráveis falhas, mas aqui no Brasil o quadro, a envolver casos e casos de corrupção, e um subsequente debate nada construtivo, é muito pior. Talvez porque aqui falte pessoal, como costumava dizer Raymundo Faoro.

Nesta manhã de quarta-feira 30, Andy Coulson, ex-porta-voz do premier britânico David Cameron e ex-editor do tabloide News of the World (NOW) foi preso por perjúrio. Motivo: quando já estava no segundo ano no posto de porta-voz de Cameron ofereceu um falso testemunho: em um tribunal disse não estar a par de que o NOW usava escutas ilegais. Isso a despeito de jornalistas e um detetive do tabloide NOW, do magnata Rupert Murdoch, terem sido presos por utilizarem esse método então sob direção de Coulson, hoje com 44 anos. O caso foi grave a ponto de o tabloide ter sido tirado de circulação pelas autoridades.

Murdoch, o magnata mais poderoso do Reino Unido, 81 anos, tem sido interrogado horas a fio pela comissão parlamentar do Inquérito Leveson, o qual busca, desde o final do ano passado, se aprofundar mais na nebulosa relação da mídia com políticos e funcionários públicos.

Eis algumas questões: Murdoch queria favorecer Cameron nas últimas legislativas a qualquer custo? Ele sabia sobre as escutas ilegais, prática que, suspeitam os investigadores, poderia ser utilizada por outros de seus meios de comunicações, inclusive nos Estados Unidos?

Enquanto isso, em solo canarinho a CPI do Cachoeira hesita em convocar o patrão da Editora Abril, Roberto Civita, de 75 anos, e Policarpo Jr., diretor da sucursal da revista Veja (do grupo Abril). Eles, muito provavelmente, não darão o ar da graça na CPI do Cachoeira. Policarpo Jr., vale recapitular, trocou ligações com Carlinhos Cachoeira, o bicheiro goiano atualmente atrás das grades.

Civita sabia que Policarpo Jr. usava como parceiro de reportagem um bicheiro com estreitos elos (às vezes acompanhados de subornos) com um senador, deputados, governadores e uma empreiteira?

Sabiam Civita e Policarpo Jr. que o uso da fonte criminosa por parte do chefe da sucursal da capital fugia à uma regra básica do jornalismo – a de apurar as duas ou mais versões da mesma história?

O objetivo de Policarpo Jr., através do bicheiro goiano, era este: dar furos a envolver os inimigos “esquerdistas” da mídia tucana, principalmente petistas.

É isso que chamamos de jornalismo no Brasil?

Embora esteja agora interessado em falar sobre sua relação com Policarpo Jr. na CPI, Carlinhos Cachoeira está longe de ser o garganta profunda, o agente do FBI que deu suficientes informações para Bob Woodward e Carl Bernstein, do diário Washington Post, desvendarem o caso Watergate, o escândalo de escutas ilegais que derrubou o presidente norte-americano Richard Nixon em 1974.

Ao mesmo tempo, Coulson e Policarpo Jr. estão longe de ser Bob Woodward ou Carl Bernstein. De saída, a fonte de Woodward e Bernstein era mais crível.

No entanto, e vale repetir, a Justiça, e basta ver como se comporta agora o ministro Gilmar Mendes, ex-presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), está muito aquém daquela do Reino Unido, que não evita interrogar jornalistas.

Aqui, Policarpo Jr. não precisa se defender. Esconde-se atrás de editorais de seus amigos a defendê-lo com unhas de dentes.

Não: Policarpo Jr. não será interrogado como Coulson, o qual na segunda vez em que é preso pagará fiança (provavelmente já pagou enquanto essas linhas estão sendo escritas) e irá para casa.

Civita, por sua vez, também não comparecerá à CPI do Cachoeira. Jornalões e a tevê Globo fecham-se em copas para que isso não aconteça. Os motivos são dois. O bicheiro, atualmente atrás das grades, favorecia os “furos” a envolver os inimigos “esquerdistas” da mídia tucana (tradução: das elites tucanas). Segundo motivo: jornalistas de outros órgãos da mídia também obtinham seus “furos” de Cachoeira.

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A Justiça britânica e o comportamento dela com a mídia e entre meios de comunicação do reinado deveriam servir de modelos para o Brasil. E, fique claro, o reinado está repleto de inenarráveis falhas, mas aqui no Brasil o quadro, a envolver casos e casos de corrupção, e um subsequente debate nada construtivo, é muito pior. Talvez porque aqui falte pessoal, como costumava dizer Raymundo Faoro.

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