Mundo

EUA e Canadá selam acordo para substituir Nafta

Washington e Ottawa acertam novo tratado de livre-comércio, que inclui também o México. Pacto é considerado uma vitória para o governo Trump

Zona de livre comércio entre Canadá, EUA e México gera negócios em torno de 1,2 trilhões de dólares anuais
Apoie Siga-nos no

Após meses de negociações, o Canadá e os Estados Unidos anunciaram no domingo 30 um novo acordo comercial trilateral, juntamente com o México, em substituição ao Tratado de Livre-Comércio para a América do Norte (Nafta), que havia sido posto em xeque pelo governo americano.

A poucas horas do prazo final para as negociações, americanos e canadenses conseguiram evitar o colapso da zona de livre-comércio, que gera anualmente negócios em torno de 1,2 trilhão de dólares.

“Hoje, o Canadá e os Estados Unidos fecharam um acordo, junto com o México, para um novo e modernizado acordo comercial para o século 21: o acordo Estados Unidos-México-Canadá (USMCA, na sigla em inglês)”, afirmaram em comunicado o representante de Comércio dos EUA, Robert Lighthizer, e a ministra canadense do Exterior, Chrystia Freeland.

“O USMCA dará aos trabalhadores, fazendeiros e comerciantes um acordo comercial de alta qualidade que resultará em mercados mais livres, comércio mais seguro e crescimento econômico mais robusto em nossa região”, dizia a nota. Segundo o texto, o novo tratado fortalecerá a classe média e criará ” trabalhos bons e bem pagos e novas oportunidades” para cerca de 500 milhões de pessoas na América do Norte.

Leia também:
Dez anos depois, governos têm menos fôlego contra crises financeiras
O mariachi paga a conta do Nafta duas décadas depois

Lighthizer e Freeland reafirmaram o desejo de ambos os países de aprofundar os laços econômicos após a entrada em vigor do novo acordo. “Gostaríamos de agradecer o ministro mexicano da Economia, Ildefonso Guajardo, por sua próxima colaboração durante os últimos 13 meses”, destacaram os representantes do Canadá e dos EUA.

Em vigor desde 1994, o Nafta foi submetido a um processo de revisão após a eleição do presidente americano, Donald Trump, que considera desastroso o antigo tratado. No final de agosto, EUA e México fecharam um acordo bilateral preliminar, aumentando a pressão sobre o Canadá.

O novo acordo pode ser considerado uma vitória para o governo Trump, que convenceu mexicanos e canadenses a aceitarem algumas restrições no comércio trilateral. O objetivo de Washington era reduzir o déficit comercial americano, argumento também utilizado para justificar a disputa comercial do país com a China, que foi alvo de aumentos nas tarifas de importação que somam centenas de bilhões de dólares.

Trump tenta melhorar sua imagem nos meses que antecedem as eleições legislativas americanas em novembro, enquanto sua legenda, o Partido Republicano, teme perder a maioria nas duas casas do Congresso.

Por sua vez, o primeiro-ministro canadense, Justin Trudeau, quer evitar ser visto como acovardado perante os EUA, antes das eleições gerais no país no próximo ano. “Este é um bom dia para o Canadá”, afirmou Trudeau à imprensa, após uma reunião de gabinete na noite deste domingo.

Trump e Trudeau deverão assinar o USMCA antes do fim do mandato do presidente mexicano, Enrique Pena Nieto, que deixará o cargo no dia 1º de dezembro. A data foi o principal motivo para que as negociações do tratado fossem apressadas nas últimas semanas. Segundo as leis americanas, a Casa Branca deve enviar o texto para a aprovação do Congresso num prazo de 60 dias antes da assinatura do acordo.

O Canadá aceitou abrir em torno de 3,5% de seu mercado interno de laticínios, que movimente anualmente 16 bilhões de dólares, aos produtores americanos. Apesar de o governo prometer compensações, representantes dos fazendeiros reclamaram da medida.

“Não conseguimos entender como esse acordo poderá ser positivo para as 200 mil famílias canadenses que dependem dos laticínios para sobreviver”, afirmou o presidente da associação dos produtores do país, Pierre Lampron. “Isso aconteceu apesar das promessas de que o nosso governo não assinaria um acordo ruim para os canadenses.”

Ottawa, porém, conseguiu manter tarifas de 275% para a maioria dos produtos derivados de leite de outros países.

Os norte-americanos, em contrapartida, abriram mão de alterações no mecanismo para a resolução de disputas no bloco, utilizado pelo Canadá para resolver conflitos comerciais e se defender de medidas compensatórias e antidumping americanas impostas, especialmente, contra a indústria madeireira canadense.

Apesar dos avanços, o novo acordo não resolveu a questão envolvendo as tarifas americanas impostas às importações de aço e alumínio do Canadá. Ainda assim, a confirmação do novo acordo gerou altas nos mercados financeiros internacionais.

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo

Apoie o jornalismo que chama as coisas pelo nome

Os Brasis divididos pelo bolsonarismo vivem, pensam e se informam em universos paralelos. A vitória de Lula nos dá, finalmente, perspectivas de retomada da vida em um país minimamente normal. Essa reconstrução, porém, será difícil e demorada. E seu apoio, leitor, é ainda mais fundamental.

Portanto, se você é daqueles brasileiros que ainda valorizam e acreditam no bom jornalismo, ajude CartaCapital a seguir lutando. Contribua com o quanto puder.

Quero apoiar

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo