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Eleição legislativa na França cria um Macron superpoderoso

Primeiro turno do pleito parlamentar indica que novo presidente francês terá uma maioria capaz de fazer reformas profundas

Macron no Palácio do Eliseu, nesta segunda-feira 12. Ele deve ter um parlamento quase totalmente favorável a ele
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Por Eloi Rouyer

O partido centrista do presidente francês, Emmanuel Macron, se dirige para uma vitória esmagadora na Assembleia Legislativa, um fator decisivo para a aplicação de suas reformas econômicas e sociais, muito esperadas por seus parceiros europeus.

Durante a votação marcada por uma abstenção recorde (51,29%), o movimento presidencial A República em Marcha (LREM) varreu os partidos tradicionais no primeiro turno das legislativas, com 32,3% dos votos, superando com folga a direita (Os Republicanos, 21,5%), a extrema-direita de Marine Le Pen (Frente Nacional, 13,2%) e a esquerda dividida entre diferentes correntes, segundo os resultados definitivos.

De acordo com as projeções, LREM e seu aliado MoDem conquistariam no segundo turno do próximo domingo entre 400 e 455 dos 577 assentos, um número muito superior à maioria absoluta (289 eleitos). 

O resultado deve causar grande impacto. O movimento conseguiu, após apenas um ano de existência, mudar o cenário político e jogar para escanteio os partidos tradicionais de esquerda e de direita que se revesavam no poder há 60 anos.

O porta-voz do governo, Christophe Castaner, considerou, no entanto, que a grande abstenção era “um fracasso nesta eleição”, ressaltando a necessidade de “recuperar a confiança” dos eleitores.

Ao contrário dos partidos de oposição que veem na abstenção uma rejeição contra a política, pessoas próximas ao chefe de Estado interpretam o resultado deste primeiro round como uma mensagem de apoio ao programa que pretende implementar o jovem presidente da República.

Neste sentido, o primeiro-ministro Edouard Philippe considerou que os eleitores confirmaram seu “compromisso com o projeto de renovação, união e conquista” de Macron.

O sucesso do LREM é “um sinal da adesão às reformas que, com o primeiro-ministro e este governo, começamos a implementar”, declarou o ministro do Interior, Gérard Collomb.

No próximo domingo, exceto em caso de reviravolta altamente improvável, Macron terá mãos livres para avançar nas reformas, a começar pela trabalhista.

Sobre a mesa da Assembleia Legislativa, desde o verão (no hemisfério sul), os primeiros textos se acumulam: lei de moralização da vida pública, nova lei anti-terrorismo para perpetuar o estado de emergência e uma legislação que permita ao Executivo reformar o código do trabalho por meio de ordens presidenciais.

Em seguida, por ocasião do orçamento 2018, importantes medidas fiscais, reformas do sistema de seguro desemprego, aposentadorias e formação profissional.

A ampla maioria prometida a Macron alegra aqueles que na Europa pressionam a França a realizar reformas estruturais.

“Posição de força” 

Este é o caso da chanceler alemã Angela Merkel que, por meio de seu porta-voz no Twitter, expressou “felicitações a Emmanuel Macron pela grande vitória de seu partido no primeiro turno”. “Um voto poderoso a favor das reformas”, considerou no domingo à noite.

Neste contexto, o sucessor de François Hollande pode considerar que os franceses deram seu aval? Para a oposição, a baixa participação na votação de domingo representa uma resposta negativa.

“A imensa abstenção mostra que não há uma maioria para destruir o código trabalhista, reduzir as liberdades públicas, nem pela irresponsabilidade ecológica”, reagiu Jean-Luc Mélenchon, líder do movimento de esquerda radical “França Insubmissa”, que totalizou 11% dos votos no domingo.

Para Gaël Sliman do instituto de pesquisas Odoxa, Macron conquistou um “triunfo inegável”, o que “não significa um voto de adesão” ao seu programa. Mesmo que possa se apoiar em uma maioria na Assembleia “que lhe deve tudo”, observa ele, o chefe de Estado terá de continuar a convencer o público.

E o fato de dispor de quase todos os poderes irá fortalecer as exigências. “Ele está em uma posição de força para implementar o seu programa, o que pressupõe que os franceses vão cobrar muito mais, uma vez que esperam resultados”, aponta Frédéric Dabi do instituto de pesquisas Ifop.

O coletivo sindical “Frente Social” planeja a partir de 19 de junho, um dia após o segundo turno, manifestações em várias cidades “contra Macron e suas ordenanças” de reforma do mercado de trabalho.

*Leia mais na AFP

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