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França periférica levou extrema-direita ao segundo turno

Voto de “excluídos da globalização” determinou ascensão da extrema-direita. Marine Le Pen foi para o segundo turno com mais de 7,6 milhões de votos.

Marine Le Pen enfrentará em 7 de maio o centrista Emmanuel Macron, que terminou o primeiro turno na frente, com 23,75% dos votos.
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A candidata da extrema-direita Marine Le Pen, que garantiu seus melhores resultados em áreas rurais e pequenas cidades, foi levada ao segundo turno da eleição presidencial pela França “periférica”, deixada de fora da globalização.

“O grande desafio desta eleição é a globalização selvagem que ameaça a nossa civilização. Ou continuamos no caminho da desregulamentação total, ou escolhemos a França”, exclamou na noite de domingo 23 a líder da Frente Nacional, qualificada para o segundo turno da eleição presidencial, com 21,53% dos votos (mais de 7,6 milhões de eleitores).

A dirigente da Frente Nacional enfrentará em 7 de maio o candidato centrista pró-europeu Emmanuel Macron, que terminou em primeiro com 23,75% dos votos.

“A análise dos votos mostra uma dupla fratura, social e geográfica”, do eleitorado francês, comentou o secretário-geral do Sindicato Força Operária Jean-Claude Mailly.

O mapa dos resultados reflete, de fato, a divisão da França descrita por geógrafos e sociólogos: uma das metrópoles, vitrine da globalização feliz, e a outra das áreas periféricas, pequenas e médias cidades, áreas rurais distantes dos empregos mais dinâmicos, abandonadas pelos serviços públicos.

“Macro-Le Pen: as duas Franças”, era a manchete nesta segunda-feira do jornal Le Monde, para o qual “os dois países se enfrentam, entre o mundo rural que votou esmagadoramente em Marine Le Pen e as cidades que escolheram Emmanuel Macron.”

Estas são as regiões marcadas pela desindustrialização, desemprego e o medo, que muito contribuíram para o sucesso de Marine Le Pen: 31% no Norte, 27,8% no Leste – tanto ou mais do que no sudeste, o reduto tradicional do partido (28%) sensível ao seu discurso anti-imigração.

Seus números são medíocres (5% em Paris, 8% em Lyon) nas grandes metrópoles, exceto em Marselha (23%), locais em que Emmanuel Macron teve seus melhores desempenhos (34,8% em Paris, 30% em Lyon).

Globalistas contra patriotas 

Considerado “histórico”, o resultado do primeiro turno permanece abaixo das expectativas de Marine Le Pen, que apostava numa dinâmica populista, após a vitória de Donald Trump nos Estados Unidos, o Brexit no Reino Unido e o contexto de ansiedade ante os ataques extremistas islâmicos.

“Em sua nova estratégia, a Frente Nacional não trabalha com a divisão esquerda-direita, mas com a definição de uma nova divisão, os globalistas contra os patriotas. Com sucesso, uma vez que o segundo turno irá opor estas duas ideologias. Mas nada indica que a FN poderia tornar-se maioria com base nesta divisão”, aponta o analista político Joël Gombin.

“Não podemos esquecer que a soma dos votos de Macron e Le Pen foi inferior a 50% do eleitorado de domingo. No total, existem quatro blocos”, diz ele, em referência às pontuações do candidato conservador François Fillon (19,9%) e do ícone da esquerda radical, Jean-Luc Mélenchon (19,6%).

A líder da FN também sofre com a concorrência no eleitorado contestador de Jean-Luc Mélenchon, que marcou pontos nos subúrbios de Paris e no centro do país. O partido, no entanto, espera se recuperar no segundo turno, apostando nos votos do partido “França Insubmissa”, argumentando que “só Le Pen personifica o antissistema”.

“Eu expresso minha discordância com os políticos atuais e vou votar em branco no segundo turno… Macron é um cara do setor financeiro, um homem do dinheiro, um novo-rico (…) Le Pen…  sou contra as suas ideias, mas se insistisse menos na questão dos imigrantes teria mais pontos”, afirma Rose Rodriguez Correa, uma secretária de 59 anos de Mantes la Jolie, município onde a Frente Nacional e Mélenchon lideraram no domingo.

Nesta segunda-feira, a líder da FN optou por lançar a campanha para o segundo turno se apresentando como a “candidata do povo” no norte do país, ex-reduto da esquerda atingida pela desindustrialização e um desemprego que é o dobro que a média nacional.

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