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1 em cada 6 alemães orientais tende à extrema direita, mostra estudo

Pesquisadores da Universidade de Leipzig traçaram as posições dos habitantes do antigo lado comunista da Alemanha

Imagem de 2011 mostra passeata neonazista em Gera, no Leste da Alemanha. Foto: DAPD / DW
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Segundo estudo recente sobre tendências de extrema direita na Alemanha, realizado por pesquisadores da Universidade de Leipzig, quase 16% dos alemães do Leste – até 1990 sob governo comunista – cultivam uma visão de mundo de extrema direita. Em 2002, essa taxa era de 8,1%. No Oeste alemão, em contrapartida, a percentagem caiu de 11,3% para 7,3%. Pode-se, portanto, afirmar que as tendências no Leste e no Oeste desenvolveram-se de forma oposta nos últimos anos.

Já o preconceito em relação a muçulmanos é verificado em todo o país, conforme a pesquisa. “Nossos números demonstram que a hostilidade contra o Islã é partilhada pela maioria da população, e que declarações xenófobas também são partilhadas pela maioria das pessoas nos estados da antiga República Federal Alemã (RDA).” Assim, o pesquisador Elmar Brähler resume os resultados do estudo.

Professor de psicologia e sociologia, Brähler é um dos três autores da pesquisa Die Mitte im Umbruch (A reviravolta do centro), encomendada pela Fundação Friedrich Ebert, ligada ao Partido Social Democrata da Alemanha (SPD). No estudo foram medidas seis dimensões do extremismo de direita: simpatia por uma ditadura autoritária de direita, chauvinismo, xenofobia, antissemitismo, darwinismo social e minimização do nazismo.

Ascensão dos jovens extremistas

As enquetes vêm sendo realizadas a cada dois anos, desde 2002. Esse estudo, portanto, é mais do que uma análise instantânea da situação, mas expressa também tendências de longo prazo. Agora, uma tal tendência é claramente discernível, sobretudo no Leste alemão.

Especialmente alarmante é o fato de a propensão à extrema direita na região ser característica de uma nova geração, apontam os autores. Enquanto no passado se traçava uma relação entre o avanço da idade e um posicionamento radical, atualmente são os jovens alemães orientais a acusar altas taxas. Também pela primeira vez o antisseminitsmo é mais difundido no Leste do que no Oeste alemão.

Ainda assim, os autores advertem que não se pode associar o radicalismo de direita simplesmente como um problema dos antigos estados da Alemanha comunista. Um exame mais detalhado demonstra que o fator decisivo é a má situação econômica em que os entrevistados vivem – o que também vale para o Oeste.

Prova disso é o alto grau de xenofobia verificado entre os desempregados. Os autores do estudo partem do princípio de que a conjuntura social tem maior influência sobre as atitudes de extrema direita do que as notícias sobre neonazismo, como os recentemente descobertos assassinatos cometidos pela célula terrorista Clandestinidade Nacional-Socialista (NSU), de Zwickau.

Primeiras estatísticas sobre islamofobia

Para a pesquisa foram entrevistados pessoalmente cerca de 2.500 participantes em meados de 2012. Pela primeira vez, a opinião sobre o islamismo foi tema, pois nos últimos anos os partidos populistas de direita vêm apostando de forma crescente na propaganda anti-islamista. Assim, sugerem os autores, a islamofobia deve ser encarada como “droga de introdução ao vício” do extremismo.

Neste caso, mais da metade das pessoas arguidas concordaram com as afirmativas de que o mundo islâmico seria retrógrado e que o Islã, como religião arcaica, seria incapaz de se adaptar ao presente. Mais de 45% negam que representantes islâmicos tenham direito de criticar o mundo ocidental. “Esta é uma porcentagem assustadoramente alta”, comenta Oliver Decker, coautor do estudo.

Os pesquisadores sublinham que a educação funciona como um fator de proteção contra a ideologia de direita radical. O problema das atitudes de extrema direita também é bem menos difundido nas regiões com forte presença de imigrantes.

No entanto, as presentes estatísticas devem permanecer como sinal de alarme para a política alemã, reforçam os autores. Eles reivindicam que as medidas antiextremismo de direita sejam definidas como tarefas transversais, ou seja: um problema que afeta todos os setores da vida em sociedade.

 

Segundo estudo recente sobre tendências de extrema direita na Alemanha, realizado por pesquisadores da Universidade de Leipzig, quase 16% dos alemães do Leste – até 1990 sob governo comunista – cultivam uma visão de mundo de extrema direita. Em 2002, essa taxa era de 8,1%. No Oeste alemão, em contrapartida, a percentagem caiu de 11,3% para 7,3%. Pode-se, portanto, afirmar que as tendências no Leste e no Oeste desenvolveram-se de forma oposta nos últimos anos.

Já o preconceito em relação a muçulmanos é verificado em todo o país, conforme a pesquisa. “Nossos números demonstram que a hostilidade contra o Islã é partilhada pela maioria da população, e que declarações xenófobas também são partilhadas pela maioria das pessoas nos estados da antiga República Federal Alemã (RDA).” Assim, o pesquisador Elmar Brähler resume os resultados do estudo.

Professor de psicologia e sociologia, Brähler é um dos três autores da pesquisa Die Mitte im Umbruch (A reviravolta do centro), encomendada pela Fundação Friedrich Ebert, ligada ao Partido Social Democrata da Alemanha (SPD). No estudo foram medidas seis dimensões do extremismo de direita: simpatia por uma ditadura autoritária de direita, chauvinismo, xenofobia, antissemitismo, darwinismo social e minimização do nazismo.

Ascensão dos jovens extremistas

As enquetes vêm sendo realizadas a cada dois anos, desde 2002. Esse estudo, portanto, é mais do que uma análise instantânea da situação, mas expressa também tendências de longo prazo. Agora, uma tal tendência é claramente discernível, sobretudo no Leste alemão.

Especialmente alarmante é o fato de a propensão à extrema direita na região ser característica de uma nova geração, apontam os autores. Enquanto no passado se traçava uma relação entre o avanço da idade e um posicionamento radical, atualmente são os jovens alemães orientais a acusar altas taxas. Também pela primeira vez o antisseminitsmo é mais difundido no Leste do que no Oeste alemão.

Ainda assim, os autores advertem que não se pode associar o radicalismo de direita simplesmente como um problema dos antigos estados da Alemanha comunista. Um exame mais detalhado demonstra que o fator decisivo é a má situação econômica em que os entrevistados vivem – o que também vale para o Oeste.

Prova disso é o alto grau de xenofobia verificado entre os desempregados. Os autores do estudo partem do princípio de que a conjuntura social tem maior influência sobre as atitudes de extrema direita do que as notícias sobre neonazismo, como os recentemente descobertos assassinatos cometidos pela célula terrorista Clandestinidade Nacional-Socialista (NSU), de Zwickau.

Primeiras estatísticas sobre islamofobia

Para a pesquisa foram entrevistados pessoalmente cerca de 2.500 participantes em meados de 2012. Pela primeira vez, a opinião sobre o islamismo foi tema, pois nos últimos anos os partidos populistas de direita vêm apostando de forma crescente na propaganda anti-islamista. Assim, sugerem os autores, a islamofobia deve ser encarada como “droga de introdução ao vício” do extremismo.

Neste caso, mais da metade das pessoas arguidas concordaram com as afirmativas de que o mundo islâmico seria retrógrado e que o Islã, como religião arcaica, seria incapaz de se adaptar ao presente. Mais de 45% negam que representantes islâmicos tenham direito de criticar o mundo ocidental. “Esta é uma porcentagem assustadoramente alta”, comenta Oliver Decker, coautor do estudo.

Os pesquisadores sublinham que a educação funciona como um fator de proteção contra a ideologia de direita radical. O problema das atitudes de extrema direita também é bem menos difundido nas regiões com forte presença de imigrantes.

No entanto, as presentes estatísticas devem permanecer como sinal de alarme para a política alemã, reforçam os autores. Eles reivindicam que as medidas antiextremismo de direita sejam definidas como tarefas transversais, ou seja: um problema que afeta todos os setores da vida em sociedade.

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