Entrevistas

Padrinho forte

Jerônimo Rodrigues minimiza a aproximação do PT com o partido de ACM Neto e reitera: “O candidato de Lula sou eu“

Miragem. Rodrigues lembra o histórico de erros das pesquisas ao falar sobre a desvantagem nas intenções de voto - Imagem: Elói Corrêa/GOVBA
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No fim de julho, o PT fez um aceno ao União Brasil. Tentou convencer o presidente da legenda, Luciano Bivar, a desistir de disputar a Presidência da República e apoiar Lula ainda no primeiro turno. Em troca, teria ajuda na reeleição como deputado federal e poderia, inclusive, chefiar a Câmara. A saída de Bivar da disputa diminuiria o número de candidatos e aumentaria consideravelmente o tempo de exposição de Lula na tevê aberta. Era mais uma investida do PT com vistas a liquidar a fatura no primeiro turno. Bivar até se empolgou com a proposta e desistiu da Presidência, mas, por pressão de aliados nos estados, não levou o UB para o palanque petista. Em vez disso, anunciou Soraya Thronicke como a candidata do partido.

Essa tentativa de acordo provocou reação imediata dos candidatos dos dois partidos, principalmente nos estados onde as legendas são adversárias históricas e enfrentam uma disputa acirrada para o governo do estado, como na Bahia. De um lado, ACM Neto lidera as pesquisas de intenção de voto. Do outro, Jerônimo Rodrigues, petista indicado pela aliança que comanda o governo baiano há 16 anos e que recebeu a bênção de Lula.

Embora esteja mais de 30 pontos atrás de ACM, Rodrigues aposta na popularidade de Lula para reverter a desvantagem e lembra o histórico de erros das pesquisas eleitorais no estado. As sondagens costumam favorecer candidatos de direita, mas as urnas revelam a hegemonia da esquerda. Na entrevista a seguir, Rodrigues fala sobre essas questões e comenta a estratégia para vencer ACM Neto na disputa pelo governo baiano.

CartaCapital: Como o senhor viu essa movimentação do PT de se aliar ao União Brasil, partido de seu maior adversário na Bahia?

Jerônimo Rodrigues: O aceno mais forte de Lula na Bahia ocorreu em 30 de março, quando o PT apresentou meu nome, o de meu vice, Geraldo Júnior, o do senador Otto Alencar na chapa majoritária. Foi o primeiro momento da nossa pré-candidatura e, daí, corremos toda a Bahia para apresentar o que faremos a partir de 2023, ouvindo a população em cada território sobre as demandas mais importantes para constar no programa de governo participativo. Agora, Lula é candidato a presidente e precisa dialogar com todos os partidos. A gente tem dito que o Brasil tem jeito com Lula presidente e a Bahia tem lado, diferente do ex-prefeito de Salvador, que pega carona na campanha do Lula ou tem vergonha de assumir a candidatura do atual presidente. Em 2018, ele fez campanha para Bolsonaro, os cargos do governo federal na Bahia estão ocupados pelos partidos que estão com ele.

“Todo recurso para matar a fome do povo é importante, mas Bolsonaro podia ter feito isso antes e não fez”

CC: ACM Neto poupa críticas a ­Lula devido ao grande favoritismo do ex-presidente no estado, e Lula parece fazer o mesmo em relação a ele. Sem falar que ACM Neto declarou que pode apoiar Lula no segundo turno. Isso não atrapalha a sua candidatura?

JR: O ex-prefeito vai ter de se resolver, porque os eleitores sabem que o candidato de Lula é Jerônimo, e sabe quem é o candidato do atual presidente. O ex-ministro João Roma assumiu que é o candidato do Bolsonaro, mas o ex-prefeito chegou a dizer que tanto faz quem ganhar. Para ele está bom o governo Bolsonaro, um presidente que botou novamente o Brasil no mapa da fome, que fez o País voltar a falar de inflação, de carestia, de aumento do desemprego, que revelou não ter nada de humano durante a pandemia, ficou brincando com as pessoas que morriam, que sofriam. Eu vou governar a Bahia, a partir do ano que vem, sendo parceiro de Lula.

CC: Em relação aos números das pesquisas, qual a estratégia para mudar o quadro desfavorável?

JR: As pesquisas têm um histórico de erros no estado. Foi assim com Jaques ­Wagner em 2016. No sábado, antes da eleição, os jornais diziam que perderíamos na Bahia e que não teria segundo turno. Realmente não teve, mas quem ganhou foi a gente. Em 2014, com Rui Costa foi a mesma coisa. E agora estamos muito próximos de um terceiro cenário nessa linha. As pesquisas internas mostram que, quando meu nome é associado ao de Lula, ao de Rui, ao de prefeitos de determinadas cidades, ao de Jaques Wagner e de Otto Alencar, a gente fica bem colado nele ou até à frente. E olhe que nem começou a campanha oficial. Tem ainda a vantagem de termos do nosso lado um presidente muito bem avaliado na Bahia, tem lugares que ele bate 70%, 80%. É um acervo político nosso e não sou candidato de mim mesmo, mas de um projeto. Temos um legado. Dirigi a Secretaria de Desenvolvimento Rural e fui o secretário estadual de Educação que mais investiu em infraestrutura em escolas. Vamos continuar cuidando da Bahia e ajudar o Lula a erradicar a fome e a gerar emprego e renda.

CC: No início, o PT teve dificuldade na montagem do palanque: Jaques Wagner desistiu de disputar o governo, Rui Costa queria sair para senador, mas iria bater de frente com Otto Alencar, o PP saiu da aliança. Agora, o PCdoB está insatisfeito por não ter sido contemplado na chapa majoritária e o Solidariedade, aliado de Lula em nível nacional, está com ACM Neto. Essa questão retardou o lançamento do seu nome? Prejudicou a campanha?

JR: A saída do PP da coligação para nós é página virada. A gente recompôs a aliança trazendo o MDB e outros partidos. Na política tem disso. A gente optou pela inovação. Eu sou o novo, como o Rui e o Wagner foram. Estou pronto, coordenei duas campanhas de Rui. Mas sou o novo trazendo um acervo de militância, de movimentos sociais, tenho o perfil que a sociedade baiana precisa. Qualquer movimento que a gente faça dentro do campo da política da forma certa supera qualquer dificuldade com o tempo.

CC: Como o senhor vê a situação de João Roma, candidato de Bolsonaro, e o possível impacto na Bahia da PEC eleitoral, que libera verbas para programas sociais?

JR: É importante que tenhamos vários candidatos para garantir o debate e a democracia. Mas quero saber qual vai ser o discurso do ex-ministro ao defender um governo desastroso. A PEC eleitoral foi criada para minimizar a imagem muito negativa e grande reprovação que Bolsonaro acumula. É claro que todo recurso para matar a fome do povo é importante, mas ele teve tanto tempo para fazer isso antes e não fez. •

PUBLICADO NA EDIÇÃO Nº 1220 DE CARTACAPITAL, EM 10 DE AGOSTO DE 2022.

Este texto aparece na edição impressa de CartaCapital sob o título “Padrinho forte”

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