Educação

Ministro da Educação já minimizou feminicídio e disse que crianças devem sentir dor

Milton Ribeiro é alvo de polêmicas nas redes sociais por declarações conservadoras

O novo ministro da Educação, pastor Milton Ribeiro. Foto: Reprodução/YouTube
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Nomeado como ministro da Educação na sexta-feira 10, o pastor evangélico Milton Ribeiro já é alvo de polêmicas após declarações passadas viralizarem nas redes sociais. Ribeiro substitui Carlos Decotelli, que ficou 5 dias na chefia da pasta e foi demitido após ter o currículo desmentido por instituições de ensino.

Segundo dados da plataforma Lattes, Ribeiro é graduado em Teologia e Direito, tem mestrado em Direito e doutorado em Educação pela Universidade de São Paulo. Ainda é membro do Conselho Deliberativo do instituto Presbiteriano Mackenzie, entidade mantenedora da Universidade Presbiteriana Mackenzie. Também atuou como reitor em exercício e vice-reitor da instituição.

Depois de ser escolhido pelo presidente Jair Bolsonaro, Ribeiro tem recebido críticas por opiniões conservadoras. Em entrevista a um programa intitulado Ação e Reação, disponível na plataforma YouTube desde 2013, o pastor reduziu uma ocorrência de feminicídio a um caso de “paixão louca”. Ele comentava um episódio em que um homem de 33 anos assassinou uma adolescente de 17, por querer namorar com ela.

“Nesse caso específico, acho que esse homem foi acometido de uma loucura mesmo. E confundiu paixão com amor. São coisas totalmente diferentes. E ele, naturalmente movido por paixão… Paixão é louca mesmo. Ele então entrou, cometeu esse ato louco, marcando a vida dele, marcando a vida de toda a família. Triste”, afirmou Ribeiro.

Segundo informações do portal G1, o assassinato ocorreu em 7 de outubro de 2013, no município de José da Penha, no Rio Grande do Norte.

O homem identificado como José Marcos Alves entrou na escola em que a adolescente estudava e a levou até o banheiro, onde a matou a tiros com um revólver calibre 38. Em seguida, o assassino cometeu suicídio. A menina foi identificada como aluna do 9º ano do ensino fundamental. Segundo a polícia, reportou o site, o homem teria namorado a mãe da menina, mas o relacionamento havia acabado.

Milton Ribeiro citou o caso novamente no mesmo vídeo, para criticar a exibição de nudez no programa Amor e Sexo, apresentado pela atriz Fernanda Lima, da TV Globo. Segundo ele, a emissora promove a “erotização precoce” nas crianças, e disse que a adolescente de 17 anos pode ter “dado sinais de que estava apaixonada” ao homem que a assassinou.

“Esse mesmo rapaz, um camarada que é um homem maduro, se relacionar com uma menina de 17 anos, muito embora as mulheres amadureçam muito mais cedo do que os homens, ela pode ter dado sinais a ele que estava apaixonada, ou coisa do tipo, enfim, e que ela aprendeu, está acostumada a passar, e o cara entendeu assim. Só que não era nada daquilo. E a criança pode fazer isso. E o cara está pensando, o pedófilo está pensando que a criança está querendo alguma coisa com ela, mas o que ela está fazendo é uma replicação daquilo que ela vê de maneira indevida na TV aberta”, declarou.

Crianças devem “sentir dor”

O novo ministro da Educação também já defendeu a “dor” em crianças como forma de castigo. Em outro vídeo que viralizou na internet, Milton Ribeiro diz que a correção “é necessária para a cura” e rechaçou “meios justos e métodos suaves”.

“Talvez uma porcentagem muito pequena de criança precoce, superdotada, é que vai entender o seu argumento. Deve haver rigor, desculpe. Severidade. E vou dar um passo a mais, talvez algumas mães fiquem com raiva de mim. Deve sentir dor”, afirmou.

O pastor rebateu ainda a suposição de que poderia ser “antipedagógico”: “Eu amo as crianças da minha igreja”. A declaração ocorreu durante pregação religiosa, em vídeo chamado de “A Vara da Disciplina”. Ele também pede para que os pais não se excedam a ponto de matar a criança.

“Mas eu estou trazendo um paralelo daquilo que Deus faz comigo quando ele me disciplina. Ele fala, orienta, deixa claro o que quer comigo, e quando a minha estultícia vence a minha razão, ele me disciplina. E a disciplina de Deus me causa dor. Aí eu paro, e me lembro: há um paralelo da disciplina do meu Deus comigo e de você como pai com o seu filho. Disciplina. As crianças precisam ser corrigidas”, afirmou. “Se você está com raiva do filho, não o discipline. Aguarde. É mais difícil depois. Mas cuidado. Não te excedas a ponto de matá-lo.”

No entanto, segundo o Código Penal, no Artigo 136, a prática de maus-tratos é passível de punição, com detenção de dois meses a um ano, ou multa. O artigo 18-A do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) também rechaça o uso da força física como forma de correção ou disciplina.

“A criança e o adolescente têm o direito de ser educados e cuidados sem o uso de castigo físico ou de tratamento cruel ou degradante, como formas de correção, disciplina, educação ou qualquer outro pretexto, pelos pais, pelos integrantes da família ampliada, pelos responsáveis, pelos agentes públicos executores de medidas socioeducativas ou por qualquer pessoa encarregada de cuidar deles, tratá-los, educá-los ou protegê-los”, diz o ECA.

CartaCapital solicitou uma nota de posicionamento ao Ministério da Educação sobre as declarações de Ribeiro, mas ainda não recebeu resposta.

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