Educação

Os desafios dos museus

As áreas educativas têm proporcionado experiências mais significativas a estudantes

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A professora Urânia da Silva mantém uma longa relação com o Museu Vale. Já são 15 anos levando seus estudantes ao espaço para contemplar exposições, quatro deles pela escola municipal Hilário Vieira da Silva, localizada em Cariacica (ES), onde leciona atualmente.

Para a docente, as experiências são sempre muito válidas. “Os alunos têm a impressão que a arte é algo distante deles, que só se vê em livros; tirá-los da escola para vivenciar essas situações apoia a condução da aprendizagem, já que ela se torna mais significativa”, atesta.

Urânia conta que antes de levá-los ao espaço, promove uma imersão no tema. “Abordo o assunto e considero o conhecimento prévio que os estudantes têm sobre. No local, promovo uma mediação com o apoio dos educadores do museu”, conta.

Arte Educação

A experiência vivenciada pela escola faz parte do projeto Arte Educação, mantido pelo Museu Vale desde 2001, ano em que o programa educativo do equipamento, existente desde 1998, ganha novos contornos. “Entendemos que era necessário ofertar ao público a possibilidade de interpretar as artes contemporâneas”, conta o diretor do museu, Ronaldo Barbosa.

Hoje, cada exposição de arte no local é acompanhada de um workshop, momento dedicado para que o público saia do aspecto contemplativo e experimente a temática apresentada, criando seus próprios trabalhos. Esse momento formativo é conduzido pelo próprio artista autor da exposição, ou por um arte-educador que tenha repertório no tema vigente.

Pintora Regina Chulam promove workshop com estudantes

A produção decorrente do workshop é apresentada ao público na próxima exposição. “Os alunos voltam e veem seus trabalhos, como se eles fossem os artistas. Com isso, trabalhamos o reconhecimento deles e criamos uma sensação de pertencimento ao museu”, explica Ronaldo.

O objetivo maior é dar escala para a arte, como também comenta o diretor. “É possibilitar que a arte dialogue com o seu entorno, com a comunidade, que desperte outros sentidos para além da contemplação. Isso dá vazão a um trabalho educativo melhor, mais alinhado com a natureza humana, com a criatividade, a subjetividade”, coloca.

O Museu Vale tem uma agenda de exposições ao longo do ano. Em média, cada novo projeto fica em cartaz por quatro meses. No intervalo das exposições, também é realizado um projeto de memória da Estrada de Ferro Vitória a Minas e de educação patrimonial.

Por mês, o local atende em média 3500 estudantes e realiza cerca de 1200 workshops. “Hoje, 80% do nosso público são das classes C, D, E. Ficamos felizes porque estamos dialogando com pessoas que têm mais dificuldade no acesso a cultura e lazer”, comemora Ronaldo.

Esforços contemporâneos

A experiência do Museu Vale se engloba a um movimento maior dos museus, verificado ao longo dos últimos 25 anos. Embora esses equipamentos tenham uma natureza educativa de origem, também tiveram que se adequar às demandas contemporâneas.

“Entre elas, ampliar e diversificar o público, além de ofertar experiências mais qualificadas aos seus visitantes”, afirma o presidente do Instituto Brasileiro de Museus (Ibram), Marcelo Araújo.

Uma das respostas nesse sentido foi o incremento das áreas educativas, que promovem uma variedade de experiências, estratégias e projetos inovadores.

Corrobora com a opinião a pesquisadora doutora pela Unicamp, Aglay Fronza Martins, também autora da pesquisa Da Magia a Sedução: a importância das atividades educativas não-formais realizadas em Museus de Arte.

“Antes, as escolas iam para esses espaços e encontravam a mesma metodologia do ensino formal, ou seja, era uma segunda aula em um espaço diferente, apenas. Hoje, com a releitura do espaço educativo pelos museus, é possível fazer uso de outras metodologias”, reconhece.

A pesquisadora entende que cada vez mais a educação tem sido vista como um meio de desenvolver um conhecimento mais global. E que, por isso, é fundamental que as escolas também pensem em promover uma formação aos seus professores, antes de promoverem a ida a esses espaços.

“Os professores não podem ir como mero espectadores. É preciso antecipar as possibilidades do espaço e também entender que o seu papel deve ser de mediador, ou seja, esse conhecimento deve ser compartilhado por todos, porque os alunos também trarão suas bagagens. Estamos diante de novas relações de aprendizagem e as funções podem e devem ser trocadas em diversos momentos”, finaliza.

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