Educação

Com MEC em pé de guerra, Vélez anuncia saída de seu “número 2”

Após polêmica com Olavo de Carvalho, MEC anuncia a exoneração de grupo ligado ao filósofo e escancara incoerências do governo

Apoie Siga-nos no

O Ministério da Educação anunciou nesta terça-feira 12 a saída de mais um nome – e de peso: Luíz Antônio Tozi, secretário-executivo da pasta, detentor do segundo cargo mais alto, depois do ministro Ricardo Vélez Rodriguez. O afastamento foi publicado pelo próprio Vélez em sua conta no Twitter.

“Dando sequência às mudanças necessárias, agradecemos a Luís Antônio Tozi pelo empenho de suas funções no MEC e transferimos sua missão de secretário-executivo a Rubens Barreto da Silva, que ocupava o cargo de secretário-executivo adjunto”, publicou o ministro da Educação.

O afastamento é mais um da série anunciada pela pasta desde a tarde da segunda-feira 11: Seis cargos comissionados foram trocados, conforme anúncio feito em edição extra do Diário Oficial da União. Entre os exonerados estão nomes ligados diretamente ao guru bolsonarista Olavo de Carvalho, caso dos ex-alunos Tiago Tondinelli (chefe de gabinete do MEC) e Sílvio Grimaldo de Carvalho (assessor especial do ministério). Os nomes deixam claro o mal-estar existente entre o grupo dos olavistas e os militares atuantes no governo, e indicados pelo próprio Vélez.

A lista de afastados tem ainda Eduardo Miranda Freire de Melo (secretário-executivo adjunto da Secretaria-Executiva do Ministério da Educação), Ricardo Wagner Roquetti (coronel que atuava como diretor de programa da Secretaria-Executiva do Ministério da Educação), Claudio Titericz (diretor de programa da Secretaria-Executiva do Ministério da Educação) e Tiago Levi Diniz Lima (diretor de Formação Profissional e Inovação da Fundação Joaquim Nabuco).

Leia também: Governo recua e discípulo de Olavo não terá mais a chefia do Enem

Curioso é que a mesma edição extra do Diário Oficial da União que apresentou as exonerações trouxe três novos nomes aos seis cargos vagos. Rubens Barreto da Silva, que agora é anunciado como substituto de Tozi, tinha sido ontem mesmo nomeado secretário-executivo adjunto da pasta, subordinado ao então secretário. Também foram apresentados Josie Priscila Pereira de Jesus como a nova chefe de gabinete do ministro e Robson Santos da Silva como diretor de Formação Profissional e Inovação da Fundação Joaquim Nabuco.

Entenda o caso

A polêmica que aparentemente opõe olavistas e militares começou na sexta-feira 8, quando Olavo de Carvalho mandou um recado em suas redes sociais orientando que seus alunos que ocupam cargos na nova gestão deixassem os postos e voltassem à vida de estudos.

Leia também: Quem é Gustavo Bebianno, a primeira (e perigosa) baixa de Bolsonaro

“Jamais gostei da ideia de meus alunos ocuparem cargos no governo, mas, como eles se entusiasmaram com a ascensão do Bolsonaro e imaginaram que em determinados postos poderiam fazer algo de bom pelo país, achei cruel destruir essa ilusão num primeiro momento”, escreveu o guru.

Carvalho alegou que já não poderia mais se calar. “O presente governo está repleto de inimigos do presidente e inimigos do povo, e andar em companhia desses pústulas só é bom para quem seja como eles”, escreveu em indireta ao vice-presidente Hamilton Mourão. O filósofo afirmou que o apoio ao general foi o maior erro de sua vida de eleitor.

O afastamento de Tozi também tinha sido ventilado por Olavo de Carvalho, que o acusou de liderar a “infiltração” de inimigos do governo.

Leia também: "Lava Jato da Educação" é um meio para destruir o ensino público

Do lado dos olavistas, o que não faltam são polêmicas. O assessor especial exonerado, Grimaldo, chegou a ser apontado pela imprensa como o nome que influenciou o ministro Vélez Rodriguez no envio da carta às escolas, com o pedido de execução do Hino e entrega de filmagem pelas unidades. O episódio, que gerou críticas à pasta e à figura de Vélez, é negado pelo próprio Grimaldo, que devolveu a “batata quente” aos militares:

“Pedi ao ministro e ao coronel Roquetti (afastado do cargo a mando de Bolsonaro), que é quem toma decisões no MEC, que emitissem uma nota esclarecendo o fato e apontando os verdadeiros responsáveis pela trapalhada, salvando um pouco a dignidade e hombridade de ambos. Mas parece que honra militar é uma coisa que só fica da porta do quartel pra dentro e preferiram deixar correr a versão que justifica a desolavização do MEC.”

Leia também: Escola sem Partido e devaneios do ministro: educação chega à demência

Ele também nega que tenha sido expulso do MEC e que o pedido de exoneração partiu dele após saber, por meio de uma ligação durante o Carnaval, “que perderia minhas funções no gabinete e seria transferido para a CAPES, onde deveria enxugar gelo e ‘fazer guerra cultural’”, declarou.

É de Grimaldo também uma publicação que alega que o “expurgo de alunos do Olavo de Carvalho do MEC é a maior traição dentro do governo Bolsonaro que se viu até agora” (sic). “Nem as trairagens do Mourão ou Bebianno chegaram a esse nível”. Ele ainda compartilhou uma publicação de seu guru Olavo, em que diz “tudo o que estão dizendo e fazendo contra os meus poucos alunos que têm cargos no governo é para bloquear a Lava Jato na Educação”.

O Ministério da Educação se posicionou em nota alegando que “as movimentações de pessoal e de reorganização administrativa, levadas a efeito nos últimos dias, em nada representam arrefecimento no propósito de combater toda e qualquer forma de corrupção. Ademais, envolveram cargos e funções de confiança, de livre provimento e exoneração”.

Vélez em risco?

O suposto alinhamento de Vélez Rodriguez aos militares estaria ocasionando um motim interno para sua destituição. Já se veiculam informações de que o próprio Olavo de Carvalho, responsável por sua indicação, estaria trabalhando abertamente pela sua saída, inclusive ventilando o nome do secretário de alfabetização, Carlos Nadalim, para o cargo.

O militar Eduardo Melo, exonerado pelo MEC, também é apontado como um possível substituto e como um dos articuladores do enfraquecimento do atual ministro.

Polêmicas à parte, nesta terça-feira 12 o presidente Jair Bolsonaro negou que Vélez esteja ameaçado de deixar o cargo. “Continua. Ele teve um problema com o primeiro homem dele. Mas está resolvido”, declarou, fazendo referência à saída de Tozi. A declaração foi dada a jornalistas enquanto aguardava no Palácio do Itamaraty a chegada do presidente paraguaio Mario Abdo Benítez para um almoço.

O atual ministro também se pronunciou em seu Twitter, se declarando 100% alinhado com o Planalto “e agora mais do que nunca focados na real mudança da educação no país e sempre ouvindo a voz de todos vocês. Seguiremos com a Lava Jato da Educação”.

ENTENDA MAIS SOBRE: , , , , ,

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo

Apoie o jornalismo que chama as coisas pelo nome

Os Brasis divididos pelo bolsonarismo vivem, pensam e se informam em universos paralelos. A vitória de Lula nos dá, finalmente, perspectivas de retomada da vida em um país minimamente normal. Essa reconstrução, porém, será difícil e demorada. E seu apoio, leitor, é ainda mais fundamental.

Portanto, se você é daqueles brasileiros que ainda valorizam e acreditam no bom jornalismo, ajude CartaCapital a seguir lutando. Contribua com o quanto puder.

Quero apoiar

Leia também

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo