Editorial

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Sentinela traidor

De como o STF deixou de cumprir a missão de defender a Constituição

Alexandre de Moraes arca agora com seu indispensável papel - Imagem: Marcelo Camargo/ABR
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No confronto com o ex-capitão Jair Bolsonaro, infelizmente presidente da República, Alexandre de Moraes encarna o espírito da figura do ministro de qualquer tribunal supremo, sentinela da Constituição. Nem por isso a sua atuação pregressa foi impecável ao longo da carreira, assim como o STF traiu impunemente a sua própria finalidade. Derradeira instância de um país democrático, costuma valer-se do sigilo, longe do exibicionismo da ­corte brasileira, a nos impor a cada dia no vídeo a cobertura de suas sessões. Ali os togados foram capazes de golpear o Estado chamados a proteger.

Penoso entrecho para um dos três poderes da República, inapto para o exercício da Justiça. A lamentável história começa a assumir seus tons mais sombrios no tempo da chamada República de Curitiba, quando o juiz Sergio Moro e o promotor Deltan Dallagnol conduziram, com o apoio desbragado da mídia, a Operação Lava Jato, com o claro objetivo de incriminar o ex-presidente Lula e seu Partido­ dos Trabalhadores, a partir de acusações totalmente infundadas.

Este Supremo, impassível diante da injustiça, longos tempos depois pretendeu redimir-se, inocentando ­Lula e o PT. No mínimo, valeria acentuar a patetice do remendo, de todo modo tardio. E sur­preende o cidadão democrático a presença no tribunal de muitos juízes que ali estavam quando ocorria esta situação, que não cabe hesitar ao defini-la como criminosa.

Sessão cotidiana de um STF exibicionista – Imagem: Arquivo/STF

Coisas nossas, conforme o samba, coisas de um Brasil onde a democracia é irremediavelmente banida do contexto, por causa do monstruoso desequilíbrio social que nos mantém presos à Idade Média. Certa vez, ao falar, durante o primeiro mandato de Lula, em uma das festas de aniversário de CartaCapital, ousei afirmar que a Revolução Francesa ainda não nos alcançara. O vice-presidente da República, José Alencar, sentado à mesa armada no palco, anuiu gravemente.

Em todo caso, a Lava Jato, ponto inicial do entrecho, é, além de tudo, responsável pela ausência do candidato Lula no pleito presidencial de 2018, a eleger Bolsonaro, brindando o País inerte com um presidente demente. •

PUBLICADO NA EDIÇÃO Nº 1221 DE CARTACAPITAL, EM 17 DE AGOSTO DE 2022.

Este texto aparece na edição impressa de CartaCapital sob o título “Sentinela traidor “

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