Editorial

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O antídoto

Há uma prioridade absoluta: Livrar-nos de Bolsonaro é o que Lula vai conseguir nas próximas eleições. Falta pouco mais de 70 dias

Imagem: Clauber Cléber Caetano/PR e André Borges/NurPhoto/AFP
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A derradeira, desesperada tentativa de Bolsonaro é promover o caos político e social, e inevitavelmente econômico, para favorecer a intervenção violenta de algum poder armado em todo o processo. Logo vem à mente a tradição funesta da caserna ou do bolsonarismo armado, ou de ambas estas forças em condições de agir de sorte a garantir a permanência do demente no desgoverno atual. O assassinato de Marcelo Arruda, tesoureiro do PT em Foz do Iguaçu (leiam adiante a reportagem de André Barrocal), joga mais lenha na fogueira.

A APOSTA É NA PARVOÍCE POPULAR. NADA EXISTE DESSA EMPULHAÇÃO EM PAÍSES CIVILIZADOS E DEMOCRÁTICOS

A rigor, o caos já dá o ar da sua desgraça. Nunca se viu tantos brasileiros dormindo nas calçadas, enquanto 30% da população morre de fome, mais 30% teme o mesmo destino. Se a encenação do caos já está em pleno andamento, a esperança está na aplicação de um antídoto eficaz para doses tão maciças de veneno.

Boulos: aposta no povo – Imagem: Wanezza Soares

Até o mundo mineral sabe que a prioridade da política brasileira é livrar-se do demente a ocupar a Presidência da República. Sabe também que o antídoto é representado pela inescapável vitória de Lula nas próximas eleições. Ele está na frente nas pesquisas e pode vencê-las por maioria absoluta já no primeiro turno. Do ponto de vista da pureza do sistema eleitoral há, evidentemente, objeções, mas na origem da desgraça figura o impeachment de Dilma Rousseff por obra de uma ação conjunta dos próprios poderes da República a culminar com a entrega do País ao usurpador Michel Temer, notório corrupto de elevado porte. Foi este um golpe inédito na história do mundo ocidental.

Stedile pede reforme agrária – Imagem: Anselmo Cunha/PT

É ainda do conhecimento da natureza o apoio irrestrito dado por ­CartaCapital à candidatura do ex-presidente de volta ao poder. O retorno de Lula à Presidência encontra o suporte de figuras políticas decisivas no combate à pobreza no País mais desigual no mundo, consequência do profundo e até hoje não superado desequilíbrio social. Casa-grande e senzala ainda estão de pé, esta é a irretorquível verdade factual, conforme o pensamento de Hannah Arendt.

O economista Eduardo Moreira registra em papel impresso sua preocupação com os pobres cada vez mais pobres, enquanto outro empresário, João Carlos Camargo, pronuncia, ele também por escrito, sandices sem conta em uma entrevista à BBC News Brasil. Por exemplo: “Acredito ainda que o Bolsonaro é um grande player, forte, está com a máquina, aprovou no Senado este estado de emergência para liberar novos benefícios sociais”. E ainda: “Bolsonaro terminou a transposição do Rio São Francisco, concluiu as obras inacabadas”.

Doutor Bactéria e seu colchão da saúde total – Imagem: Redes sociais

Esta, por sinal, é uma inverdade clamorosa, já que a obra foi realmente terminada pelo ex-presidente. E é óbvio que é melhor um Moreira do que um João Camargo. Existem, porém, figuras bem mais representativas empenhadas em melhorar a vida da larga maioria do povo brasileiro. Em primeiro lugar, João Pedro Stedile e Guilherme Boulos. O líder do MST está na ofensiva, como é próprio da sua energia bem-posta, e logo pede a Lula presidente uma reforma agrária. Além disso, o Movimento vai convocar pequenos investidores para financiar a agricultura familiar. Um grupo de sete cooperativas prepara a sua primeira oferta pública no mercado de capitais. No setor, não é a sua estreia. Antes disso, emitiu títulos de renda fixa em outras duas ocasiões. A primeira, em maio de 2020, conforme relatou William Salasar no nosso site, captou 1 milhão de reais entre um grupo de cinco investidores.

Na luta contra a miséria, outro se distingue: Guilherme Boulos, adversário renhido da pobreza com ações em vários pontos do mapa paulistano e novos projetos já em andamento. Não há entre estes personagens a mais pálida chance de, ao contrário de muitos outros políticos bolsonaristas e do próprio demente, apostar na ignorância do povo brasileiro. E não são poucos. É notável no conjunto o presidente da Câmara, Arthur Lira, para não falar do defensor da Constituição, o Supremo Tribunal Federal, aquele poder da República que todo dia se exibe pomposamente na televisão.

Imagem: Redes sociais

Aqui ainda se aposta na parvoíce nativa, enquanto no mundo civilizado e democrático os Supremos agem discretamente, sem alardes e exibições de togas esvoaçantes. Há outras formas de botar fichas na credulidade popular. Na televisão multiplicam-se os anúncios, evidentemente rendosos para quem os leva a público. Existe, por exemplo, um Doutor Bactéria e ele vende um colchão destinado a garantir a imunidade de quantos nele se deitam, a salvo de quaisquer males físicos. Mas existem remédios para todos eles sem receita médica, sem farmácia, oferecidos pelo telefone. Cura-se absolutamente tudo, desde a falta de ereção para senhores de todas as idades e a depressão mais acabrunhadora, passando por torcicolos, dores lombares, bicos-de-papagaio.

Vai-se de pequenos frascos contendo água dos fiordes escandinavos até o unguento habilitado a devolver a libido a quem a perdeu, macho ou fêmea, ao longo da vida. Em países civilizados e democráticos, este tipo de propaganda seria proibido de forma taxativa. Em compensação, o Doutor Bactéria esfrega as mãos de puro contentamento. •

PUBLICADO NA EDIÇÃO Nº 1217 DE CARTACAPITAL, EM 20 DE JULHO DE 2022.

Este texto aparece na edição impressa de CartaCapital sob o título “O antídoto”

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