Economia

Por que Bitcoin e outras criptos não te protegem do mercado de baixa?

Quedas abalam profundamente a tese de que criptomoedas são um ativo descorrelacionado do resto dos mercados

Crise mundial pressiona ativos de alto risco como o Bitcoin. Foto: iStock
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Na esteira do maior aumento das taxas básicas de juros dos Estados Unidos em quase trinta anos, mercados globais de ações vêm derretendo de forma intensa. O grande responsável por esse processo é o medo geral de uma onda de inflação alta aliada a um baixo crescimento da economia, fenômeno conhecido como “estagflação” – preços mais altos com crescimento estagnado.

Nesse cenário, o Bitcoin e outras criptomoedas deveriam, em tese, oferecer proteção contra as quedas generalizadas no mercado de renda variável. Entretanto, no momento em que escrevo (16 de junho) a moeda negocia pouco abaixo da marca de 21 mil dólares – em novembro de 2021, ela era cotada a cerca de 67 mil dólares. Os preços do Ethereum, segunda maior criptomoeda, estão na casa dos 1.100 dólares, bem longe dos 4.800 dólares que marcaram a máxima em novembro de 2021.

Essas quedas, em linha com o resto dos mercados acionários globais, abalam profundamente a tese de que criptomoedas são um ativo descorrelacionado do resto dos mercados e tem capacidade de oferecer proteção em momentos de crise. Isso não chega a ser surpreendente para quem tem uma visão mais crítica das finanças, visto que esses ativos, atualmente, são basicamente especulativos.

O que quero dizer com isso é que, até o momento, criptomoedas não produzem nada nem geram valor econômico. Muita gente se surpreende quando descobre que o Bitcoin, que se propõe ser a moeda global do futuro, só consegue processar seis transações por segundo. Não, você não leu errado, são seis transações por segundo. Em entrevista, o CFO da Visa apontou que sua rede consegue processar 65 mil transações por segundo.

Na medida em que não servem a um uso prático, nem geram valor econômico concreto, e tem valor largamente especulativo, criptomoedas terão seu valor de negociação definido em larga medida pelo apetite de risco dos mercados globais. Daí que sua correlação com o índice da Nasdaq tenha subido de forma dramática nos últimos dois anos: o grande peso de empresas de tecnologia, que tem alto risco, reflete a disposição de apostar dinheiro nas criptomoedas.

Tudo funciona bem enquanto mais gente estiver disposta a pagar mais caro pela mesma criptomoeda, que foi o que aconteceu conforme estímulos monetários foram injetados nas economias durante a pandemia de Covid-19. Só que esse momento passou, a economia azedou e o dinheiro ficou mais escasso, gerando uma enorme pressão sobre ativos de alto risco. Logo, na medida em que mais e mais pessoas ou agentes institucionais saíam do mercado cripto, assim como do mercado de ações, as quedas foram brutais.

O que fazer com minhas criptomoedas?

Existe uma razão para criptomoedas formarem uma porção bem pequena da economia global, que é justamente o risco gigantesco desses ativos. Daí que, antes do rali de alta de 2021, a recomendação padrão entre profissionais fosse de que esses investimentos fossem feitos a fundo perdido. Isto é, sabendo de que as chances de perdas totais ou irrecuperáveis eram altamente prováveis.

Se você tem dinheiro alocado em alguns desses ativos, como Bitcoin, Ethereum ou outros, minha sugestão é que você comece a contemplar a possibilidade de realizar prejuízos no curto, médio ou longo prazo. É sempre bom lembrar que as perdas sempre exigem uma valorização percentual bem maior para serem sanadas. Se você perde 10% de 100, ficará com 90; mas se ganhar 10% em cima de 90, só terá 99.

Para quem pagou preços muito altos pelas criptos, essa proporção é muito mais desfavorável. Isto porque, até que o cenário das principais moedas mude, elas seguem sem aplicação concreta e ampla. Mesmo as empresas que oferecem serviços na área estão em situação delicada, a exemplo da Coinbase, maior Exchange do mundo, que deve demitir cerca de 18% da sua equipe – e olhe que ainda nem há regulação concreta para criptos ao redor do mundo.

Como fica daqui pra frente?

As perdas generalizadas em criptomoedas afetarão as vidas de muitas pessoas que foram pegas pela onda de marketing predatório, além dos golpes que hoje são comuns nesse meio. Isso reforça a importância fundamental de uma educação financeira crítica e focada no interesse de quem investe. Isso é especialmente verdadeiro tendo em vista que criptomoedas não são reguladas e tem caráter altamente descentralizado, dificultando a proteção de quem se aventura no meio.

Para quem for investir, minha sugestão é seguir o que a ciência mostra como sendo o caminho mais correto: ter uma carteira com o máximo de diversificação, usando ativos de renda fixa e variável. Quanto mais conservador for o seu perfil, maior o espaço para renda fixa, e quanto maior for a tolerância ao risco, maior o espaço para a renda variável. Tudo isso pode ser feito a baixo custo usando ETFs, ou fundos negociados em bolsa, que replicam índices globais de ações.

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