Economia

Novo coronavírus alimenta o risco de uma recessão mundial

Economistas advertem há tempos que economia caminha na corda bamba e destacam que o coronavírus poderia ser “o golpe” que a fará cair

Pessoas fazem fila em Hong Kong para comprar máscaras de proteção contra o coronavírus (Foto: Philip FONG / AFP)
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O mundo paralisa à medida que o novo coronavírus se propaga. Aviões que não decolam, escolas fechadas no Japão e eventos maciços suspensos na Suíça. A economia mundial enfrenta seu maior risco de recessão desde a crise financeira de 2008.

“Com exceção parcial da peste negra na Europa no século XIV, cada pandemia maior foi seguida de uma recessão” global, observou o professor Robert Dingwall, pesquisador da Universidade de Nottingham Trent, na Inglaterra. “Não acho que haja razão para que seja diferente desta vez”, acrescentou.

Muito antes da epidemia, o Fundo Monetário Internacional (FMI) advertiu que a recuperação mundial seria “frágil” e poderia tropeçar ao menor risco. Os economistas advertem há tempos que a economia caminha na corda bamba e destacam que o coronavírus poderia ser “o golpe” que a fará cair.

Enquanto a lista de medidas radicais para tentar conter o avanço do vírus crescem a cada dia, a epidemia originada na China se expande. Desde janeiro, fábricas pararam suas atividades na China e cidades inteiras foram confinadas. Na sexta-feira, os emblemáticos salões de alta relojoaria e do automóvel de Genebra foram cancelados. A Arábia Saudita deixou de receber peregrinos em direção a Meca. E na Itália há partidas de futebol disputadas a portas fechadas. Inclusive os Jogos Olímpicos de Tóquio estão em risco.

No mundo há 83.670 contagiados pelo coronavírus e 2.865 morreram, segundo um balanço da AFP a partir de fontes oficiais nesta sexta-feira 28. Todos os olhares se voltam para os Estados Unidos, onde até agora o vírus não atingiu com força, embora as autoridades sanitárias esperem que isto ocorra em breve.

Se há uma contaminação nos Estados Unidos, “a reação poderia ser extrema”, avalia Gregory Daco, economista-chefe da Oxford Economics. “Isto teria um impacto muito, muito negativo. A economia cairia em recessão imediatamente”, disse. “Os mercados financeiros atuam como um agente acelerador do sentimento de pânico”, acrescentou. Além de problemas para as fábricas e os fechamentos de escolas, o consumo, que representa 70% da atividade nos Estados Unidos, poderia ser afetado bruscamente.

O vírus não chegou, mas o medo é perceptível: em Washington, as pessoas evitam apertos de mão durante uma conferência e os usuários do metrô observam inquietos seus vizinhos que tossem. Os americanos adiam suas viagens. Se a maior economia do mundo cair em recessão, o resto do planeta sofreria.

O FMI reduziu suas previsões de crescimento mundial para 2020, levando em conta o impacto sobre a China, a segunda maior economia do mundo. Mas isso foi antes da epidemia mundial. “Isto evolui constantemente (…) Ainda há muitas coisas que ignoramos”, expressou na quinta-feira o porta-voz do organismo, Gerry Rice, que deu a entender que as reuniões do FMI e do Banco Mundial em meados de abril, que mobilizam dezenas de milhares de pessoas a cada ano, não poderão ser realizadas em seu formato habitual.

O medo ameaça a economia

Diante do “impacto econômico evidente (…) Precisamos de uma liderança profissional e política clara, confiante e unida, o que sempre é difícil em um país onde a responsabilidade da saúde pública está tão descentralizada como nos Estados Unidos”, destacou Dingwall. O pesquisador britânico afirmou que será igualmente difícil gerir o temor da população em um ambiente político complicado.

Barry Glassner, sociólogo americano autor de “Culture of Fear” (A cultura do medo), destacou por sua vez que “as nações e os indivíduos precisam tomar suas precauções, entre elas combater o medo, que se estende ao menos tão rapidamente quanto o vírus”. “É potencialmente mais perigoso (que) as populações e os governos deem com frequência respostas menos racionais quando o medo os domina”, concluiu.

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