Economia

Bolsonaro e Guedes cogitam ideia de moeda em comum com a Argentina

Enquanto o governo brasileiro revelava o plano, manifestantes protestavam contra o presidente na Praça de Maio

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Num encontro com empresários em Buenos Aires nesta quinta-feira 6, o presidente Jair Bolsonaro e o ministro da Economia, Paulo Guedes, revelaram que Brasil e Argentina avaliam a criação de uma moeda comum: o “peso real”. Não se trata de uma moeda única que substitua o real ou o peso, mas de uma moeda comum, um passo anterior a uma moeda única.

O plano surgiu a partir de uma sintonia no pensamento econômico liberal entre os dois países e a necessidade de uma coordenação que evite o impacto no fluxo comercial bilateral das flutuações de uma moeda, especialmente em tempos de instabilidade nos mercados emergentes.

Os dois governos avaliam que uma moeda comum poderia facilitar o comércio bilateral e reduzir obstáculos com sócios comerciais extra-Mercosul, sobretudo a partir de um iminente acordo comercial com a União Europeia. As conversas começaram em abril passado como forma de aprofundar a integração bilateral e depois ampliar a experiência ao Mercosul.

Esta não é a primeira vez que Brasil e Argentina procuram coordenar políticas macroeconômicas para a criação de uma moeda comum. A ideia começou em 1999, mas fracassou devido ao colapso da economia argentina em 2001. Em 2003, os dois países anunciaram a criação de um Instituto Monetário que também não avançou.

Manifestação contra Bolsonaro

Enquanto o governo brasileiro revelava o plano de uma moeda comum, manifestantes protestavam contra o presidente Bolsonaro na Praça de Maio. Um protesto contra Bolsonaro, mas que, no fundo, foi também contra Macri, que se prepara para uma campanha pela sua reeleição em outubro. “Bolsonaro representa o pior do ser humano: a violência contra as mulheres, contra os pobres, a discriminação. Corta o orçamento da Educação, permite o desmatamento da floresta amazônica”, considera o professor Guillermo Ferreira (50).

Bolsonaro não foi bem-vindo em Buenos Aires

“Protestamos contra Bolsonaro, mas também contra Macri porque estamos convictos de que as lutas não podem ficar limitadas ao espaço nacional. O fascismo deve ser repudiado sem fronteiras”, explica o operário Carlos Zerrizuela (47), representante sindical num frigorífico. “O discurso de Bolsonaro é mais fascista; o de Macri está dentro dos limites do republicanismo, mas os dois aplicam o mesmo plano de reprimir o pobre e de retirar o direito dos trabalhadores”, compara Zerrizuela.

A brasileira Vanessa Teixeira de Oliveira (42) foi morar em Buenos Aires em fevereiro, um mês depois de Bolsonaro assumir a Presidência. “Estou muito preocupada com a situação no Brasil. É a necropolítica, uma política voltada para a morte: desmatamento, falta de respeito com os índios, com a cultura, com a educação”, observa. “Este protesto é contra Bolsonaro e contra Macri. Macri tem um verniz que o Bolsonaro não tem. Essa é a diferença”, indica.

Protesto contra Bolsonaro na Argentina (Foto: Damian Dopacio/ Noticias Argentinas/ AFP)

Já a arquiteta Florencia Beviglia (31) está preocupada com a postura de Bolsonaro em relação ao meio ambiente. “Minha preocupação principal é com as alterações climáticas. Basicamente, Bolsonaro é um inimigo de tudo o que for sustentável. Está rifando a Amazônia. Não percebemos agora, mas daqui a 30 anos, os efeitos das alterações climáticas serão irreversivelmente catastróficos”, adverte Florencia.

O professor Juan Pablo Fort Flenagan (50) sofreu na adolescência devido a sua condição de homossexual numa sociedade sem liberdade nem maturidade, a mesma que agora Juan Pablo vê ameaçada no Brasil de Bolsonaro. “Quando eu tinha 13 anos, a Polícia batia. Eu chorei muito. Fui violentado fisicamente. Por isso eu estou aqui para que nunca mais isso aconteça. Represento uma geração que foi muito violentada pela sociedade em geral. Eu acho que as pessoas precisam de liberdade de pensamento. Estou aqui para dizer que Bolsonaro não. Ele não na Argentina”, repudia Juan Pablo. O protesto contra Bolsonaro avançou durante a noite, mas não superou as três mil pessoas, metade do que as mais de 60 organizações sociais, sindicais e políticas pretendiam.

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