Economia

A Semana do Mercado: desaceleração na China deprime bolsas ao redor do mundo

A semana que se inicia é fraca de indicadores e eventos econômicos, tanto aqui quanto lá fora

Um trabalhador usa uma tocha para cortar tubos de aço perto da Usina Elétrica Datang International Zhangjiakou movida a carvão em Zhangjiakou, uma das cidades-sede dos Jogos Olímpicos de Inverno de 2022, no norte da China (Foto: GREG BAKER / AFP)
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Aqui, o principal indicador em vista é o IGP-M, a ser divulgado na sexta-feira, pela Fundação Getúlio Vargas. Lá fora, o evento mais relevante fica por conta da publicação, na quarta-feira, da ata da mais recente reunião de política monetária do Fed, na qual analistas e investidores buscarão novas pistas sobre as perspectivas do aperto monetário para as próximas reuniões.

Ao longo da semana, os investidores também estarão de olho nos indicadores vindos da Europa, especialmente nos números do PIB e da inflação da zona do euro, em meio à preocupação de que a região entre em recessão.

Mas a China é quem dá o tom dos mercados hoje, após seu banco central, o BPoC (Banco do Povo da China) ter surpreendido analistas e investidores com novo corte das suas taxas básicas, reagindo à desaceleração da atividade econômica registrada nos indicadores de atividade divulgados na semana passada.

As vendas no varejo em julho avançaram 2,7% em relação ao mesmo período do ano passado, bem abaixo das expectativas de mercado de 4,9%, confirmando uma desaceleração do consumo privado sinalizada pela evolução mais moderada do crédito no período. A produção industrial avançou 3,8%, também abaixo das expectativas do mercado de 4,3%, mas com algum fôlego resultante do bom desempenho das exportações.

Em resposta a esses dados, o BC chinês reduziu a taxa de empréstimo de médio prazo em 0,10 p.p., de 2,85% para 2,75%.

Os dados decepcionantes da atividade chinesa pesaram nos preços de commodities, assim como nas bolsas internacionais e, por tabela, na B3. A bolsa brasileira abriu com baixa de 1,41%, após uma semana de altas, que culminou na sexta-feira, com alta de 2,77% do Índice Bovespa, aos 112.764 pontos.

As ações de petroleiras estão entre as maiores quedas do dia, acompanhando a tendência do exterior, já que os barris de petróleo do tipo Brent e WTI caem mais de 5%, enquanto os contratos futuros de minério de ferro nas bolsas de Dalian e Cingapura caíram, respectivamente 2,9%, e 3,1%. Com isso, caíam as ações de Petrobras (-3%, para 30,76 reais) e Vale (-3,77% para 67,17 reais, puxando o Índice Bovespa para 111.439 pontos, queda de 1,18%.

A queda dos juros chineses vai na contramão dos principais bancos centrais do mundo, que estão no meio de ciclo de alta de juros.  O Federal Reserve (Fed), que já elevou suas taxas de perto de 0% para 2,5%, irá divulgar a ata de sua última reunião de política monetária nesta quarta. As expectativas para a próxima decisão estão divididas, em cerca de 50% para uma elevação de 0,50 ponto percentual e 50% para uma alta de 0,75%, que levaria o juro para entre 3% e 3,25%.

No Brasil, crescem as perspectivas de que o Banco Central interrompa a sequência de altas de juros, sem novos ajustes até o fim do ano – como indicado na ata da última reunião Copom, realizada nos dias 2 e 3, quando voltou a elevar a Selic em 0,5 p.p, para 13,75% a.a.

O documento sinalizou a perspectiva de manutenção da taxa Selic na próxima reunião, já que o BC apontou que a projeção de inflação para o 1º tri de 2024 (livre dos impactos das alterações tributárias recentes), que está em 3,5%, é “compatível com a estratégia de convergência da inflação para o redor da meta ao longo do horizonte relevante”. O Relatório Focus desta semana mostrou que os economistas de mercado consultados pelo BC entenderam o recado e mantiveram a expectativa para a taxa básica de juros da economia, a Selic, em 13,75% ao ano no fim de 2022.

A projeção dos juros está alinhada com as expectativas de queda da inflação neste ano, que foram reduzidas, pela sexta semana consecutiva. Os economistas de mercado esperam, agora, um IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo, o indicador que baliza as ações do BC) de 7,11% no final do ano, ante 7,15% projetados na semana passada. Já para a inflação de 2023 e 2024, as expectativas subiram: para o IPCA de 2023 subiu de 5,36% para 5,38%, marcando a 19ª semana seguida de alta nas projeções, e para a estimativa foi elevada de 3,30% para 3,41%.

No entanto, os economistas consultados pelo Focus projetam um crescimento da economia de 1,98%, praticamente a mesma taxa da semana passada, de 1,97%.  Também mantiveram inalterada a projeção de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) da semana passada: 0,40%.

O BC também publicou hoje seu Índice de Atividade Econômica (IBC-Br), considerado um indicador prévio de desempenho do Produto Interno Bruto (PIB). O IBC-Br subiu 0,69% em junho na comparação com maio, acima do esperado pelo mercado (que projetava um crescimento de 0,25%, segundo o consenso Refinitiv), interrompendo duas quedas consecutivas. As quedas de abril e maio foram revisadas para pior pelo BC (a de abril passou de -0,44% para -0,52% e a de maio, de -0,11% para -0,26%).

Com o resultado de junho, o IBC-Br subiu 0,57% no segundo trimestre mesmo com o recuo na atividade em 2 dos 3 meses e acumula alta de 2,24% no ano e de 2,18% em 12 meses.

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