Cultura

Socorro Lira recupera poemas de autoras “silenciadas” pela história

Compositora realiza projeto de musicar poesias ‘esquecidas’ desde o século XVIII

Cantora Socorro Lira tem quase 20 anos de carreira e desenvolve trabalho para o protagonismo da mulher na arte. Foto: Patrícia Ribeiro/Divulgação
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A cantora, compositora e escritora Socorro Lira, além de sua estreita ligação com a cultura popular, desde os tempos em que vivia em Brejo do Cruz, onde nasceu no sertão paraibano, desenvolve significativo trabalho voltado ao protagonismo da mulher na arte.

Com o seu projeto Avivavoz ela musicou dez poetisas brasileiras que publicaram entre os séculos XVIII a XX no país. No total, foram criadas 102 canções.

“A ideia é recuperar essas vozes silenciadas pela borracha que apaga a mulher da história”, diz.

O primeiro álbum dessa iniciativa tem o nome de Cantos à Beira-Mar e é dedicado a Maria Firmina dos Reis, considera a primeira romancista brasileira.

Socorro Lira pretende divulgar o Cantos à Beira-Mar ao longo de 2020, pois em 2021 o livro homônimo da escritora maranhense completará 150 anos.

O projeto Avivavoz é realizado pela musicista em parceria com as escritoras Maria Valéria Rezende e Susana Ventura.

Outra iniciativa de destaque de Socorro Lira à questão da mulher na arte está no seu álbum Cores do Atlântico, de cantigas galego-portuguesas, transcritas da tradição oral, lançado em 2010 na Espanha e Portugal e em 2016 aqui no Brasil.

Um trabalho acadêmico desenvolvido na França, onde a cantora foi pesquisar para fazer o álbum, aponta que referidas cantigas são de uma tradição de mulheres cantoras da região da Galícia e norte de Portugal, onde elas cuidavam da coesão familiar e da vida da comunidade enquanto os maridos estavam envolvidos em lutas no período medieval.

“Tenho me dedicado a criar condições para nos expressarmos enquanto mulheres artistas que, por causa da misoginia e do machismo insistente, não obteve o necessário reconhecimento”.

No sertão da Paraíba

A paraibana comenta que a sua musicalidade teve forte influência da comunidade quilombola Caiana dos Crioulos, no interior da Paraíba. Dessa convivência de anos saíram dois de seus álbuns e um documentário com cirandas, cocos de roda entre outras danças e ritmos.

Ela ainda criou o Projeto Memória Musical da Paraíba, que trabalha com artistas e grupos de cultura popular no Estado, tendo já feito vários registros de manifestações populares. Mas lamenta a dança de São Gonçalo esquecida em sua cidade de origem, além de ver com preocupação o desmantelamento da cultura.

“A arte precisa ser fomentada e financiada por que o negócio chamado entretenimento dispõe de dinheiro da iniciativa privada. De todo modo, mesmo que passemos essa agonia, precisamos inventar coisas, até que o país possa retomar o caminho da democracia. Uma ditadura com esse viés anacrônico, retrógrado e bizarro só atrasa o crescimento”.

 

13º álbum

Além de Cantos à Beira-Mar, Socorro Lira lançou em 2019 o seu décimo terceiro álbum autoral, Chama, com arranjos do pernambucano Jorge Ribbas, participação do Quinteto da Paraíba, capa de Elifas Andreato e realizado a partir de parceira com a empresa Metanoia Propósito nos Negócios.

Em 2020, lançará o livro Falar dos Meus Amores Invisíveis, seu primeiro romance. “Também quero dedicar mais tempo ao Espaço Mata Branca, projeto que temos em Brejo do Cruz, sertão da Paraíba, que oferece arte para crianças, especialmente”.

Nos quase 20 anos de carreira, Socorro Lira, que vive em São Paulo desde 2004, segue ligada à sua procedência onde a cultura popular define parte importante da identidade do sertão.

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