Cultura

Rapper Fabio Brazza: “O artista se alimenta da aglomeração”

Músico, que passou por depressão, se reencontra em novo trabalho

Foto: Pedro Viana/Divulgação
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Já se foram pouco mais de 10 anos que Fabio Brazza começou a frequentar as rodas onde palavras de improviso tornam-se um duelo entre participantes, com a batida predominante do hip hop, na chamada batalha de rimas. 

“Sinto falta. Aprendi muito. São pessoas de realidade diferente. Você se desconstrói. Cheguei cheio de preconceito, petulância. Tinha que viver na prática o que era o rap. É importante que continue, na rua, desse jeito. Nessa expressão mais crua”, diz.

Brazza conta que meninos marginalizados se transformam em heróis quando pisam nas calçadas onde ocorrem as batalhas de rimas. E lembra de um trecho de Centauros, uma das músicas que está lançando em seu quinto álbum solo: “O hip-hop transforma moleques em centauros / Armados, mais sem Tauros / Sabota trocou a arma pelo mic / Mas ainda precisamos de mais uns cem Mauros”.

Na rima, a arma Taurus virou “Tauros”, Sabota é o rapper Sabotage (assassinado em 2003), “mic” é o redutivo de microfone e “Mauros” é uma referência a Mauro Mateus dos Santos, verdadeiro nome do ícone do rap Sabotage.

A letra de Centauros segue com várias referências às angústias pessoais. É uma das faixas desse novo trabalho que o rapper diz ser relacionada a “parte fúnebre” e “fundo do poço” do álbum. “A outra parte é eu saindo dessa depressão, reencontrando o significado”.

Ano difícil

Um dos redescobrimentos é com a música Toda Gratidão, o sétimo single lançado do álbum Isso Não É um Disco de Rap – Fabio Brazza já lançou sete faixas das 12 do álbum.

“Esse disco em que eu mais me abri de coisas pessoais trouxe dilemas. Lances que passei da depressão. Sempre tentei transmitir sentimentos, mas eram coletivos”.

O rapper Fabio Brazza teve um ano difícil em 2019. “Depressão é a escuridão total. Não tem prazer de nada. Pensei em parar de fazer rap, deixar de viver. A música foi uma terapia para mim”.

O poeta diz ter dialogado com seus sentimentos no período.  A composição Toda Gratidão “lembra todos os motivos para ser feliz, quanto coisa para celebrar a vida, seguir em frente”. 

Neto do poeta concreto Ronaldo Azeredo e sobrinho neto do também poeta Augusto de Campos, Fabio Brazza tem passado o período de isolamento social lendo e assistindo documentários.

“Preocupação com minha família. Tem a questão profissional de shows. A gente não sabe quando vai voltar. O artista se alimenta da aglomeração. Nosso trabalho é criar aglomerações. A gente busca inspiração nessa troca humana. A falta delas entristece a alma”.

Ele afirma que após a pandemia tinha vontade de fazer um álbum de samba, uma de suas referências no seu trabalho, já que possui várias composições do gênero.

“O rap como mensagem ele às vezes traz uma mensagem muito sombria do futuro. Falta essa semente de esperança que no samba se encontro mais. Na minha depressão fui muito na roda de samba, pegava meu cavaquinho”, diz.

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