Cultura
Ranking das melhores cidades do mundo despreza as metrópoles
Viena, a ex-capital imperial austríaca, lidera a lista
Viena é o lugar onde se espera encontrar senhorinhas de cashmere numa confeitaria avarandada, bebericando chocolate amargo derretido no leite e comendo confeitos de baunilha; é a terra das operetas saltitantes, dos minuetos rodopiantes e das polcas marciais, do Danúbio Azul e das ruelas sombrias assombradas pelo espectro dos espiões da Guerra Fria. O bolor que persiste em sua imagem é ilusório. A ex-capital imperial dos austríacos, dos húngaros e de tantas etnias dos Bálcãs tem uma vitalidade charmosa que a leva a encabeçar o ranking das melhores cidades do mundo. Num deles há dez anos consecutivos.
Global Finance faz o consolidado das outras listas, como o da Intelligence Unit da semanal The Economist, do Deutsche Bank e da elegantíssima revista Monocle, e é espantoso como são mínimas as diferenças nas escolhas, a começar por uma Viena cujo apogeu parecia ter brilhado na época de Sigmund Freud, Egon Schiele e Arthur Schnitzler. Uma cidade suíça, Zurique, faz unânime dueto com Viena no topo das listas, o que confirma que os critérios do julgamento, nada dionisíacos, seriam capazes de matar de tédio a torcida do Flamengo.
Avaliar a qualidade de vida de uma comunidade tomando por base quesitos tais como segurança, infraestrutura, oferta imobiliária, saúde, recursos naturais, transporte público, educação e equipamentos culturais é expor o Brasil ao vexame de competir com cidades africanas lá no pé do ranking.
As melhores cidades do mundo
Metrópoles trepidantes não oferecem o conforto relaxante de cidades da Segunda Divisão
- Viena, Áustria
- Zurique, Suíça
- Vancouver, Canadá
- Munique, Alemanha
- Auckland, Nova Zelândia
- Düsseldorf, Alemanha
- Frankfurt, Alemanha
- Copenhague, Dinamarca
- Genebra, Suíça
- Basel, Suíça
- Sydney, Austrália
A supercampeã Viena, na verdade, sempre teve apreço pelos aspectos de sua paisagem urbana. Uma cidade peculiar porque seu miolo histórico é predominantemente uma sesmaria imperial, bem mais que Londres, parques e bosques circundando a esplendorosa pérola barroca que é o Palácio de Schönbrunn. Seria como se Versalhes e seu entorno ficassem nos Champs-Élysées, em Paris.
A dinâmica Frankfurt tem seu momento casas de boneca
Schönbrunn começou a ser erguido no fim do século XVII por encomenda do imperador Leopoldo I ao arquiteto Johann Bernhard Fischer von Erlach, recém-chegado de um estágio em Roma. Seria um presente para o príncipe herdeiro, depois imperador José I: um pavilhão de caça que usufruísse dos bosques das redondezas. Ao longo dos anos, o palácio expandiu-se pelos 1.441 aposentos necessários para abrigar todo o aparato da corte dos Habsburgo.
Sydney é o lugar onde parece que ninguém trabalha
O urbanismo de sangue azul começa a perder a hegemonia em meados do século XIX com o progressivo enriquecimento da burguesia mercantil e do estamento estatal. O fenômeno coincide com o bota-abaixo do barão Haussmann em Paris, o traçado ideológico dos amplos boulevars que vão dificultar as barricadas revolucionárias e expulsar para longe os artesãos proletarizados. Em Viena, a subversão urbanística veio na figura da RingStrasse, ou apenas Der Ring, O Anel.
As piores
Guerras, desastres e fome definem os lugares mais infelizes do mundo.
231. Bagdá, Iraque
230. Bangui, República Centro-Africana
229. Sanaa, Iêmen
228. Porto Príncipe, Haiti
227. Cartum, Sudão
226. N’Djamena, Chade
225. Damasco, Síria
224. Brazzaville, Congo
223. Kinshasa, República Democrática do Congo
222. Conacri, Guiné
O amplo bulevar abriu-se como uma avenida de contorno às propriedades monárquicas. Seguia o curso da muralha medieval, enfim botada no chão. De 1860 a 1890, por aí, os novos-ricos do comércio, da magistratura e das profissões liberais acorreram para os prédios de diferentes estilos (clássico, gótico, renascentista, barroco), mas de escala respeitosa e bom gosto estético, tanto que a Unesco tombou O Anel como patrimônio da humanidade.
Em Damasco, a guerra civil leva a tormentosas improvisações
Viena espanou a pátina do tempo, modernizou-se e venceu desafios como o de acolher uma avalanche de expatriados da Europa do Leste quando o comunismo ruiu, nos anos 90. A cidade tem o volume populacional ideal (1,8 milhão de moradores) e a topografia ajuda, aquela planura extensa que se esparrama por 415 quilômetros quadrados.
Porto Príncipe mostra o Haiti recuperando-se do terremoto de 2010
Não é surpresa que o ranking do bem-estar urbano privilegie cidades de porte médio e de encanto menos estrepitoso, uma Vancouver, uma Auckland, uma Sydney, em detrimento das hipermetrópoles problemáticas, Nova York, Londres e Paris, as quais, à exceção de Tóquio, ficam longe dos primeiros lugares. Os globe-trotters hão de reconhecer que, divergências à parte, eis aí uma lista perfeita.
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