Cultura

Nunca mais o passado

Em entrevista, Will Smith elogia Barack Obama e espera que a máquina do tempo de Homens de Preto 3 o deixe longe da época de sofrimentos dos negros norte-americanos

A máquina do tempo em Homens de Preto 3
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Quando um repórter perguntou em entrevista coletiva no Hotel Copacabana Palace, em fevereiro, para que momento histórico Will Smith gostaria de viajar em uma virtual máquina do tempo, a resposta foi tão curta quanto certeira: “Para mim e para minha gente, qualquer lugar no passado vai ficando pior”. Homens de Preto 3, que estreia no Brasil uma década após o segundo título da lucrativa série, é a primeira produção estrelada pelo artista em quatro anos. No filme, o Agente J (vivido por Smith) volta ao passado para salvar o planeta e, de lambuja, a vida do parceiro, o Agente K. O papel, consagrado por Tommy Lee Jones, agora é encarnado por Josh Brolin, em versão jovem, nos anos 60. “Este é o melhor momento para o meu povo. Se tivesse de voltar no tempo, queria parar anteontem, quando Barack (Obama) assumiu a Presidência. Seria perfeito”, diz Smith. “Os brancos, no entanto, é claro, podem ir para qualquer lugar no passado que estarão bem.”

Poucas horas depois, em entrevista para um grupo reduzido de repórteres, CartaCapital voltou ao tema lançado pelo próprio protagonista de Homens de Preto 3, o artista negro mais bem-sucedido da história de Hollywood, a única estrela a alcançar a marca de oito filmes consecutivos, vendendo mais de 100 milhões de dólares nas bilheterias dos cinemas americanos e com enorme expressão nos quatro cantos do planeta. “Sou um grande fã de Barack, como homem e presidente dos Estados Unidos. O que ele fez pelo mundo, até mesmo ignorando o aspecto político, é algo impressionante. A ideia de um negro presidente dos EUA soa absolutamente fantástica ainda hoje. Sabe o que me deixa chateado? Se há seis ou sete anos nós em Hollywood tivéssemos contado, em tom realista, a história de um negro vencendo as eleições para presidente dos EUA, ouviríamos a maioria das pessoas dizendo que seria o pior filme de todos os tempos. Algo como ‘só mesmo no cinema americano, lá vêm eles com as palhaçadas deles’, o candidato negro jamais, nunca venceria no fim da projeção”, ele acredita.

 

 

Pouco antes da conversa, a assessoria de imprensa do ator pediu que temas pessoais e polêmicos fossem evitados. Smith teve de fazer um sinal claro com as mãos, interrompendo a assessora, para seguir tratando do assunto que ele mesmo trouxe à tona no começo do dia. Para o bem e para o muito bem, o ator de 43 anos ultrapassa a linha do politicamente correto defendida por Hollywood em suas interações com a mídia mundial. Ao divulgar Homens de Preto 3 em Moscou, o ator se esquivou de um repórter beijoqueiro (o vídeo, com o engraçadinho dando um selinho no ator, que reage dando-lhe um tapa, virou febre na internet). Saiu-se com um “graças a Deus pelos EUA existirem!” ao saber da proposta feita pelo presidente eleito da França, François Hollande, de aumento de Imposto de Renda para a parcela mais rica da população (Smith depois disse à Associated Press que paga com “tranquilidade” qualquer imposto que “ajude a economia dos EUA a seguir crescendo”) e cantou, na BBC, juntamente com todo o auditório do programa do comediante Graham Norton, o rap de abertura da série televisiva Um Maluco no Pedaço, que até hoje passa no SBT.

A última cena, em especial, parece ser uma resposta às afirmativas de que Smith havia perdido a conexão com seu público, desde o fracasso de seu filme anterior, Sete Vidas, escolhido por críticos americanos e britânicos como o pior filme de 2008. Não por acaso, entre seus próximos filmes, depois de Homens de Preto 3, estarão Hancock 2, Bad Boys 3 e Eu, Robô 2. Mas é o próprio ator, na conversa com jornalistas, quem desmitifica o poder de fogo das sequências. O hiato de uma década entre os tomos 2 e 3 de Homens de Preto, admite Smith, ocorreu por causa de a primeira sequência ser ruim. “Não há nada mais angustiante do que estragar algo que você sabe que é bom. A gente fez besteira no segundo filme, não é? Talvez o tenhamos realizado pelos motivos errados, fomos um pouco arrogantes. Parece que estávamos indo mais para uma volta olímpica do que para fazer um filme. Agora é diferente, estamos respondendo a uma ideia. Esta é a única maneira decente de se fazer um filme, não simplesmente pensar que será um sucesso financeiro para todos os envolvidos. Este é sempre o beijo da morte. O terceiro é um filme muito mais maduro. Até os últimos três minutos há surpresas que reinventam a série.”

As primeiras críticas começam a pipocar. A Empire, quiçá a revista mensal especializada mais respeitada do gênero, não gostou do que viu. William Thomas escreve que os problemas durante a filmagem (que começou sem um roteiro final, alterado diversas vezes, até mesmo pelo próprio Smith, responsável pela ideia central da máquina que permite aos agentes voltar no tempo) estão explicitados na hora e meia de uma história recheada de boas piadas e celebridades disfarçadas de ETs, como Lady Gaga, mas não muito mais do que isso. A química com Tommy Lee Jones teria desaparecido e, aponta Thomas, “é quando Smith volta a ser ele mesmo, no passado, sem a parafernália de efeitos especiais”, que o filme dá mais prazer ao espectador.

De volta ao Copacabana Palace, Smith reflete sobre a própria trajetória e afirma que seu “uniforme” natural ainda é o de comediante. “É como me sinto mais natural, na comédia, fazendo graça. Envelhecendo, tenho gostado mais e mais de papéis dramáticos, como em Ali ou À Procura da Felicidade, curiosamente os dois filmes pelos quais recebi indicações ao Oscar, em 2002 e 2007. Queria voltar a fazer algo sobre a condição humana, que pode até ser embrulhada no formato arrasa-quarteirão, mas que não comprometa o projeto como um todo. O mais próximo disso, para mim, foi Eu Sou a Lenda, que é um filme de estúdio, mas, no coração, algo mais intimista. O cão é quem tem mais tempo de câmera depois de mim”, diz.

Se dependesse de Smith e não de Hollywood, seu próximo filme seria uma cinebiografia do maior herói da luta contra o apartheid na África do Sul. “Gostaria de ser Nelson Mandela no cinema. É o personagem dos meus sonhos. E acho que estou na idade certa para fazê-lo. A história da África do Sul e do apartheid é importante para mim. O cinema já a contou, mas não da maneira que sinto aqui dentro. É uma história absolutamente humanista, em todos os ângulos.” E reflete sobre a máquina do tempo que criou para seu personagem em Homens de Preto 3: “Sou favorável a que os negros sempre viajem para a frente. Para o futuro e avante”.

Quando um repórter perguntou em entrevista coletiva no Hotel Copacabana Palace, em fevereiro, para que momento histórico Will Smith gostaria de viajar em uma virtual máquina do tempo, a resposta foi tão curta quanto certeira: “Para mim e para minha gente, qualquer lugar no passado vai ficando pior”. Homens de Preto 3, que estreia no Brasil uma década após o segundo título da lucrativa série, é a primeira produção estrelada pelo artista em quatro anos. No filme, o Agente J (vivido por Smith) volta ao passado para salvar o planeta e, de lambuja, a vida do parceiro, o Agente K. O papel, consagrado por Tommy Lee Jones, agora é encarnado por Josh Brolin, em versão jovem, nos anos 60. “Este é o melhor momento para o meu povo. Se tivesse de voltar no tempo, queria parar anteontem, quando Barack (Obama) assumiu a Presidência. Seria perfeito”, diz Smith. “Os brancos, no entanto, é claro, podem ir para qualquer lugar no passado que estarão bem.”

Poucas horas depois, em entrevista para um grupo reduzido de repórteres, CartaCapital voltou ao tema lançado pelo próprio protagonista de Homens de Preto 3, o artista negro mais bem-sucedido da história de Hollywood, a única estrela a alcançar a marca de oito filmes consecutivos, vendendo mais de 100 milhões de dólares nas bilheterias dos cinemas americanos e com enorme expressão nos quatro cantos do planeta. “Sou um grande fã de Barack, como homem e presidente dos Estados Unidos. O que ele fez pelo mundo, até mesmo ignorando o aspecto político, é algo impressionante. A ideia de um negro presidente dos EUA soa absolutamente fantástica ainda hoje. Sabe o que me deixa chateado? Se há seis ou sete anos nós em Hollywood tivéssemos contado, em tom realista, a história de um negro vencendo as eleições para presidente dos EUA, ouviríamos a maioria das pessoas dizendo que seria o pior filme de todos os tempos. Algo como ‘só mesmo no cinema americano, lá vêm eles com as palhaçadas deles’, o candidato negro jamais, nunca venceria no fim da projeção”, ele acredita.

 

 

Pouco antes da conversa, a assessoria de imprensa do ator pediu que temas pessoais e polêmicos fossem evitados. Smith teve de fazer um sinal claro com as mãos, interrompendo a assessora, para seguir tratando do assunto que ele mesmo trouxe à tona no começo do dia. Para o bem e para o muito bem, o ator de 43 anos ultrapassa a linha do politicamente correto defendida por Hollywood em suas interações com a mídia mundial. Ao divulgar Homens de Preto 3 em Moscou, o ator se esquivou de um repórter beijoqueiro (o vídeo, com o engraçadinho dando um selinho no ator, que reage dando-lhe um tapa, virou febre na internet). Saiu-se com um “graças a Deus pelos EUA existirem!” ao saber da proposta feita pelo presidente eleito da França, François Hollande, de aumento de Imposto de Renda para a parcela mais rica da população (Smith depois disse à Associated Press que paga com “tranquilidade” qualquer imposto que “ajude a economia dos EUA a seguir crescendo”) e cantou, na BBC, juntamente com todo o auditório do programa do comediante Graham Norton, o rap de abertura da série televisiva Um Maluco no Pedaço, que até hoje passa no SBT.

A última cena, em especial, parece ser uma resposta às afirmativas de que Smith havia perdido a conexão com seu público, desde o fracasso de seu filme anterior, Sete Vidas, escolhido por críticos americanos e britânicos como o pior filme de 2008. Não por acaso, entre seus próximos filmes, depois de Homens de Preto 3, estarão Hancock 2, Bad Boys 3 e Eu, Robô 2. Mas é o próprio ator, na conversa com jornalistas, quem desmitifica o poder de fogo das sequências. O hiato de uma década entre os tomos 2 e 3 de Homens de Preto, admite Smith, ocorreu por causa de a primeira sequência ser ruim. “Não há nada mais angustiante do que estragar algo que você sabe que é bom. A gente fez besteira no segundo filme, não é? Talvez o tenhamos realizado pelos motivos errados, fomos um pouco arrogantes. Parece que estávamos indo mais para uma volta olímpica do que para fazer um filme. Agora é diferente, estamos respondendo a uma ideia. Esta é a única maneira decente de se fazer um filme, não simplesmente pensar que será um sucesso financeiro para todos os envolvidos. Este é sempre o beijo da morte. O terceiro é um filme muito mais maduro. Até os últimos três minutos há surpresas que reinventam a série.”

As primeiras críticas começam a pipocar. A Empire, quiçá a revista mensal especializada mais respeitada do gênero, não gostou do que viu. William Thomas escreve que os problemas durante a filmagem (que começou sem um roteiro final, alterado diversas vezes, até mesmo pelo próprio Smith, responsável pela ideia central da máquina que permite aos agentes voltar no tempo) estão explicitados na hora e meia de uma história recheada de boas piadas e celebridades disfarçadas de ETs, como Lady Gaga, mas não muito mais do que isso. A química com Tommy Lee Jones teria desaparecido e, aponta Thomas, “é quando Smith volta a ser ele mesmo, no passado, sem a parafernália de efeitos especiais”, que o filme dá mais prazer ao espectador.

De volta ao Copacabana Palace, Smith reflete sobre a própria trajetória e afirma que seu “uniforme” natural ainda é o de comediante. “É como me sinto mais natural, na comédia, fazendo graça. Envelhecendo, tenho gostado mais e mais de papéis dramáticos, como em Ali ou À Procura da Felicidade, curiosamente os dois filmes pelos quais recebi indicações ao Oscar, em 2002 e 2007. Queria voltar a fazer algo sobre a condição humana, que pode até ser embrulhada no formato arrasa-quarteirão, mas que não comprometa o projeto como um todo. O mais próximo disso, para mim, foi Eu Sou a Lenda, que é um filme de estúdio, mas, no coração, algo mais intimista. O cão é quem tem mais tempo de câmera depois de mim”, diz.

Se dependesse de Smith e não de Hollywood, seu próximo filme seria uma cinebiografia do maior herói da luta contra o apartheid na África do Sul. “Gostaria de ser Nelson Mandela no cinema. É o personagem dos meus sonhos. E acho que estou na idade certa para fazê-lo. A história da África do Sul e do apartheid é importante para mim. O cinema já a contou, mas não da maneira que sinto aqui dentro. É uma história absolutamente humanista, em todos os ângulos.” E reflete sobre a máquina do tempo que criou para seu personagem em Homens de Preto 3: “Sou favorável a que os negros sempre viajem para a frente. Para o futuro e avante”.

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