Augusto Diniz | Música brasileira

Jornalista há 25 anos, Augusto Diniz foi produtor musical e escreve sobre música desde 2014.

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Luiz Caldas e o axé music: ‘Fiz minha parte. Abri portas para artistas baianos’

Cantor e compositor apresenta pela primeira vez álbum como intérprete de canções de seu universo afetivo

Foto: André Fofano/Divulgação
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Desde 2013, Luiz Caldas lança um álbum por mês de músicas suas, a maioria delas compostas sozinho. Já são 116 discos somente nesse projeto com canções de diferentes estilos e ritmos, do hip hop ao jazz, do rock à valsa. Tem até um trabalho cantado em língua tupi.

Um deles, lançado no início deste ano, chamado Sambadeiras, aborda o samba do Recôncavo e foi indicado ao Grammy Latino na categoria Melhor Álbum de Música de Raízes em Língua Portuguesa. No total, Luiz Caldas já gravou no projeto mais de 1.100 músicas, que estão disponíveis gratuitamente em seu site oficial.

O músico baiano se aproveita da facilidade de gravar no estúdio que fica em sua casa mais a tecnologia disponível, criando as próprias bases musicais para realizar esse impressionante número de registros. Segundo ele, a ideia é ter uma musicoteca onde as pessoas poderão ter conhecimento dos mais variados gêneros musicais existentes.

Outro dia, fora desse projeto, Luiz Caldas lançou o álbum em voz e violão Playlist Brasileira 1, pela gravadora Deck – o numeral 1 é porque outros poderão vir criando uma série. É o primeiro trabalho em que ele se apresenta como intérprete.

“Tinha feito algo semelhante nos 15 anos da axé music, quando cantei sucessos do movimento. Embora conhecidas nacionalmente, foi um trabalho regional”, explica a diferença deste novo disco, em que gravou canções de diferentes compositores de variados estilos.

O Playlist Brasileira 1, com 12 faixas, traz conhecidas e antigas canções, como “A Lua e Eu” (Cassiano e Paulinho Motoka), “Reluz” (Marcos Sabino), “Sangue Latino” (João Ricardo e Paulinho Mendonça), “Sol de Primavera” (Beto Guedes e Ronaldo Bastos), “Frisson” (Sérgio Natureza e Tunai), “Espanhola” (Flávio Venturini e Guarabyra), entre outras. O trabalho é o 137º álbum gravado por Luiz Caldas em cerca de 50 anos de carreira.

Movimento

Marcado na história da música como um dos precursores da axé music, movimento musical surgido na Bahia nos anos 1980 a partir de uma confluência de ritmos regionais, Luiz Caldas explica que o estilo nasceu do famoso trio elétrico do carnaval de Salvador.

“Introduzi alguns instrumentos que antes não existiam em cima do trio: teclado, bateria, a forma de tocar. Axé music não é um gênero musical, mas uma maneira de tocar”, explica ele.

“Quando criei, a gente estava saindo da ditadura, todo mundo querendo cantar, vestir o que queria. Isso tudo veio a calhar para que houvesse essa mudança”. Mas reconhece que a pujança do axé foi muito do esforço mercadológico.

“Muitos artistas (do axé music) se deram mal por acharem que já eram famosos. Caiu fora da produtora que o amparava para tentar carreira solo. Para isso, você vai ter que dar um monte de murro em ponta de faca”, explica o cantor como foi difícil manter o desvinculamento do axé music do processo empresarial então existente.

“Mas ele (o axé) ficou muito tempo no topo e o fato de não estar no topo hoje não quer dizer que não exista. A minha parte eu fiz: abri as portas para vários artistas baianos”, afirma.

Para Luiz Caldas, os rumos de qualquer movimento musical no Brasil passam atualmente pelas redes sociais. Ele lembra que quando lançou Magia (1985), clássico álbum do início do axé music, teve que viajar o Brasil todo para divulgá-lo para vender 100 mil cópias.

“Atualmente, você põe na internet e ganha 1 milhão de visualizações”, diz. “Mas, hoje, não consegue medir mais o sucesso pelo quanto que vendeu, mas o tempo que ele vai durar. Tem música que o sucesso dura uma semana. Esse é o modelo. Não deixa de ser um salve-se quem puder. A internet é voraz”.

Sobre a pandemia, diz ter chegado “num momento terrível” ao País. “Atravessar um momento tão complicado do planeta com uma direção não muito legal. Principalmente para minha classe. Não existe um plano para a cultura e a arte. É como se a gente não existisse”, afirma. “Vi músicos largando a profissão, vendendo instrumento para se manter”.

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