Augusto Diniz | Música brasileira

Jornalista há 25 anos, Augusto Diniz foi produtor musical e escreve sobre música desde 2014.

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Cancelamento do Carnaval requer pensar novas formas da festa popular

O anúncio da não realização do evento em São Luiz do Paraitinga (SP) atende as autoridades de saúde

Foto: iStock
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Cidades pelo País têm anunciado a não realização do Carnaval de 2022. Na terça-feira 23, foi anunciado o cancelamento da festa em São Luiz do Paraitinga, atendendo recomendação das autoridades de saúde, por conta da pandemia de Covid-19 ainda em curso.

Para municípios em que a economia gira muito em torno dos festejos, como da vila histórica do Vale do Paraíba, será um baque e tanto – e mais uma vez, já que o Carnaval deste ano também não ocorreu.

A cultura sofre outro revés, como se não bastasse ser uma das mais atingidas na pandemia, já que boa parte de suas atividades vive de aglomeração. E, no momento em que epidemia parece não dar trégua, o que menos dá para fazer é juntar um número expressivo de pessoas em um mesmo espaço.

Ainda mais em festejos carnavalescos, em que já se sabe que o controle será precário e os riscos proporcionalmente maiores de transmissão da Covid.

Por trás dos cancelamentos, porém, há de se levar em consideração alguns pontos, como o fato de muitas pessoas passarem necessidade e terem no carnaval uma importante fonte de renda.

Cidades tradicionais de carnaval são conhecidas pelos erros da ocupação do espaço público. Há gente demais – digo milhares e, às vezes, milhões – concentrada em apenas alguns pontos e em torno de conhecidos blocos e em determinados horários.

A forma de equalizar isso é quase um tabu. A ideia é mostrar que o seu carnaval é o melhor do mundo pela alta concentração de foliões, sem levar em conta o empurra-empurra e o desconforto.

São Luiz do Paraitinga é um exemplo clássico, mesmo com medidas recentes de conter o fluxo de visitantes na cidade durante a Festa de Momo. Mais do que taxar a entrada de veículos na localidade para diminuir público, é preciso acabar com a sanha de querer salvar o comércio local em quatro dias de folia.

Agora, a pandemia mostra da pior maneira possível como todas as cidades precisam reordenar a forma de ocupação do espaço público. Está claro que as autoridades de saúde estão preocupadas com inevitáveis superlotações.

No País de múltiplas manifestações populares, é preciso propiciar um calendário mais elástico e programado para manter a roda girando o ano todo. O Brasil não é feito só de carnaval. Ainda que fosse, há inúmeras maneiras da festa ser lembrada e frequentada por pessoas em meses diferentes.

O fato é que nunca houve um direcionamento do poder público nesse sentido. Há uma dependência do turismo muito grande do carnaval. Férias e o verão ajudam nessa convergência, mas não justificam por completo.

É necessário olhar outra maneira de fazer festa popular e ganhar com isso. Até porque o modelo já se exauriu em muitos lugares. Ficou notório no Rio de Janeiro que o melhor do carnaval nos últimos tempos eram os acontecimentos que antecediam a festa, porque no período mesmo só sendo um guerreiro para sair às ruas.

Em São Luiz do Paraitinga, os eventos musicais fora do carnaval eram bem mais agradáveis, com os mesmos músicos e repertórios locais responsáveis pela realização da festa de Momo.

Com a previsão de arrefecimento acentuado da pandemia no meio do ano que vem, não por completo, mas controlado, quem sabe não se inicia um calendário de manifestações populares mais alargado, descentralizado, de menor risco e melhor para todos nas cidades.

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