Cultura

7 filmes nacionais que foram atacados pelo governo Bolsonaro em 2019

Em seu primeiro ano de mandato, Bolsonaro acabou com o Ministério da Cultura, modificou a Lei Rouanet e utilizou a Ancine para atacar obras

Cenas do filme "Afronte". Foto: Reprodução.
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Em 2019, o governo Bolsonaro intensificou seus ataques à cultura brasileira. Transformou o Ministério da Cultura em secretaria, restringiu a 1 milhão de reais por projeto o valor máximo pago pela Lei Rouanet (bastante criticada por ele desde a época da campanha) e anunciou a intenção de transferir a sede da Ancine do Rio de Janeiro para Brasília, a fim de ter um maior controle.

À época, Bolsonaro justificou a decisão dizendo que o Brasil não pode mais financiar com dinheiro público filmes como Bruna Surfistinha, produção de 2011 que narra a história de uma garota de programa.

No entanto, não precisou concluir a transferência para que o controle sobre o conteúdo de filmes começasse. Em agosto, o ministro Osmar Terra (Cidadania) barrou o processo de seleção de séries com temática LGBT+ pré-selecionadas em um edital de TVs públicas e foi acusado de censura pelo Ministério Público Federal. Em outubro, a Justiça determinou a retomada das produções.

Em setembro, a Ancine suspendeu o termo de permissão que dava aos produtores dos filmes Greta e Negrum3 uma ajuda de custo de 4,6 mil reais para cada, com o objetivo de que os filmes participassem do Festival Internacional de Cinema Queer, em Lisboa. A agência havia aprovado a concessão de apoio financeiro para os filmes três semanas antes.

Já a cinebiografia do guerrilheiro comunista Carlos Marighella, que chegaria aos cinemas brasileiros em 20 de novembro, teve a estreia cancelada após a Ancine recusar dois recursos da produtora, em agosto. A produção ainda não tem data de estreia definida.

A seguir, listamos e detalhamos quais as produções cinematográficas que foram atacadas pelo Governo Bolsonaro em 2019. Confira:

1. Afronte

Cena do curta-metragem ‘Afronte’ Foto: Divulgação

Produzido por Bruno Victor Santos e Marcus Azevedo, Afronte é fruto do projeto de conclusão de curso dos produtores, que se formaram em audiovisual pela Universidade de Brasília. O filme tem o objetivo de contar a história e mostrar como é a rotina de pessoas LGBT no Distrito Federal.

A produção, que mistura documentário e ficção, já ganhou os Prêmios Saruê, Mostra Brasilia de Cinema, Mostra Curta de Goiânia e festival  Mix Brasil, em São Paulo. Para fazer uma série derivada do filme, a dupla entrou com um pedido de patrocínio no edital citado por Bolsonaro. O pedido foi negado.

2. Transversais

Cenas do filme “Transversais”. Foto: Reprodução

Transversais é um desdobramento do curta-documentário Aqueles Dois, de Emerson Maranhão, que conta a história de dois homens transgênero. Ele foi selecionado para participar de festivais fora do País, como o 4º AMOR – Festival Internacional de Cine LGBT do Chile. Com a intenção de continuar a contar essas histórias, Transversais foi inscrito no edital na categoria “Diversidade de Gênero” em 2018, mas foi censurado por Bolsonaro.

3. Religare Queer

Outro projeto inscrito e censurado no edital da Ancine, Religare Queer conta a história de uma ex-freira lésbica e foi idealizado pela Válvula Produções, que já produziu filmes sobre a quadrinista Laerte e sobre a cantora Linn da Quebrada.

4. O Sexo Reverso

O projeto O Sexo Reverso é idealizado a partir da pesquisa da antropóloga Bárbara Arisi, que é professora da Universidade Federal da Integração Latino-Americana (Unila). Ela tem um trabalho junto à tribo dos Matis, no Amazonas e participou de uma pesquisa dos próprios indígenas sobre práticas sexuais dos brancos. Ele também foi inscrito no edital da Ancine que foi censurado.

5. A Vida Invisível

Cena do filme “A Vida Invisível”, com Fernanda Montenegro (foto), Carol Duarte, Julia Stockler e Gregório Duvivier – Foto: Reprodução

O filme A Vida Invisível, de Karim Aïnouz, conta a história de duas irmãs que vivem em um rígido regime patriarcal, o que faz com que trilhem caminhos distintos. A Ancine proibiu a exibição do filme em um evento de capacitação para seus funcionários. O diretor, na época, publicou um texto em que chama de “censura” a decisão e fez críticas ao governo Bolsonaro, a quem acusa de estar aniquilando a cultura nacional.

6. Marighella

A cinebiografia do guerrilheiro comunista Carlos Marighella, dirigido por Wagner Moura, já estreou em diversos países, mas foi barrada no Brasil. O filme chegaria aos cinemas brasileiros em 20 de novembro, dia da Consciência Negra, mas teve a estreia cancelada após a Ancine recusar dois recursos da produtora, em agosto.

No primeiro pedido, a produtora O2 solicitou ressarcimento no valor de 1 milhão de reais investidos, mas a agência não reembolsou. Segundo a Ancine, os recursos pelos quais a produtora pede reembolso são parte da receita já aprovada para o projeto e, portanto, não poderia haver ressarcimento com verbas públicas. No segundo recurso, a empresa pediu que fossem reavaliados os prazos de investimento na comercialização do filme.

Wagner Moura classificou o episódio como censura: “Eu não gosto de falar do Marighella como um caso isolado. Todo o universo da cultura, no Brasil, está basicamente destruído. A Ancine está destruída. Acabada. Game over. E esse é o jeito que eles fazem hoje: a censura não é como a da ditadura militar, que dizia ‘isso é proibido”, disse o diretor, durante lançamento em Nova York.

7. Bruna Surfistinha

A produção de 2011, que narra a história de uma garota de programa que ficou famosa após contar suas experiências em um livro, foi utilizado por Bolsonaro para atacar as decisões da Ancine. O filme foi sucesso de bilheteria na época.

“Não posso admitir que, com dinheiro público, se façam filmes como o da ‘Bruna Surfistinha’. Não dá. Não somos contra essa ou aquela opção, mas o ativismo não podemos permitir em respeito às famílias. É uma coisa que mudou com a chegada do governo”, disse Bolsonaro.

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