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Em ‘live’ do 1º de Maio, Lula acena a uberizados e critica Moro e Bolsonaro

Longo e produzido, o discurso do ex-presidente teve tom de campanha. Confira a íntegra

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O tradicional evento organizado pelas centrais sindicais no 1.° de Maio, Dia do Trabalhador, reuniu três ex-presidentes, antigos adversários políticos, no mesmo palanque virtual. Fernando Henrique Cardoso, Dilma e Lula.

O desemprego, como era de esperar, foi o foco da fala dos três. Em declaração breve, FHC defendeu como fundamental “reabrir a economia, de modo que ela possa permitir que tenhamos trabalho renda para nossas famílias.”

Já a ex-presidenta Dilma lembrou que o País chega a este primeiro de Maio, ultrapassando a marca dos 400 mil mortos, e com quase 15 milhões de brasileiros desempregados e pediu ‘Fora, Bolsonaro’. “O país está submetido ao comportamento genocida de um governo que despreza a vida e desdenha dos que chora pelos seus mortos.”

Mais longo e produzido, o discurso do ex-presidente Lula teve tom de campanha. O petista criticou o governo Bolsonaro, comparando-o com o legado dos governos petistas. “Nos últimos anos, andamos para trás. A economia brasileira encolheu, e é hoje 7% menor do que em 2014. Já estivemos entre as sete maiores economias do mundo. Hoje descemos ladeira abaixo, ocupando a décima segunda colocação.”

Também fez críticas à Lava Jato e ao ex-juiz Sergio Moro. “O juiz, que teve sua parcialidade declarada pelo Supremo Tribunal Federal, e os procuradores da chamada ‘força tarefa’ são responsáveis também pela destruição de 4 milhões e meio de postos de trabalho.”

Em um movimento notável o presidente, fez um longo aceno aos trabalhadores uberizados – que, segundo o IBGE, somam hoje um contingente de 4 milhões. Disse o petista:

São na maioria jovens, que arriscam a vida no trânsito das grandes cidades, a vida trabalhando até 14 horas por dia. Sem qualquer direto ou proteção social, sem 13º, férias, descanso semanal, previdência, afastamento remunerado em caso de acidente de trabalho. Enfrentam jornadas estafantes e perigosas, para enriquecer patrões invisíveis, os bilionários donos dos aplicativos, que se recusam a reconhecer e honrar seus direitos trabalhistas

Leia a íntegra do discurso:

“Minhas amigas e meus amigos.

Este é um 1º de maio triste para os trabalhadores e as trabalhadoras do nosso país.

Um dia de luto.

Pelas 400 mil vidas perdidas por conta de covid-19, muitas delas porque o governo Bolsonaro se recusou a comprar as vacinas que lhe foram oferecidas.

Pelos 14 milhões de desempregados, vítimas de uma política econômica que enriquece os milionários e empobrece os trabalhadores e a classe média.

Pelos 19 milhões de brasileiros que estão hoje passando fome, abandonados à própria sorte por esse desgoverno.

Mas o que eu mais desejo, de coração, é que este Dia dos Trabalhadores e das Trabalhadoras seja também um dia de esperança.

Sabemos o tamanho do nosso desafio. Nosso país está sendo devastado pelo governo do ódio e da incompetência. Mas sabemos também a nossa força.

Num passado muito recente, fomos capazes de construir juntos um novo Brasil, que o atual governo se esforça todos os dias para destruir.

O pleno emprego, conquistado pelos nossos governos, deu lugar a uma taxa recorde de desemprego e desalento.

Além dos 14 milhões de brasileiros desempregados, 6 milhões desistiram de procurar trabalho, porque sabem que não vão encontrar. 38 milhões estão subempregados, sobrevivendo de bicos. São, ao todo, 58 milhões de trabalhadores sobrevivendo em condições precárias.

Ao número recorde de desempregados, somam-se mais de 4 milhões de brasileiros que trabalham na informalidade, para aplicativos. 

São na maioria jovens que arriscam as vidas no trânsito das grandes cidades, trabalhando até 14 horas por dia, sem qualquer direito ou proteção social: sem 13º, férias, descanso semanal, previdência, afastamento remunerado em caso de acidente de trabalho.

Enfrentam jornadas estafantes e perigosas para enriquecer patrões invisíveis, os bilionários donos dos aplicativos, que se recusam a reconhecer e a honrar seus direitos trabalhistas.

Mesmo assim, em plena pandemia, o governo nega ao povo um auxílio emergencial de 600 reais, para que ele seja capaz de suprir suas necessidades básicas.

Meus amigos e minhas amigas.

Nos últimos anos, andamos para trás.

A economia brasileira encolheu, e é hoje 7% menor do que em 2014.

Já estivemos entre as sete maiores economias do mundo. Hoje descemos ladeira abaixo, ocupando a décima segunda colocação. 

Entre 2015 e 2020, 37 mil indústrias fecharam as portas, o equivalente a 17  por dia. Sem qualquer apoio do governo, as micro e pequenas empresas, que geram75% dos empregos formais, são as mais atingidas.

Como se não bastassem a incompetência e o descaso desse desgoverno, a operação Lava Jato destruiu setores estratégicos da nossa economia, sobretudo a construção civil e a cadeia produtiva de petróleo e gás, beneficiando empresas e governos estrangeiros.

Por conta da Lava jato, o Brasil perdeu 172 bilhões de reais em investimentos produtivos. Deixou de recolher na forma de impostos diretos quase 50 bilhões de reais.

O juiz, que teve sua parcialidade declarada pelo Supremo Tribunal Federal, e os procuradores da chamada “força tarefa” são responsáveis também pela destruição de 4 milhões e meio de postos de trabalho. 

Minhas amigas e meus amigos,

O Brasil, o povo, as trabalhadoras e os trabalhadores, as crianças, os jovens e os aposentados não deveriam estar passando por tanto sofrimento.

Minha indignação diante de tanta injustiça é muito grande. Mas ainda maior que a indignação é a minha confiança no povo brasileiro. Ele é maior do que essa gente que está destruindo nosso país. O Brasil vai dar a volta por cima. Não podemos perder a esperança.

Porque a  primeira coisa que nossos inimigos tentam matar em nós é a esperança. E um povo sem esperança está condenado a aceitar migalhas, a ser tratado como gado a caminho do matadouro, como se não houvesse outro jeito.

Nós já provamos que existe outro jeito de governar. Que é possível garantir a cada trabalhador e a cada trabalhadora o salário digno, a segurança da carteira assinada, o 13º, as férias remuneradas para descansar ou viajar com a família.

É preciso acreditar que o Brasil pode voltar a ser um país de todos. Com geração de empregos, salários dignos e direitos reconquistados. Com saúde e educação públicas de qualidade. Um país de livros em vez de armas, de respeito ao meio ambiente e às minorias, do amor em vez do ódio.

Nós já construímos uma vez esse Brasil. E juntos vamos construir de novo.

Trabalhadores: lutar sempre, desistir jamais.”

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