Artes

O MASP e São Paulo

Visita permite dialogar com a história de São Paulo e da própria instituição

MASP
O Museu de Arte de São Paulo masp paulista museu de arte de são paulo assis chateaubriand Adriano Pedrosa
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O Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand, ou simplesmente Masp, nem sempre foi assim nomeado e nem sempre ocupou o atual endereço na Avenida Paulista, um dos principais cartões-postais da capital.

Leia atividade de Artes inspirada neste texto
Competências : compreender a arte como saber cultural e estético gerador de significação
Habilidades: reconhecer diferentes funções da arte, do trabalho da produção de artistas em meios culturais. Reconhecer o valor da diversidade artística e das inter-relações de elementos que se apresentam nas manifestações culturais
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A preparação dos alunos antes de uma visita ao Masp permite que esta seja mais do que um passeio, seja um momento de aprendizagem. Procure informar-se sobre as exposições que estarão em cartaz na data planejada. Você pode agendar uma visita com o Educativo do museu.

1) Proponha uma pesquisa sobre o Masp. Selecione textos da internet, artigos de jornais e blogs e leve para a sala de aula. Separe a turma em grupos e distribua o material coletado, solicite que cada um deles pesquise um dos assuntos: história do Masp, exposições em cartaz e obras que fazem parte do acervo. Ao final da aula, cada grupo apresenta as informações que selecionou. Você pode completar as apresentações com sua pesquisa.

2) Proponha um debate entre os alunos com o objetivo de refletir sobre essa questão e perceber quais são as expectativas em torno da visita. Anote perguntas, como as que se seguem, em papéis e proponha para cada aluno ou grupo sortear um tópico. Peça que formulem sua resposta, para apresentá-la para a sala toda. Determine um tempo para que isso aconteça. Após a fala do grupo, o restante dos alunos também pode se pronunciar e expor sua opinião. Não é preciso chegar a um consenso sobre os assuntos.

3) Algumas perguntas podem ser: Quais são os museus que eles já ouviram falar? Quais já visitaram? Quais foram as impressões dessas visitas? Qual é a função de um museu? Eles são todos iguais? Há regras nesses espaços? Para que servem? Por que construímos e continuamos a cuidar dos nossos museus? Qual é a importância de um espaço cultural para as pessoas? Quais são os espaços culturais na sua cidade ou bairro? Como seria o museu ideal?

4) Instigue os alunos a observar tudo à sua volta: o trajeto da escola ao Masp, as primeiras impressões do vão-livre, a arquitetura do museu, a disposição das obras nas exposições, por que determinadas obras são colocadas ao lado de outras, quais informações estão disponíveis, o que dizem as legendas e os textos de parede. Incentive-os a conversar com o educador do museu e a fazer perguntas.

5) Para que a experiência da visita não se acabe em um encontro, em sala de aula, continue a conversa. Agora que já conheceram o espaço do museu e suas obras, quais foram as impressões? Um projeto do grupo pode surgir dessa visita, se eles fossem organizar uma exposição na escola, sobre o que seria? Como seria?[/bs_citem]

Em 2 de outubro de 1947, na Rua 7 de Abril, Centro de São Paulo, era inaugurado o Museu de Arte. O italiano Pietro Maria Bardi, no Brasil desde 1946, era o responsável pela organização do museu a pedido de Assis Chateaubriand (1892-1968), diretor do conglomerado midiático Diários Associados. Os jornais da época nos informam que, no prédio dos Diários Associados, foi aberto ao público o Museu de Arte com obras de, entre outros, El Greco, Botticelli, Perugino, Goya, Tintoretto. Dos modernos, estavam presentes Utrillo, Monet, Chagall, Vlaminck e até Picasso. Os brasileiros são representados por Pedro Américo, Almeida Júnior, Batista da Costa e Benedito Calixto.

Os nomes de Assis Chateaubriand e P.M. Bardi são citados como os empreendedores dessa iniciativa. O primeiro, como idealizador, e o segundo, como responsável pela concretização do projeto. Entretanto, o nome de Lina Bo Bardi, arquiteta que, posteriormente, encabeçaria iniciativas e projetos de impacto, tanto no campo da arquitetura brasileira quanto no da cultura, não é mencionado. O seu papel no Museu de Arte nem sempre é destacado, mas há indícios de sobra que nos permitem afirmar que junto com seu marido, P.M. Bardi, Lina foi idealizadora do programa dessa instituição.

É preciso lembrar que a São Paulo da década de 1940, apesar da efervescência econômica – com suas indústrias, população crescente e a alta burguesia endinheirada – era carente de espaços culturais abertos ao público. É nesse contexto que a iniciativa de Chateaubriand se insere.

Nessa conjuntura, um texto de Lina Bo Bardi impresso na revista Habitat de janeiro de 1950 (publicação do Museu de Arte), intitulado O Museu de Arte de São Paulo – Função social dos museus, nos revela que o museu de São Paulo não é pensado para uma pequena elite cultural, mas para uma “massa não informada, nem intelectual, nem preparada”. Afirma que: “O fim do museu é de formar uma atmosfera, uma conduta apta a criar no visitante a forma mental adaptada à compreensão da obra de arte, e nesse sentido não se faz distinção entre uma obra de arte antiga e uma obra de arte moderna”. O que explica a opção pelo nome sintético da instituição, sem diferenciações ou especificações.

O texto de Lina segue pontuando que, dentro dessa concepção da função social do museu, a arquitetura interna da instituição foi pensada sob o mote da “flexibilidade”, ou seja, da possibilidade de transformação do ambiente e da economia do espaço, própria de seu tempo.

São descartados os recursos usuais para exaltar uma determinada obra (como paredes encapadas com tecidos nobres), deixando, assim, o espectador ser guiado por sua observação e pelas legendas. A organização da mostra Arte do Brasil no Século XX retoma, aliás, a expografia de Lina Bo Bardi da década de 1950: os quadros são dispostos em painéis suspensos brancos dispostos na sala, o espectador caminha entre eles e consegue ter uma visão ampla do espaço.

O programa do Museu de Arte não era composto somente do acervo e pela sua exibição didática e criteriosa. Havia ainda uma filmoteca, palestras e cursos sobre cinema, apresentações musicais, conferências sobre arte e visitas às exposições.

Do mesmo ano da fundação da revista Habitat, 1950, é a criação do Instituto de Arte Contemporânea (IAC), também ligado ao Museu de Arte. O IAC, durante três anos, ofereceu um curso de desenho industrial na capital repleta de fábricas. O design tal como entendemos hoje, como disciplina, não existia no Brasil e apesar de sua curta duração, o curso do IAC permitiu a formação de profissionais e artistas que dariam o pontapé para o desenvolvimento do design brasileiro.

Cabe ressaltar que essa ligação da arte com a indústria proposta pelo casal Bardi se insere no projeto do museu como um todo, entendido não apenas como depósito de coisas antigas, mas como um motor dinâmico que se relaciona com o presente e age na sociedade. Procura-se a educação do gosto e isso se faz com obras de arte dos grandes mestres europeus e brasileiros, mas também com a atualização do pensamento artístico paulista, expondo máquinas de escrever Olivetti ao lado de objetos antigos e esculturas. As exibições temporárias colocavam objetos, artesanato e a arte popular brasileira em pé de igualdade com a arte europeia já consagrada.

Talvez seja possível incluir nessa “educação do gosto paulista” os “empurrões” de Chateaubriand à burguesia, a fim de que financiassem as aquisições de obras realizadas para o museu no fim da década de 1940 e durante os anos de 1950. Em viagens pela Europa e pelos Estados Unidos, Bardi e o próprio magnata das comunicações buscavam obras que pudessem ser adquiridas, selecionavam-nas e depois enviavam a conta para algum industrial, banqueiro ou fazendeiro. O benfeitor era recompensado com as láureas nos diversos meios de comunicação dos Diários Associados, como demonstram dois documentos presentes na exposição Arte do Brasil até 1900. Uma tela do pintor Frans Post (Paisagem com Tamanduá), foi adquirida em Londres por Assis Chateaubriand, mas não foi paga. Alguns dias depois, o jornal noticia que certa personalidade havia comprado o quadro e doado ao museu – sim, com um certo “empurrão”.

Com essas doações “induzidas” e outras espontâneas, o acervo do Museu de Arte vai se formando e constituindo-se como um dos mais importantes de arte europeia na América Latina. O espaço insuficiente para guardar todas essas obras na sede provisória nos Diários Associados é um dos motivos pelos quais, na década de 1960, Lina Bo Bardi irá projetar e construir, em conjunto com o engenheiro José Carlos de Figueiredo Ferraz, uma sede definitiva para a instituição, já conhecida como Museu de Arte de São Paulo.

Inaugurado em 1968, o novo local, ao contrário do prédio da Rua 7 de Abril, foi pensado integralmente para abrigar o museu: o grande espaço aberto no 2o andar, destinado à exposição da coleção, todo envidraçado, permitia um diálogo do museu com a paisagem da cidade. O prédio todo expõe suas marcas da construção e os materiais com que é feito: concreto armado aparente, vidro, ferro, o chão emborrachado, o elevador como numa grande vitrine na qual exibem-se suas engrenagens. Ao descer as escadas, passamos pelos dois andares do prédio, somos levados à rua e adentramos ao subsolo. Uma mudança de visões, de pontos de vista.

A experiência dos painéis suspensos da década anterior é radicalizada com os cavaletes de cristal nos quais as obras eram expostas. Pareciam flutuar na sala, relacionando-se com as outras obras ali presentes, com as pessoas e como nos cavaletes dos próprios artistas, dizia a arquiteta. Sem hierarquia, sem cronologia, sem separação por escolas, mas ao mesmo tempo, os versos dos cavaletes apresentavam as legendas e informações sobre os quadros, inserindo-os na história da arte. (A volta de tais cavaletes, retirados da sala de exposição em 1996, é prometida pela direção do Masp para o segundo semestre de 2015.)

O terreno escolhido na Avenida Paulista, no Parque Trianon, fora doado à prefeitura com a condição de que ali se preservasse o mirante para o Centro da cidade, sobre o túnel da Avenida 9 de Julho. O que era uma imposição, tornou-se um vão-livre de 74 metros quadrados, hoje passagem obrigatória para qualquer turista, evento público ou manifestação política que aconteça na cidade de São Paulo.

Uma visita ao Masp não é, portanto, somente uma visita às obras que ali estão expostas. Trata-se de uma experiência que dialoga com a história da cidade e do próprio museu, capaz de educar o nosso gosto, o nosso pensamento e nossa concepção de arte, arquitetura e espaço público. O Masp é um patrimônio nacional que tem de ser perpetuado não como uma caixa para “velharias”, mas como um espaço vivo, tal qual planejaram seus idealizadores. As mostras em cartaz na instituição são uma possibilidade de estudar arte e de pensar politicamente a constituição de um espaço cultural em uma cidade como São Paulo.

Abaixo, vídeo da série conhecendo museus sobre o MASP. A autora explica que, por ser de 2010, as informações sobre exposições estão desatualizadas

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Sites: Masp – http://www.masp.art.br/ Instituto Lina Bo e P. M. Bardi – http://www.institutobardi.com.br/ Artigo IAC – Instituto de Arte Contemporânea Escola de Desenho Industrial do Masp (1951-1953) – Primeiros Estudos, dissertação de mestrado de Ethel Leon, Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de São Paulo.

Vídeo Série Conhecendo Museus – Museu de Arte de São Paulo (2010) – Atenção! Como o vídeo é de alguns anos atrás, as informações sobre as exposições não estão atualizadas. É interessante para conhecer algumas obras do acervo e ver o prédio.
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