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A fonte secou

A poluição e a devastação em áreas de mananciais prejudicam 
o abastecimento hídrico no sudeste

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Nos últimos meses, a Região Metropolitana de São Paulo (RMSP) tem passado por dificuldades no abastecimento de água, causadas não só pela ausência de chuvas, mas também pela falta de planejamento adequado durante as últimas décadas. As reservas de água que abastecem a RMSP entraram em colapso e a principal delas, o Sistema Cantareira, já não supre as necessidades da população.
Patrimônio natural, a água é um bem finito. Sua quantidade é fixa na natureza, portanto, ela deve ser devolvida nas mesmas condições anteriores ao uso. Tal patrimônio, porém, tem sido destruído da nascente até a foz dos rios, em consequência do desenvolvimento das cidades. O tempo de reposição e recuperação das águas não consegue competir com o tempo de uso e com a contaminação provocada pelo consumo inadequado da humanidade.
Com 20 milhões de habitantes e 39 municípios, a RMSP expandiu-se intensamente, atingindo áreas desfavoráveis à urbanização. Isso provocou problemas socioeconômicos e ambientais, sobretudo, no que tange aos recursos hídricos.
A preocupação com a questão do abastecimento de água em São Paulo e região não é recente. A criação de leis relativas à proteção aos mananciais na década de 1970 mostrou-se necessária para a contenção dos conflitos socioambientais crescentes, oriundos do desenvolvimento socioeconômico de suas cidades.
A intenção legal era conter o avanço da ocupação sobre as áreas de mananciais que abasteciam o local. Os problemas relacionados aos recursos hídricos, porém, só pioraram. As leis tiveram pouco efeito, pois a expansão sobre essas áreas foi tão intensa que atingiu as bordas das represas, provocando despejo de esgoto doméstico diretamente  em suas águas.
Para um bom entendimento do que ocorre com os recursos hídricos de uma grande área urbana como a de São Paulo, é necessário recorrer a conceitos e fatos ocorridos ao longo do seu desenvolvimento.
Mananciais são reservas hídricas, fontes utilizadas para o abastecimento público de água. São as represas, as fontes, os rios e as águas subterrâneas. Na RMSP, os mananciais estão distribuídos em diferentes bacias hidrográficas, as quais são divididas em sistemas de abastecimento.
Dos diversos sistemas que abastecem a RMSP, o Cantareira é o que mais preocupa, pois é o responsável por pouco mais da metade do abastecimento
Nesse sistema há a reversão do curso de diversos rios, para que cheguem à Estação de Tratamento do Guaraú, responsável por distribuir, por gravidade, a água ali tratada. Os rios revertidos para a Estação Guaraú são o Atibaia, o Cachoeirinha, o Jacareí, o Jaguari e o Juqueri – esse último com suas águas capturadas para o reservatório Águas Claras, para, posteriormente, serem elevadas por bombeamento até a Usina Santa Inês e, finalmente, para a Estação de Tratamento do Guaraú.
Embora o sistema de abastecimento paulistano esteja aparentemente fornecendo água tratada e em quantidade suficiente aos seus habitantes, algumas condições para que isso ocorra acabam prejudicando a população. A retirada de parte da água da Bacia do Rio Piracicaba, por exemplo, deixa municípios situados à jusante dessa captação com pouca água e até mesmo com falta dela.
Essa situação leva a uma maior necessidade de análise da gestão dos recursos hídricos em São Paulo. Embora os mananciais sejam protegidos desde 1975, não ocorreu a efetiva fiscalização pelos poderes estaduais e municipais, o que resultou em desmatamento e degradação de nascentes.
Deteriorados, os mananciais continuam a abastecer a RMSP, porém, sem atender à real demanda da população. A quantidade cada vez menor de água disponível e a poluição dos mananciais ajudam a explicar a dificuldade no abastecimento.
Para contornar a situação de desabastecimento, decidiu-se por utilizar o chamado “volume morto” do Sistema Cantareira. Volume morto ou “reserva técnica” é a água localizada abaixo das bombas de captação.  Essa contribuição, porém, é insuficiente para contornar o problema.
Além disso, a qualidade dessa água também é questionada. Especialistas afirmam que há riscos de contaminação, já que o fundo dos reservatórios pode acumular sujeira, sedimentos e até mesmo metais pesados. No entanto, o Departamento de Água e Energia Elétrica (DAEE), também gestor do Sistema Cantareira, afirma que essa água tem a mesma qualidade daquela que está acima dos túneis.
Dessa forma, constata-se que os problemas relacionados ao abastecimento em uma metrópole crescem juntamente com a sua expansão desorganizada, acarretando em maior necessidade de água e, consequentemente, no decréscimo da capacidade dos sistemas produtores, ocasionado por fatores como o desmatamento e a poluição dos corpos hídricos.
O exemplo mais alarmante é o do Sistema Cantareira, cujo volume cai dia a dia. As providências adotadas até o momento não têm resolvido o cerne da questão, pois muita água é desperdiçada por vazamentos, não existe coleta de esgoto universal e os mananciais continuam sendo degradados e poluídos.
*Doutora em Geografia Física pela USP
Em Sala/Os recursos hídricos
Os diferentes fatores envolvidos na crise
Atividades Didáticas
Baseadas na matriz do Enem
Competências
Compreender a sociedade e a natureza, reconhecendo suas interações
Habilidades
Reconhecer a função dos recursos naturais na produção do espaço geográfico, relacionando-os com as mudanças provocadas pelas ações humanas
1) Quais investimentos o poder público pode fazer para que ocorra melhor utilização da água potável na Região Metropolitana de são Paulo?

2) Qual o papel do clima na evolução da problematização relacionada com abastecimento de água?

3) De acordo com o texto, o que se pode concluir sobre a real situação que ocorre no abastecimento de água na RMSP?

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