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Por que os EUA estão fracassando na luta contra a Covid-19

Há doses de sobra, mas parte expressiva da população recusa se vacinar. Enquanto isso, a variante Delta arrasa comunidades não imunizadas

Pessoas se reúnem pra protestar contra o certificados obrigatórios da vacina em Nova York. De acordo com dados do CDC, NYC é agora considerada uma área de transmissão de COVID "alta" ou "substancial" A variante Delta agora é responsável por mais de 80% de todos os casos positivos na cidade (Foto: Michael M. Santiago / GETTY IMAGES NORTH AMERICA / Getty Images via AFP)
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NOVA YORK — Uma corrida para convencer o alarmante contingente de pessoas que não se vacinou contra o Covid-19 nos Estados Unidos será determinante para conter o super contágio da variante Delta. Embora o Centro de Controle e Prevenção de Doenças, agência pública de saúde norte-americana, tenha identificado que 50% da população esteja totalmente vacinada, é o número de pessoas que ainda não tomou sequer a primeira dose que chama a atenção: cerca de 30% da população adulta e 58% das pessoas entre 12 e 17 anos ainda não receberam a injeção – e não é por falta de vacina.

É um desastre. Não somente para a presidência de Joe Biden, mas sobretudo para o combate da pandemia no país e, por consequência, em todo o mundo. Estudos apontam que a Delta é a forma mais agressiva do coronavírus – é mais transmissível que doenças super contagiosas como o ebola ou a varicela. Após um período de estagnação, o número de infecções voltou a subir exponencialmente. Só na terça-feira 10, foram registrados 162 mil novos casos no país.

 

Nem mesmo números tão alarmantes têm assustado os que rejeitam a vacina. Os motivos vão do conspiracionismo excêntrico ao ceticismo em relação à indústria farmacêutica. 

Uma pesquisa divulgada na semana passada pelo New York Times identificou dois grupos de não-vacinados nos EUA. Do primeiro fazem parte aqueles que se dizem abertos a dar uma chance à vacina, mas preferem esperar. Esse grupo tende a ser mais diversificado e urbano, são jovens, negros, latino-americanos e democratas. Já do segundo e maior grupo (que corresponde a 20% da população adulta no país) estão os chamados inflexíveis – tendem a ser brancos, de regiões rurais, cristãos evangélicos e conservadores.

Biden já não esconde o descontentamento com a ‘pandemia dos não-vacinados’. No fim de julho, ele enquadrou as plataformas de redes sociais. O presidente atacou diretamente o Facebook e afirmou que a rede social está “matando pessoas” porque não está levando a sério o combate à desinformação e notícias falsas em torno do Covid-19. 

O vice-presidente de integridade do Facebook, Guy Rose, respondeu que “a meta do presidente Biden era que 70% dos americanos fossem vacinados até 4 de julho. O Facebook não é a razão pela qual essa meta foi perdida”.

Com ou sem rede social, os governos Federal, estaduais e municipais estão apostando alto desde maio nas mais improváveis campanhas para provar que só a vacinação de pelo menos 70% da população pode frear o avanço da Delta.

Em Nova York, basta apresentar o cartão de vacinação com as duas doses para ter acesso gratuito às linhas de ônibus com destino às praias da cidade. Não vacinados não entram. E embora muitas farmácias estejam estendendo os horários de atendimento, também para as praias, a prefeitura de NYC tem enviado ônibus de vacinação para os pontos mais movimentados. 

Por conta da onda de estelionato e fraude, New Jersey aprovou um projeto de lei que torna crime vender, oferecer ou fabricar cartões de vacina falsos

No metrô, apresentar o cartão de vacina completo garante ao usuário garante passe livre por uma semana. E enquanto a cervejaria Anheuser-Busch anunciou que comprará uma rodada de cerveja para americanos com mais de 21 anos assim que a meta de 70% de Biden for atingida, a rede de farmácias CVS lançou um sorteio com prêmios incluindo cruzeiros grátis e ingressos para o Super Bowl.

Dos $350 bilhões de fundos de ajuda que estão sendo distribuídos aos estados e cidades desde março, o governo Biden solicitou aos gestores que utilizem parte da verba para pagar $100 a cada um que decida tomar as duas doses da vacina.

Na última semana, o prefeito de Nova York Bill de Blasio foi além e anunciou que será obrigatória em toda a cidade a apresentação das provas de vacinação em todos os ambientes fechados como restaurante, academias, shows, museus, teatros ou eventos esportivos. “Se você deseja participar plenamente da sociedade, precisa se vacinar. Está na hora. Este é um mandato vital para manter nossa cidade segura”, escreveu no Twitter. 

O problema é: muita gente ainda acha mais fácil comprar credenciais falsas online do que tomar as doses gratuitas. Cartões falsificados podem ser comparados por módicos 20 dólares. Por conta dessa onda de estelionato e fraude, o estado de New Jersey aprovou no Senado um projeto de lei que torna crime de segundo grau vender, oferecer ou fabricar cartões de vacina falsos. A pena é cinco a 10 anos de prisão, além uma multa de até 150 mil dólares para quem vende. Quem compra pode pegar até 18 meses em cana e ser multado em até 10 mil dólares

Em Nova York, uma medida semelhante será enviada ao governador Andrew Cuomo nos próximos dias já que o Senado e a Assembleia estaduais também aprovaram um projeto de lei que torna crime possuir ou falsificar cartões de vacina. O cerco está se fechando, mas ainda é cedo para saber a porção não-vacinada dos Estados Unidos dará o braço a torcer.

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