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Blog do Verdi: RE DA Ó

A expressão “resumo da ópera” é usada quando se quer encurtar uma narrativa. Hoje estamos a caminho do “resumo do Tweet”

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Você provavelmente usa a expressão “resumo da ópera” quando quer encurtar uma narrativa que já se estende além do limite. Ou quando deseja ir direto ao ponto essencial daquilo que está contando. Ou ainda quando quer recapitular resumidamente aquilo que foi exposto. E já nem para pra pensar na origem desta expressão, tão deslocada do contexto em que nasceu e tão pertinente aos dias que correm.

Conto aqui a origem da expressão. Serei sucinto para não ser contraditório. “Ópera” (quem em italiano significa trabalho e em latim obra), antigamente, designava qualquer tipo de obra arquitetônica, literária ou musical. Depois do século XVII, passou a referir-se a obras dramáticas musicadas. Aos poucos, com a popularização do teatro lírico, “ópera” virou sinônimo de ópera mesmo. Querem um intervalo ou já podemos ir direto ao segundo ato?

 

 

Pois bem. Mesmo para os padrões da época, as óperas eram muito longas. Dai que os produtores e organizadores publicavam livretos com o resumo da obra (“sommario dell’opera”) para que o público, que muitas vezes não dominava a história, pudesse se interessar ou acompanhar melhor o espetáculo. Fim da explicação e do segundo ato. Intervalo para ir ao toalete e dar uma passadinha no Instagram.

Hoje a impaciência e a desatenção atingiram níveis estratosféricos. Mesmo o cinema, o mais dileto filho da ópera, com todos os seus recursos histriônicos de 3D e som surround, não consegue manter seus espectadores ligados na tela grande por duas horas. A atenção é dividida com as telas minúsculas (na comparação) que todos carregam no bolso. Até os remanescentes apreciadores da ópera, o chamado público erudito, já demonstram os mesmos sintomas. Durante as apresentações, enquanto barítonos e tenores se esgoelam, não é raro ver alguém navegando na Internet disfarçadamente. Em breve, este pudor será deixado de lado. Por isso que defendo o bloqueio de sinal de celular nas Casas de Ópera. Até inventei um nome para este serviço: fora de ária. Fim do terceiro ato. Pausa para checar os e-mails e recuperar-se do trocadilho infame.

Uma expressão antiga, consagrada pelo uso, não precisa de atualização. Mesmo que o seu significado primeiro tenha se perdido no tempo. “Cair a ficha”, por exemplo, sobreviveu ao fim do orelhão. Mas não creio que o “resumo da ópera” tenha o mesmo destino. A demanda por rapidez segue alta e ainda deve crescer. Talvez a expressão evolua para “resumo do resumo da ópera”. E como já não vive mais o seu auge, “ópera” poderá ceder seu espaço na expressão para outras formas mais populares de comunicação. Mais provável que tenhamos, num futuro próximo, algo como “resumo do Tweet”. Fim do quarto ato e do post. Bravo para os que chegaram até o final. Agora fique livre para fazer ligações, enviar mensagens e esquecer rápido o que leu aqui.

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Você provavelmente usa a expressão “resumo da ópera” quando quer encurtar uma narrativa que já se estende além do limite. Ou quando deseja ir direto ao ponto essencial daquilo que está contando. Ou ainda quando quer recapitular resumidamente aquilo que foi exposto. E já nem para pra pensar na origem desta expressão, tão deslocada do contexto em que nasceu e tão pertinente aos dias que correm.

Conto aqui a origem da expressão. Serei sucinto para não ser contraditório. “Ópera” (quem em italiano significa trabalho e em latim obra), antigamente, designava qualquer tipo de obra arquitetônica, literária ou musical. Depois do século XVII, passou a referir-se a obras dramáticas musicadas. Aos poucos, com a popularização do teatro lírico, “ópera” virou sinônimo de ópera mesmo. Querem um intervalo ou já podemos ir direto ao segundo ato?

 

 

Pois bem. Mesmo para os padrões da época, as óperas eram muito longas. Dai que os produtores e organizadores publicavam livretos com o resumo da obra (“sommario dell’opera”) para que o público, que muitas vezes não dominava a história, pudesse se interessar ou acompanhar melhor o espetáculo. Fim da explicação e do segundo ato. Intervalo para ir ao toalete e dar uma passadinha no Instagram.

Hoje a impaciência e a desatenção atingiram níveis estratosféricos. Mesmo o cinema, o mais dileto filho da ópera, com todos os seus recursos histriônicos de 3D e som surround, não consegue manter seus espectadores ligados na tela grande por duas horas. A atenção é dividida com as telas minúsculas (na comparação) que todos carregam no bolso. Até os remanescentes apreciadores da ópera, o chamado público erudito, já demonstram os mesmos sintomas. Durante as apresentações, enquanto barítonos e tenores se esgoelam, não é raro ver alguém navegando na Internet disfarçadamente. Em breve, este pudor será deixado de lado. Por isso que defendo o bloqueio de sinal de celular nas Casas de Ópera. Até inventei um nome para este serviço: fora de ária. Fim do terceiro ato. Pausa para checar os e-mails e recuperar-se do trocadilho infame.

Uma expressão antiga, consagrada pelo uso, não precisa de atualização. Mesmo que o seu significado primeiro tenha se perdido no tempo. “Cair a ficha”, por exemplo, sobreviveu ao fim do orelhão. Mas não creio que o “resumo da ópera” tenha o mesmo destino. A demanda por rapidez segue alta e ainda deve crescer. Talvez a expressão evolua para “resumo do resumo da ópera”. E como já não vive mais o seu auge, “ópera” poderá ceder seu espaço na expressão para outras formas mais populares de comunicação. Mais provável que tenhamos, num futuro próximo, algo como “resumo do Tweet”. Fim do quarto ato e do post. Bravo para os que chegaram até o final. Agora fique livre para fazer ligações, enviar mensagens e esquecer rápido o que leu aqui.

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