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O que é o chemsex e por que está se tornando um problema para os homens gays e bis?

Vamos acender as luzes do darkroom porque não adianta mais esconder o assunto, que está se tornando um problema para a comunidade LGBT

O que é o chemsex? Foto: Needpix
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Chemsex pode ser uma palavra nova ou pouco usada para você, mas esse tipo de prática sexual vem se tornando cada vez mais frequente e trazendo alguns problemas para a comunidade LGBT. Mas afinal, o que é o chemsex?

Apesar de haver uma infinidade de definições, de uma forma geral o termo chemsex, palavra que se origina da expressão chemical sex (sexo químico em inglês), se refere ao sexo sob influência de drogas psicoativas. Essa prática vem se popularizando nos últimos anos, especialmente entre os homens gays e bissexuais. Nos grandes centros urbanos, com a popularização das festas com temática sexual e os famosos darkrooms, não é improvável que você conheça alguém que pratique o chemsex.

As drogas mais utilizadas são o GHB (gama-hidroxibutirato) – e seu precursor, GBL  (gama-butirolactona) -, a metanfetamina e a mefedrona (esta última mais comum no exterior, menos usada no Brasil). Outras drogas também são usadas, como o MDMA, poppers, a cocaína, entre outras.

A metanfetamina (também chamada popularmente de Tina, Ice, Speed ou cristal) é um psicoestimulante que causa euforia, excitação sexual e também aumenta a frequência cardíaca e a pressão arterial da pessoa. O GHB (também conhecido como Gi) é uma substância anestésica, que tem um potente efeito desinibidor sobre a pessoa. 

Os praticantes do chemsex relatam que o uso dessas drogas melhora a qualidade do sexo, diminuindo a inibição, aumentando a excitação sexual e o prazer. Muitas vezes, usando as drogas de maneira combinada, isso facilita a realização de sessões de sexo com duração prolongada (por vezes até dias) e/ou com múltiplos parceiros, além de práticas sexuais mais desafiadoras, como o fisting e a dupla penetração. 

Além disso, alguns homens relatam que o uso dessas drogas os ajuda a lidar com sentimentos negativos como a falta de confiança, a baixa autoestima, a homofobia internalizada e até mesmo com o estigma relacionado ao fato de ser uma pessoa que vive com o HIV. 

No entanto, o chemsex não é isento de riscos e tem contribuído bastante para situações perigosas à saúde dos homens gays e bissexuais.

 

O primeiro risco (e mais óbvio) é o de abuso e dependência das substâncias utilizadas no chemsex. Tanto a metanfetamina como o GHB podem levar à dependência física e psicológica, fazendo com que seu uso seja cada vez mais frequente e/ou em maiores quantidades, causando problemas físicos e psicológicos a longo prazo. 

Há inúmeros casos de indivíduos que passam a usar as drogas em outras situações que não apenas durante o sexo, assim como também de pessoas que passam a não conseguir aproveitar ou mesmo ter relações sexuais sem o uso das drogas.

Um risco extra, principalmente no caso do GHB, é que a diferença entre a dose que dá um “barato” e a dose que pode causar problemas sérios é muito pequena, por vezes de alguns mililitros. No meio da balada ou no calor de uma sessão de sexo selvagem, confundir-se e tomar um pouco a mais não é tão improvável e pode causar desde vômitos e mal estar até a morte por parada cardiorrespiratória.

Além dos riscos relacionados ao uso de drogas, a prática do chemsex também pode contribuir com o aumento da chance de contrair ISTs (infecções sexualmente transmissíveis). Muitas vezes, esses homens, sob efeito das drogas, se esquecem de usar preservativos ou de tomar a PrEP (lembrando que muitas vezes as sessões de sexo podem durar mais de 24h). 

E existe ainda outro elemento: o número maior de parceiros sexuais (dados do Reino Unido, onde há mais estudos sobre chemsex, mostram uma média de cinco participantes por “sessão”) e as práticas mais extremas, que podem gerar mais ferimentos nas mucosas, também aumentam as chances de se contrair uma IST no sexo desprotegido. Não é infrequente também as queixas de abscessos, lacerações e outros problemas na região anal e perianal, dado que esses homens muitas vezes, sob efeitos das drogas, não sentem dor durante as práticas sexuais.

Também não incomum são os relatos de pessoas que “perdem dias” – chegam a ficar de dois a três dias sem comer ou dormir sob efeitos das drogas – por conta das sessões de chemsex, o que pode causar danos a sua saúde no geral. Esses “dias perdidos” também podem ser um problema para a realização da PEP (profilaxia pós-exposição ao HIV), que deve ser feita até 72h após a exposição (mas preferencialmente o quanto antes).

Como visto, o chemsex é uma prática cada vez mais popular, mas que pode trazer muitos prejuízos aos homens gays e bis. Precisamos entender o motivo de esses homens se exporem em excesso a situações de risco e também tomar medidas de redução de danos – divulgar informações sobre a prática e sobre o uso menos nocivo das drogas, estimular a prevenção combinada para ISTs, diminuir o preconceito contra a população LGBT e ampliar seu acesso a dispositivos de saúde, entre outros. Vamos acender as luzes do “darkroom” porque não adianta mais esconder o assunto: o chemsex é uma realidade e informação e medidas de saúde podem evitar que ele se torne um problema maior à nossa comunidade.

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