Diversidade

O drama da “saída do armário” para as pessoas LGBTs

Estudos têm mostrado que se assumir pode ter impactos muito positivos na saúde mental, mas ainda há muito o que enfrentar

Foto: PXHere
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Chegamos ao fim de junho e no dia 28 de junho comemoramos o Dia do Orgulho LGBT+. A data não foi escolhida ao acaso e faz referência ao dia 28 de junho de 1969, quando ocorreu, no bar Stonewall Inn em Nova Iorque, nos EUA, um evento que é visto por muitos como um marco e um símbolo da liberação e do ativismo do movimento LGBT. Desde então, o movimento ganhou força e voz, com muita luta, conquistas de direitos e eventos como as Paradas do Orgulho LGBT, que acontecem anualmente ao redor do mundo para celebrar todas as nossas vivências e diversidade. 

No entanto, mesmo com todos os avanços e mais espaço na política, na mídia e no cotidiano das grandes cidades, ainda hoje não é incomum que me procurem, no consultório ou fora dele, com a seguinte pergunta:  “como eu conto pra minha família/pros meu amigos que eu sou gay?” (você pode trocar “gay” por “lésbica”, “bi”, “trans” ou qualquer outra categoria que seja diferente de “cis e heterossexual”).

Primeiro de tudo: não é fácil se dizer LGBT. Vivemos em um mundo que ainda há vários países punindo com pena de morte quem tiver relações homossexuais; crescemos ouvindo que ser LGBT é “sujo”, “imoral”, “anormal”; no Brasil, a expectativa de vida de uma pessoa trans é de 35 anos, o que equivale a menos da metade da expectativa de vida média nacional; vemos todos os dias notícias sobre pessoas LGBT que foram expulsas de casa, agredidas e/ou mortas. Então, não é por acaso que as pessoas LGBT encontram dificuldade em revelar essa parte de suas identidades aos outros e, por vezes, até a si próprios.

E isso não acontece apenas com os jovens, como muitos pensam. Cada vez mais frequentes são os casos de pessoas com 30,40, 50 anos ou até mais, muitas vezes casadas e com filhos, que apenas recentemente conseguiram achar um jeito ou um momento para se dizerem LGBTs. Ou seja, pessoas que passaram décadas se escondendo ou mesmo sem se entenderem por conta de preconceito e discriminação.

Para essas pessoas que ainda não conseguiram “sair do armário”, sejam jovens ou mais velhas, é preciso ressaltar que não há apenas um jeito de se fazer, não tem uma “receita de bolo” que explique a melhor maneira, a melhor idade e a melhor ocasião. Cada um tem a sua hora, aquele momento em que você já se entendeu e está agora disposto a mostrar para outras pessoas o que você pensa e sente sobre você mesmo. Aquele momento em que você decide que não vale mais a pena se esconder, que o estresse de não poder se dizer LGBT supera o preconceito e as reações negativas que você poderá sofrer.

E muitas pessoas que me procuram com essa dúvida vêm com uma ideia, uma fantasia, de que será preciso organizar uma grande conversa, com data marcada, reunião de todos os conhecidos, com microfone e caixas de som, para o “grande anúncio”. É claro que cada um faz como desejar e conseguir, mas não precisa ser assim que acontece.

Você pode escolher contar para muitas pessoas de uma vez. Ou também pode escolher contar para poucas pessoas inicialmente, às vezes apenas para aquelas que você presume que terão reações mais positivas, que te acolherão melhor. Não há uma regra. É fundamental que seja de uma forma que te deixe o mais confortável possível.

É importante notar também que isso de se afirmar LGBT não é um evento que vai acontecer apenas uma vez. Há a primeira vez em que fazemos isso, mas esse é um processo que vai acontecer muitas vezes ao longo das nossas vidas. Em um mundo em que sempre se presume que as pessoas são cis e heterossexuais, em cada novo grupo de amigos, em cada novo ambiente de trabalho, em cada nova relação que se estabelece, de alguma forma novamente você precisará se afirmar como LGBT. A boa notícia é que, para a maior parte das pessoas LGBT, isso vai ficando mais fácil com o tempo.

Outra boa notícia é que alguns estudos têm mostrado que “sair do armário” pode ter impactos muito positivos na saúde mental, com melhora da autoestima, da confiança e do bem-estar geral. Por outro lado, pesquisas também mostram que, quando a pessoa não consegue ou não pode “sair do armário”, isso pode impactar negativamente sua vida, levando-a a situações de isolamento, comportamentos de riscos e a um aumento da chance de desenvolver transtornos mentais.

Por isso, é uma pena que vivamos ainda num mundo em que as pessoas LGBT não possam ou não consigam mostrar suas identidades. É crucial que trabalhemos para acabar com o estigma e o preconceito para que ninguém mais precise “sair do armário”, para que tenhamos uma sociedade em que  todos os gêneros e sexualidades sejam celebrados e reconhecidos como normais e para que tenhamos orgulho não apenas de nossas identidades, mas também do mundo em que vivemos e que ajudamos a construir.

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