Saúde LGBT+

Câncer de colo para pessoas com vagina: o que você precisa saber

‘Eu só tenho relação com mulheres, ainda assim preciso fazer papanicolau?’

Câncer de colo para pessoas com vagina: tudo que você precisa saber/. Foto: Needpix.
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Pensando no cuidado de pessoas com vagina, sabemos que a heteronormatividade permeia e dá forma a grande parte dos modelos de atendimentos em saúde.  E, por esse motivo, não é incomum receber em consultório pessoas que chegam dizendo: “Dra, vim porque por você ser uma mulher lésbica, sei que vai me atender sob esse olhar e vai saber o que preciso para me cuidar”.

Se por um lado sinto um enorme empatia por aquela pessoa, por outro me vejo cheia de indignação por ainda hoje pessoas LGBTQIA+ precisarem procurar muito um lugar de acolhimento e cuidado adequado.

Neste contexto, uma das dúvidas que mais chegam são: “Eu só tenho relação com mulheres, ainda assim preciso fazer papanicolau?” . Por isso entendo que falar sobre a prevenção de câncer de colo do útero é tão importante. Ele é uma das principais causas de mortalidade relacionada a neoplasias envolvendo pessoas com vagina.

O câncer de colo de útero é, predominantemente, provocado por lesões causadas por uma infecção sexualmente transmissível, o HPV (papilomavírus humano).

E o contágio pode ser feito por contato direto de mucosas lesionadas ou por meio de brinquedos sexuais, mãos e dedos. Diferente do que muitas pessoas imaginam, não é necessário penetração com pênis para que o HPV seja transmitido.

Prevenção 

Por outro lado, sabemos que o sexo entre duas pessoas com vagina possui poucas ferramentas disponíveis para sua proteção. E isso ocorre pois raramente recursos de pesquisa são direcionados para a proteção de pessoas que não correspondem à normatividade binária.

Assim, é absolutamente importante que o cuidado com o corpo no dia a dia seja tomado, a ponto de avaliar se surgirem lesões visíveis na vulva; como também fazer exames rotineiramente, a fim de descartar e tratar, se eventualmente algo aparecer.

Pensando ainda em proteção, o uso de métodos de barreira tendem a diminuir a chance de contágio, mas não conseguem zerar essa possibilidade. Ainda não existe um método completamente adequado e feito para isso. No entanto, adaptar um preservativo masculino, cortando suas extremidades, a ponto de torná-lo uma folha de látex aberta, é a opção de barreira existente, porém não necessariamente viável para a proteção no contato entre mucosas.

Para a penetração, o uso dos preservativos podem ser uma forma de proteção, lembrando sempre de manter unhas limpas e curtas, higienizar mãos, dedos e brinquedos sexuais quando forem ser trocados entre parceiras e na alternância entre sexo anal e vaginal.

Cuidados com a vagina 

Na rotina de cuidados da pessoa com vagina, devemos ter, primeiramente, um profissional de saúde que saiba individualizar o atendimento. O acompanhamento deve ser feito anualmente, ou a cada 6 meses, caso a pessoa esteja em situação de risco para outras ISTs.

Na consulta, há a avaliação do histórico de saúde e de relações e a avaliação física, em busca de possíveis lesões genitais visíveis.

Normalmente, a pessoa que apresenta lesões condilomatosas (verrugas genitais visíveis, causadas pelo HPV de baixo grau) não necessariamente vai ter mais chances de ter lesões pré-malignas (causadas por outro tipo de HPV, os de alto grau), aquelas que nos preocupam no rastreio de câncer de colo de útero. Para avaliar a existência dessas lesões, utilizamos a pesquisa de células modificadas pela presença do HPV, através do método de Papanicolau, exame cujo nome real é: Citologia cérvicovaginal.

O exame é indicado para todas pessoas com vagina a partir de 25 anos de idade e que já tiveram relações sexuais na vida, seja com penetração peniana ou não. A pesquisa antecedendo esse período não é recomendada, uma vez que nessa faixa etária as lesões mais predominantemente encontradas não determinam risco aumentado para conversão em câncer de colo de útero. E, por esse motivo, acabaríamos por expor mais pessoas a exames invasivos e tratamentos desnecessários sem, de fato, estar protegendo essa população.

Uma vez iniciado o rastreio, ele deve ser repetido no ano seguinte e na vigência de dois exames normais. O Ministério da Saúde recomenda que ele seja repetido a cada 3 anos apenas. Portanto, não há a necessidade de realizar coleta de papanicolau anualmente. Isso não configura proteção e, em contrapartida, pode aumentar a chance de exames complementares invasivos e investigações que trariam mais prejuízo que benefícios.

Os exames devem ser colhidos nessa periodicidade até os 64 anos de vida, quando deve-se ter 2 exames negativos nos últimos 5 anos para finalizar o rastreio.

As lesões pelo HPV, na maioria das vezes, aparecem de forma aguda e regridem sozinhas, pois a própria imunidade é responsável por eliminar aquele vírus.

No entanto, para alguns casos, a lesão inicial regride, mas o vírus permanece em situação latente, incorporado à célula do colo do útero.

São para esses casos que o rastreio se faz tão importante, pois, eventualmente, em uma situação de imunidade mais baixa, ou numa determinada idade (normalmente na quinta década de vida), nos tornamos mais suscetíveis à manifestação do vírus em forma de lesões pré malignas. Portanto, antes dos 64 anos de idade, ninguém é velho demais para colher papanicolau.

Rastreio Câncer de Colo de Útero, o que devo saber:

Quando começar? A partir dos 25 anos de vida, para quem já iniciou a vida sexual
Com que frequência? A cada 3 anos, se dois testes negativos em 2 anos consecutivos.
Quando parar? Após os 64 anos, se 2 testes negativos, em 2 anos consecutivos nos últimos 5 anos.
Existe vacina? Sim! Disponível pelo SUS para meninas entre 9 e 14 anos e meninos entre 11 e 14 anos. Dos 14 aos 26 anos, disponível em clínicas particulares. Após 26 anos, não há efetividade comprovada que indique o uso.

Eventualmente, ao longo de todo o rastreio durante a vida, na vigência de alguma alteração neste exame, aí sim iniciaremos investigação que compõe uso de outras análises, como colposcopia, biópsia e frequência maior de coleta de papanicolau.

No entanto, para rastreio de pessoas sem história prévia de alterações não deve ser realizado rotineiramente esse espectro maior de invasões.

E, por fim, como a melhor forma de controle sempre é a prevenção, já temos disponíveis no calendário vacinal oferecido pelo Ministério da Saúde a vacinação contra os 4 tipos principais HPV (6,11,16,18). Ela é administrada para meninas entre 9 a 14 anos e meninas entre 11 a 14 anos, gratuitamente pelo SUS. E está disponível para pessoas fora dessa faixa etária em clínicas particulares.

A vacina é segura e diminui significativamente a chance de desenvolvimento de câncer de colo de útero e de ânus, além de proteger também contra o aparecimento de verrugas genitais, ambas provocadas pelo HPV.

O conhecimento e acesso à informação de qualidade é a principal arma para o exercício da liberdade e auto cuidado. Procure se informar com sua médica ou seu médico sobre sua saúde atual e as melhores formas de se manter saudável, com a plena liberdade de ser quem você é.

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