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Maconha vira queridinha no mundo dos negócios

Com a legalização ganhando terreno, o cenário mudou: negócios canábicos já servem de lastro para fundos de investimentos negociados em bolsa

Ilustração: Felipe Navarro
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Por João Henriques

O ciclo do dinheiro do mercado ilícito de maconha normalmente começa na troca direta de papel moeda, mas, cedo ou tarde, passa pelas transações eletrônicas do mercado financeiro para ser lavado. Com a legalização ganhando terreno pelo mundo, o cenário mudou: negócios canábicos já servem de lastro para fundos de investimentos negociados em bolsa. E isso não é uma transação obscura.

Tudo mudou mesmo. A princípio não se trata mais de lavagem de dinheiro. Agora são empresas formais, que vendem maconha pagando imposto e oferecem ações na bolsa para alavancar o negócio.

A pioneira nesta estratégia foi a canadense Canopy Growth, que abriu seu capital na bolsa de Toronto. Quem apostou nela se deu muito bem. As ações da empresa se valorizaram 1.823% nos últimos três anos.

Para simples comparação, a segunda empresa que mais valorizou na bolsa canadense no mesmo período foi a Shopify, com crescimento de 883%.

Nesta disputa de cifras, a maconha ganhou com quase 1000% de vantagem. No top 10 desta lista ainda aparecem outras três empresas do ramo canábico que também abriram capital.

Proibida no Brasil, liberada nos negócios

A maconha está longe de ser legalizada no Brasil, mas o mundo dos negócios já está aberto para o farto rendimento desta plantinha. No início deste mês foi lançado o fundo de investimento Vitreo Canabidiol FIA IE, o primeiro do país voltado para esse setor.

O investimento mínimo neste fundo é de R$ 5 mil, mas a aventura ficará restrita ao segmento mais rico do nosso pobre país.

Por se tratar de um fundo baseado em negócios totalmente atrelado ao mercado internacional, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) impõe a restrição de acesso apenas para investidores qualificados, ou seja, aqueles com pelo menos R$ 1 milhão em aplicações financeiras.

Investimento promissor

Com a legalização da planta em diversos países, seja para uso medicinal, cosmético ou recreativo, o mundo dos negócios estima que este segmento movimente US$ 166 bilhões por ano até 2025.

A legalização ainda é um sonho distante no Brasil, mas o movimento tem mais força em outros países. Na próximo processo eleitoral norte-americano, a legalização deve avançar em outros estados com a votação de plebiscitos que tratam da permissão para uso recreativo e/ou medicinal.

Apesar da resistência do governo federal (que ocorre desde a era Obama) em sepultar de vez a proibição, comprar cannabis com nota fiscal na terra do Tio Sam é algo cada vez mais comum.

Aos poucos, a maconha deixará de ser relacionada com as siglas de organizações do narcotráfico que controlavam o segmento. Entram em cena os códigos das empresas canábicas que abriram capital.

Também sai de cena o caderninho de anotações da boca de fumo para dar lugar aos relatórios de consultorias de investimento, que empolgam investidores com cifras de crescimento que parecem apontar para o pote de ouro no final de um arco-íris.

Para quem quer ganhar dinheiro é só seguir o caminho da marola feita pelo baseado.

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