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Evento mostra que a moda não é mais sobre roupas e sim sobre pessoas

Conheça a programação de aulas e painéis do festival cultural sobre sustentabilidade Trama Afetiva

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*Por Jackson Araujo

O projeto “Trama Afetiva – Uma experiência em upcycling” está de volta em formato de minifestival multicultural, que acontece entre os dias 20 e 23 de agosto, no Centro Cultural São Paulo, com uma intensa programação aberta de masterclasses e painéis sobre como pensar sustentabilidade para além da ressignificação de resíduos da indústria têxtil e da moda.

O desafio do projeto é criar uma ação estruturante como suporte a novos aprendizados sobre um futuro inquietante que já chegou, trazendo uma preocupação legítima com as pessoas, colocando-as no centro das discussões, com compartilhamento de conhecimentos e novas formas de interação pautadas pelo respeito, empatia, complementariedade, diversidade e inclusão.

Sob esse viés, o Trama Afetiva – criado para diminuir a lacuna entre o aprendizado formal das escolas de design de moda no Brasil e a realidade do mercado, apresentado pela Fundação Hering e respondendo a um questionamento sobre educação para o novo varejo – não poderia abordar somente linhas de pensamento que tratassem a moda pelo viés das roupas, mas também pelo caminho do comportamento, trazendo para as discussões apresentadas e vivenciadas por um time plural de visões complementares (estudantes, designers, costureiras e costureiros, professores, artistas, arquitetas e arquitetos, artesãs e demais especialistas), uma gama de temas convergentes em busca de soluções inovadoras para os desafios complexos que cercam a pauta da sustentabilidade.

Desde o desabamento do edifício Rana Plaza, em 24 de abril de 2013, em Bangladesh, resultando num balanço final de mais de mil mortos, a moda deixou de ser sobre roupas e passou a ser sobre pessoas. E é dentro dessa abordagem que o Trama Afetiva apresenta seu conteúdo programático de 2019 para dar suporte intelectual e conceitual aos workshops da Oficina Trama, que busca prototipar soluções criativas para os resíduos têxteis da Cia. Hering, empresa que aporta verba de patrocínio para o projeto aprovado no ProAC ICMS – programa de fomento paulista à cultura com patrocínios incentivados e renúncia fiscal – em busca de conhecimento sobre formas de pensar, produzir e se relacionar com os novos comportamentos de consumo.

Todas as manhãs, sempre das 10h ao meio-dia, o Trama Afetiva abre as portas do auditório Jardel Filho, do CCSP, para masterclasses e painéis de conversa com especialistas e influenciadores dentro de cada tema proposto e abaixo relacionado, tendo como linha mestra de condução a Economia Afetiva – perspectiva de mercado que potencializa a importância do ganho coletivo – para disseminar temas urgentes que se fortalecem como aprendizados.

A lógica circular

No dia 20 de agosto, acontece a masterclass Economia Circular, ministrada pela especialista Carla Tennenbaum, designer e representante no Brasil da metodologia “Cradle to Cradle”, que “propõe encarar os materiais como nutrientes para ciclos técnicos ou biológicos”. A aula será seguida pelo painel O Poder da Lógica Circular, com Jonas Lessa e Lucas Corvacho, da Retalhar, empresa de logística reversa têxtil; Adriana Tubino e Itiana Pasetti, do negócio social Revoada; Patricia Centurion, designer representante do projeto social holandês i-did.nl e Luciano Amado, diretor comercial da Feltros Santa Fé. A mediação é da jornalista-ativista Marina Colerato, da plataforma Modefica.

Moda como ativismo

Já no dia 21 de agosto, a masterclass é sobre Lugar de Fala com Fióti, músico, produtor e empresário que ao lado do irmão Emicida criou a Lab Fantasma, marca que abordou na passarela da SPFW temas como racismo, gordofobia, empoderamento da periferia e música como ferramenta de inclusão social. Fióti abordará questões sobre empreendedorismo e economia sustentável, tendo como base a trajetória de sua marca que completa 10 anos. Em seguida, acontece o painel Moda Como Ativismo, com a participação da estilista e artista Vicente Perrota, criadora do Ateliê TRANSmoras, “um local que acolhe e discute a invisibilidade dos corpos LGBTQIA+, e a ressignificação do discurso hegemônico, patriarcal, CIS, higienista e excludente”; da estilista Flavia Aranha, especializada em roupas de tecidos orgânicos, que potencializa o trabalho de grupos de agricultura familiar para produção de tingimentos naturais; de Flavia Durante, jornalista e criadora do bazar Pop Plus, ativista do conceito body positivity e do empoderamento gordo; de Pri Bertucci, fundador e CEO do [SSEX BBOX], label de justiça social que procura dar visibilidade às questões de gênero e sexualidade; de Carol Gavazzi, publicitária e CEO da agência de marketing inclusivo Matilda.My; e de Regina Ferreira, ex-modelo e CEO da agência Hutu Casting, “empresa especializada em casting totalmente negro com o objetivo de reintegrar e ressignificar o mercado”. Para mediar o painel, Karlla Girotto, artista e doutoranda do Núcleo de Estudos da Subjetividade pela PUC/SP.

Aprendizados para a liberdade

Amplificando ainda mais as investigações sobre a importância das pessoas nos processos que constroem uma trama de afetos no ambiente da sustentabilidade, no dia 22, a masterclass sobre Empreendedorismo Cívico é de Magnólia Costa, doutora em Filosofia pela USP, ensaísta, tradutora, crítica de arte, curadora, professora de História da Arte no MAM e diretora de relações institucionais do Humanitas 360, que desenvolve projetos e facilita coalizões de organizações sociais, profissionais e gestores públicos focadas na diminuição da violência, na promoção da cidadania ativa e no aumento da transparência. Depois rola o painel “Aprendizados para a Liberdade”, com a participação de Celina Hissa, designer criadora da plataforma Catarina Mina, primeira marca a praticar transparência total na moda brasileira, que tem tirado mulheres de zona de vulnerabilidade social no semi-árido cearense por meio do crochê; de Katia Ferreira, empreendedora social criadora da marca Apoena e diretora do instituto cultural Proeza, que desenvolve potencial empreendedor e livra mulheres de situação de vulnerabilidade social em Brasília por meio do bordado; e de Gustavo Silvestre, artista e estilista criador do projeto Ponto Firme, que ministra aulas de crochê no presídio masculino Adriano Marrey, em Guarulhos, criando um círculo virtuoso de aprendizados e recuperação do afeto perdido pela violência. Na mediação, Elis Chitero, gestora de Comunicação Institucional, Cultura e Sustentabilidade da Cia. Hering.

Lixo ou desperdício?

No último dia de evento (23 de agosto), a masterclass será de Dani Leite, criadora da plataforma Comida Invisível, que busca diminuir o desperdício de alimentos em São Paulo. Ela também faz a mediação do painel Lixo ou Desperdício?, com Samantha Souza, gerente de Impacto Social na Gastromotiva, uma iniciativa global de gastronomia social que conecta pessoas, projetos, empresas, universidades, agências internacionais, governos e a sociedade civil em torno do poder transformador da comida; Sergio Bispo, catador referência em logística reversa e líder do projeto Kombosa Seletiva, que presta serviços de coleta seletiva; de Henrique Ruiz, coordenador do Cataki, aplicativo para aproximar geradores e catadores de resíduos, aumentando reciclagem e renda.

O encerramento oficial do Trama Afetiva acontece na noite do dia 23, na sala Adoniran Barbosa, às 19h, quando serão apresentados os resultados criativos prototipados pelo time multidisciplinar de participantes da Oficina Trama seguido do show Novos Gêneros, com quatro influentes artistas da nova geração paulistana, que trazem em sua poesia, estilo e subjetividades, discursos sobre corporeidades políticas, ativismo e empoderamento.

Masterclasses, painéis e show têm entrada franca com lotação sujeita à capacidade das salas do CCSP.

*Jackson Araujo é comunicólogo e consultor criativo

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