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Precisamos mais do que nunca de solidariedade e da ajuda do Estado

Para vencer as adversidades impostas por essa pandemia, temos que assumir a responsabilidade de cuidarmos uns dos outros

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A sociedade globalizada está enfrentando uma situação extremamente difícil causada pela pandemia de coronavírus (covid-19). Espalhando-se por todo o mundo e gerando um aumento contínuo de casos numa velocidade assustadora, a pandemia tem causado duros impactos na vida familiar, profissional, econômica e social das pessoas e dos países atingidos.

Para conseguirmos atravessar esse período delicado, a solidariedade se faz um ingrediente essencial. Para vencer as adversidades impostas por essa pandemia que ameaça a todos, temos que assumir a responsabilidade de cuidarmos uns dos outros. Os mais atingidos, por certo, serão os mais pobres, os que dependem – mas que infelizmente não podem contar -, de um serviço público de qualidade na área da saúde, que vivem em moradias precárias onde o saneamento básico não chega, que estão na informalidade, que estão desempregados.

A história nos mostra que a cada determinado período somos postos à prova em nossa habilidade de adaptação e de sermos resilientes, mantendo nossos propósitos em meio a novos métodos e procedimentos que exigirão de todos a capacidade de se adaptar a eles. Cabe perfeitamente aqui um velho dito popular que afirma: “não podemos controlar os ventos que sopram o nosso barco, mas podemos ajustar as velas para chegarmos ao nosso destino”. O momento atual exige que “ajustemos as velas dos nossos barcos” no sentido de nos unirmos em defesa de nós mesmos. Ajustarmos as velas e nos conscientizarmos de que estamos todos e todas, sem exceção, envoltos por uma realidade cruel que pode levar à morte milhares de pessoas. E o pior, está só começando.

Não queremos aqui parecer alarmistas ou fatalistas. Trata-se apenas de fazer uma leitura ampla e detalhada de tudo que está ocorrendo no Brasil em torno da pandemia de coronavírus. É triste constatar diante das últimas declarações do ministério da Saúde que o Brasil não possui condições estruturais para atender a demanda esperada de pacientes em potencial que poderão contrair a doença. De acordo com o ministro da saúde, Luiz Henrique Mandetta, o próximo trimestre (abril, maio e junho) será o pior período de enfrentamento da pandemia. Alertou ainda o ministro para o fato de que no final de abril, o sistema de saúde entrará em colapso. Ao mesmo tempo, medidas preventivas recomendadas pela Organização Mundial da Saúde (OMS) tal como fazer o teste de covid-19 em todas as pessoas, continua sendo negada pelo governo federal, que insiste em realizá-lo apenas em pacientes considerados graves.

Qual a verdadeira razão que leva o governo brasileiro a insistir na negativa de realizar os testes com a amplitude necessária? Estaremos diante de uma defesa aguerrida da economia em detrimento das vidas que podem ser salvas? Preferimos pensar que não e que há algum outro motivo, tal como a falta de material necessário para realização dos testes. Contudo, se não há material suficiente num primeiro momento, a produção contínua e em caráter emergencial dos mesmos atenderá às demandas apontadas. Não fosse assim, uma instituição tão séria quanto a Organização Mundial da Saúde não insistiria tanto no uso deste método de prevenção da doença.

Está inação por parte dos órgãos públicos brasileiros responsáveis pelo setor da saúde deixam margem para conclusões das mais diversas, podendo, inclusive, trazer pânico à população.

Não bastasse isso, ainda somos “brindados” com as “pérolas” da verborragia do senhor presidente da República, que teimosamente insiste em “brincar” com a seriedade que a situação exige. Numa delas, Jair Bolsonaro numa tentativa de mostrar-se forte e inatingível bradou: “se uma facada não me derrubou, não será uma “gripezinha” que vai me derrubar”.

A pandemia de coronavírus está trazendo à tona algo que muitos especialistas e estudiosos já haviam previsto: a incapacidade do atual governo em coordenar esforços que garantam o bem-estar e a dignidade das pessoas. Aliás, ações e projetos encaminhados pelo atual governo sempre apontaram para a retirada de direitos dos trabalhadores e dos menos favorecidos em benefício dos mais ricos. As reformas da previdência e trabalhista são um claro exemplo.

Agora, trazem à tona a proposta de redução das jornadas e dos salários dos trabalhadores e trabalhadoras com carteira assinada em 50%, como forma de reduzir os prejuízos das empresas. Cabe aqui uma questão crucial: os preços dos alimentos, dos produtos de limpeza e higiene pessoal, dos remédios e dos aluguéis também serão reduzidos em 50%?

Para os trabalhadores que diante do desemprego tentam garantir seu sustento na informalidade e que estão com suas atividades ainda mais comprometidas, o governo pretende oferecer uma ajuda no valor de 200 reais nos próximos meses. Para esta proposta, fazemos nossas as palavras da presidenta da Associação Juízes para a Democracia (AJD), Valdete Souto Severo, que em entrevista à Rede Brasil Atual, declarou tratar-se de um ‘deboche’ com essa parcela da população. Não é possível, sequer, fazer uma compra semanal para uma família de quatro ou cinco pessoas com esse valor'”.

A equipe econômica do governo dá claras demonstrações de suas preocupações apenas com as grandes empresas, ao afirmar que “sairá em socorro das companhias aéreas”. Entretanto, para as Pequenas e Médias Empresas (PME), responsáveis pela grande maioria dos empregos oferecidos no país, nenhuma ação específica para conter os impactos da crise foi anunciada.

A pandemia de coronavírus ameaça a sobrevivência de todos. E, parafraseando o que afirma a presidente da AJD, “em vez das autoridades aproveitarem essa crise para se darem conta do quanto é autofágica a política neoliberal que está sendo imposta no Brasil, insistem com ela. Parece uma perversão, pois seguem retirando direitos de quem precisa sobreviver trabalhando”.

Como já dissemos, o momento atual exige que “ajustemos as velas dos nossos barcos” para uma mesma direção: a defesa inconteste da vida de cada ser humano. Juntos, devemos exigir das autoridades a tomada de medidas que atendam as necessidades de todos e não apenas de alguns privilegiados.

Solidariedade, compromisso, ética e responsabilidade social é o que esperamos por parte dos dirigentes de nosso país em todas as esferas: federal, estadual e municipal diante da atual crise humanitária que nos assola.

Unidos em torno do bem maior que possuímos, nossas vidas, possamos agir com coragem e prudência diante desta triste realidade em que nos encontramos. Que cada um de nós, na nossa fé, rezemos para que a esperança e o amor sejam os norteadores de nossos passos.

Solidários e resilientes, sigamos em frente “De esperança em esperança, na esperança sempre”.

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