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Parceiro e defensor dos rejeitados, como Jesus seria tratado hoje?

É urgente a criação de uma rede solidária para combater as manifestações de ódio frente ao bem comum

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Lamentavelmente, está se tornando corriqueiro assistirmos pelas redes sociais ataques desferidos por ultraconservadores contra setores da Igreja Católica ou, mais diretamente, contra algumas de suas lideranças. Seja em âmbito local, regional ou internacional, a ousadia destes “juízes inquisidores” não tem limites.

Por meio de argumentações e posturas que remontam aos idos do medievo e de uma retórica apurada, conseguem convencer a muitos de que suas afirmações são a “mais pura verdade” nos campos da História, da Antropologia, da Teologia, da Filosofia, da Eclesiologia e da Cristologia, entre outros. O mais aterrador é que estas pessoas estão construindo verdadeiros “exércitos”, prontos para agir contra aqueles que não lhes agrada com suas falas e/ou práticas.

Em data não muito remota, durante um debate acalorado, pessoas que se apresentaram como membros desses grupos ultraconservadores acusaram a Teologia da Libertação de ser a responsável pela divisão entre ricos e pobres, pretos e brancos, latifundiários e trabalhadores sem-terra e, pela divisão de classes sociais. Em suas cabeças, pessoas como Dom Helder Câmara, Dom Paulo Evaristo Arns, Dom Luciano Mendes de Almeida, Dom Pedro Casaldáliga, padres Ezequiel Ramin, Josimo, Burnier e religiosas como Irmã Dorothy – apenas para citar alguns -, que se dedicaram durante toda vida à defesa dos mais pobres e perseguidos, não passam de comunistas infiltrados na Igreja. Não bastasse, os condenam a excomunhão.

Essa intolerância religiosa, na maioria das vezes gerada pelo desconhecimento, teve seu ápice momentâneo durante o Sínodo para a Amazônia, que se deu em Roma durante o mês de outubro. Militantes ultraconservadores roubaram estátuas oferecidas pelos índios da Amazônia durante o Sínodo e que estavam na Igreja de Santa Maria in Traspontina. Os que se deram a este trabalho, fizeram questão de filmar a ação e divulgá-la amplamente nas redes sociais, principalmente nos sites de mídia católica conservadora. O LifeSite News divulgou um comunicado dos ladrões dizendo que “agiram porque as pessoas de fé estão sendo atacadas por membros de nossa própria Igreja. Não aceitamos isso! Não ficamos mais em silêncio! Começamos a agir AGORA!”

Em comunicado, bispos ligados à Repam afirmaram: “Nos últimos dias, fomos vítimas de atos de violência que refletiram intolerância religiosa, racismo, humilhação contra povos indígenas acima de tudo.”

O Diretor Editorial do Vaticano Andrea Tornielli afirmou: “foi um gesto violento e intolerante” e que os ladrões “passaram do ódio nas redes sociais para a ação”. Disse, ainda, ser chocante que um site católico conservador tenha dado como manchete do roubo “A Justiça está Feita”.

De que justiça estão falando? Não resta dúvida tratar-se da justiça impetrada por eles mesmos construída por pensamentos ultraconservadores que não admitem a abertura da Igreja. Ficamos pensando às vezes sobre como Jesus seria tratado por estas pessoas, visto que andava e defendia os mais rejeitados pela sociedade da época quebrando, inclusive, barreiras religiosas e culturais.

Diante de fatos como este e de tantas outras manifestações de intolerância religiosa, preconceito e violência praticada contra homens e mulheres que professam outra fé, outra religião que não a católica, não podemos simplesmente dar de ombros como se nada estivesse acontecendo. Precisamos nos unir ao Papa Francisco em suas iniciativas e apoiá-lo formando uma Rede de Solidariedade. Francisco é, sem nenhuma dúvida, o homem da atualidade mais antenado com os problemas da humanidade e no exercício de seu pontificado tem buscado colaborar para que a cruel realidade na qual estamos mergulhados seja transformada.

Nesta direção, será realizado no próximo sábado, 9 de novembro, na Paróquia São Francisco de Assis de Ermelino Matarazzo, zona leste de São Paulo, o “Encontro de Amor, Fé e Reflexão contra a Intolerância Religiosa, Preconceito e Violência e em Solidariedade ao Sínodo para a Amazônia”, em que representantes de diversas religiões estarão reunidos. Venha fazer parte desta iniciativa.

Buscar-se-á dar início a uma rede de solidariedade que pretende reunir com o tempo representantes de todos os países que compõem a região Amazônica. Por certo, será um trabalho extenso e a longo prazo que exigirá muitos esforços e empenho por parte de todos os envolvidos. Mas, como dizia nosso saudoso Dom Paulo Evaristo Arns, “o caminho se faz caminhando”.

O Papa Francisco nos mostrou o caminho e se colocou a serviço. Façamos o mesmo.

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