Diálogos da Fé

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O Natal de Maria de Nazaré: ela gerou, deu vida e criou o novo

Reconheçamos a presença de Maria nas mulheres trabalhadoras, pobres, refugiadas, prostitutas, lésbicas e que vivem situações de violência

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Deixando de lado as contradições teológicas e mesmo a ausência de verossimilhança histórica foquemos apenas no significado simbólico da narrativa natalina.

Muito distante dos episódios históricos que dão origem à data e às apropriações culturais pela publicidade capitalista, a gestação e o nascimento daquele que se tornou a pessoa mais importante da cultura ocidental são envoltos em uma rica simbologia que representa uma ruptura com preconceitos sociais e morais da época.

Jesus já nasce na condição de marginalizado. As diferentes narrativas de seu nascimento ainda que com divergências quanto ao território, conciliam ao descrevê-lo desde seu nascimento como pobre, sem lar, sem terra e refugiado.

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As narrativas dos antecedentes do seu nascimento também carregam o simbolismo de um combate ao moralismo da época. Jesus foi concebido antes do matrimônio, sua mãe, Maria, era apenas uma jovem, com compromisso de noivado firmado quando se descobre grávida.

Ela aceita gerar o Salvador em uma sociedade com uma intensa carga moral religiosa e na qual a mulher era extremamente discriminada, enfrentando a possível rejeição de seu noivo, sua família e por sua comunidade.

Para a sociedade judaica da época, o sexo tinha apenas finalidades reprodutivas, e só poderia ser realizado dentro do matrimônio. Uma mulher que concebeu fora dessas condições ou aquela que tem seu compromisso de noivado rompido era rechaçada.

De acordo com os evangelhos, ao tomar conhecimento da gravidez de Maria e sabendo não ser o pai, José a princípio quer desfazer o compromisso de matrimônio. Depois de um tempo de reflexão decide por acolher Maria e aceitar aquele que viria a ser Jesus como seu próprio filho.

Ainda assim Jesus era considerado socialmente como filho ilegítimo, nem todos o viam como filho de Deus concebido de maneira “imaculada”.

Maria não passou ilesa ao escárnio e à rejeição da sociedade judaica. Precisou enfrentar as suspeitas e julgamentos durante toda sua vida.

Junto com José, orientou Jesus com os princípios da igualdade, da justiça e do amor. Amor que ele não conheceria não tivesse ele próprio recebido e sido ensinado a amar. Maria não lhe foi apenas exemplo de amor, mas também de rompimento e de coragem.

A exaltação de sua imagem como serva obediente e resignada construída pelo cristianismo patriarcal em nada se assemelha a desta Maria, uma jovem pobre e migrante que descumpriu as regras para garantir o nascimento e vida de seu filho, que participou do movimento político religioso liderado por Jesus.

Maria é muito mais do que sua figura sacralizada pelo catolicismo que impõe às mulheres uma idealização enquanto seres submissos, servientes, castas.

Maria é a figura da mudança, é quem gesta e dá vida ao novo! É quem possibilita a encarnação de Deus e o transforma verdadeiramente em humano. Ensinou o Cristo a falar, andar, o alimentou em seu seio, o acolheu, embalou, educou e caminhou com ele em seu projeto de libertação.

Neste e em todos os natais, celebremos além do nascimento de Jesus, a figura desta Maria corajosa que enfrentou os preconceitos morais de sua época. Que possamos reconhecer sua presença na existência e lutas das mulheres trabalhadoras, pobres, refugiadas, prostitutas, travestis, lesbicas, bisexuais, com deficiência, negras, indígenas, encarceradas, que vivem situações de violência… nas que precisam interromper uma gestação da mesma forma que naquelas que assim como ela própria escolheram ser mães.

Que esta Maria que gerou, deu vida e criou o novo inspire a esperança e a coragem para as mudanças necessárias.

Aviso de férias:

Esta coluna voltará a ser publicada em 17 de janeiro de 2018.

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