Diálogos da Fé

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Espírita que ama não arma

A apologia ao porte e o aumento da repressão institucional e armada contra a população de forma indiscriminada não é o caminho

Bolsonaro ensina a criança gesto da arma (Foto: Reprodução)
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Marielle Franco, ativista dos direitos humanos, mulher, negra, bissexual, 38 anos, foi a quinta vereadora mais votada da cidade do Rio de Janeiro nas eleições de 2016.

Ela foi executada no dia 14 de março de 2018, no Estácio, atingida por quatro disparos no rosto. Seu motorista, Anderson Pedro Gomes, também foi assassinado.

O caso ganhou um desdobramento crucial com a prisão de dois ex-PMs – um deles, vizinho do atual presidente da República – acusados de terem executado o crime.

Na semana em que a pergunta “Quem mandou matar Marielle?” reverbera ainda mais forte por ter passado um ano de sua execução sem solução do caso, fomos surpreendidos pela triste notícia do massacre ocorrido na Escola Raul Brasil, na quarta-feira 13, na cidade de Suzano, Grande São Paulo, deixando dez mortos e onze feridos.

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O massacre foi realizado por dois atiradores, ex-alunos, que entraram na escola atirando. Antes do ataque, assassinaram o tio de um dos atiradores.

Os dois casos, presentes nos diálogos das donas de casa, dos estudantes, dos trabalhadores e, infelizmente, programas televisivos sensacionalistas – aqueles que lucram com a dor e a violência – reacenderam a discussão sobre a flexibilização do porte de armas e a redução da maioridade penal, medidas defendidas pelo atual presidente – aquele que incentiva crianças fazerem “arminhas” com a mão -, indo na contramão de especialistas que apontam falsa correlação entre mais armas e mais segurança.

Setores da sociedade cobram respostas rápidas diante da sensação de insegurança, da espetacularização da vida e do oportunismo político. Soluções mirabolantes surgem, contrapondo-se até mesmo a dados, como a informação divulgada pela Fundação Casa (antiga Febem), apontando que, dos aproximadamente 9.016 internos, apenas 0,6% estão encarcerados por motivo de assassinato.

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A medida de redução da maioridade penal não deseja a ressocialização de adolescentes, mas o encarceramento violento, marcado por distintas violações de direitos humanos.

Além do mais, seguindo os passos do atual sistema penitenciário brasileiro, a redução da maioridade penal ampliará cada vez mais a criminalização de uma classe, de uma cor e etnia, e de um território nas cidades: a população pobre, negra e periférica.

A redução da maioridade penal voltou a ser defendida (Foto: ABr)

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Cristãos mal-intencionados

Há cristãos – mal-intencionados – que utilizam argumentos religiosos para defender a barbárie e a violência. Uma das passagens preferida dessa “gente de bem” é a em que Jesus disse não ter vindo trazer a paz, mas a espada.

Não há paz sem voz e Jesus sabia disso. Quando usou a analogia da espada, Jesus se referia ao império romano (dominação) e que a pacificação só seria possível se houvesse conflito e divisão às hierarquias e poderes estabelecidos, rompendo com a política de morte da época.

Jesus tornou-se o centro da separação e rompe com a manutenção das relações estabelecidas pelo legalismo.

Uma das possibilidades que a Doutrina Espírita apresenta para o enfrentamento da violência é a educação em suas múltiplas interfaces.

O Espiritismo, essencialmente educativo, tem como objetivo libertar e proclamar o reino de Deus – de justiça, amor e paz – para todos, mas a sua missão é realizada em ambiente de paz.

O impulso de transformação presente na doutrina espírita – para além dos fundamentalismos e articulações reacionárias que infelizmente disputam os ensinamentos de Allan Kardec – defende que uma sociedade justa e livre se dará por meio da implantação de políticas públicas que valorizem a cultura da não-violência, o respeito à diversidade e a todos como portadores de direitos.

A apologia ao porte de armas, o aumento da repressão institucional e armada contra a população de forma indiscriminada não é o caminho.

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