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Desarmamento: o caminho da paz

Instituições religiosas fazem crítica ao armamentismo no Brasil em tom de advertência

Bolsonaro
O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) é um apoiador ferrenho do aumento da circulação de armas. Foto: Reprodução/Redes Sociais Câmara do MPF critica Bolsonaro por portaria que afrouxou controle de armas
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A guerra na Ucrânia colocou em pauta o problema da violência no mundo contemporâneo. Não que o mundo estivesse em paz, mas o ataque desferido pela Rússia tem por alvo um país protegido pelos Estados Unidos e pelas forças da Organização do Tratado do Atlântico Norte, que incluem um arsenal nuclear maior do que o da Rússia e China juntas. O risco evidente de catástrofe nuclear, caso a OTAN decida intervir mais diretamente, deveria despertar o mundo para um rápido cessar-fogo, mas não é o que estamos vendo: predomina amplamente a proposta dos EUA de reforçar os armamentos da Ucrânia, como se não houvesse risco de revide nuclear. Num mundo que não superou a pandemia de Covid, que tem quase 200 milhões de pessoas com fome, que sofre com catástrofes climáticas e que está mergulhado numa crise financeira que parece não ter fim, é incompreensível ver alguém defender o aumento das despesas militares. Mas esta é a triste realidade: a corrida armamentista acelerou-se!

Embora a voz da razão diga que uma potência nuclear não pode ser vencida pela força das armas, as vozes que ecoam na grande mídia corporativa clamam pela intensificação da guerra na Europa para assegurar a hegemonia dos EUA e seus aliados. Contra essa insensatez do armamentismo, levanta-se a voz do Papa Francisco, a proclamar que o caminho da Paz mundial passa pelo cessar-fogo entre Rússia e Ucrânia e pelo desarmamento das grandes potências. Sua voz não clama no deserto, embora seja menos ecoada do que merece, tendo em vista a gravidade da situação.

Um desses ecos é o dos bispos católicos do Brasil, que também levantaram sua voz para marcar a posição da Igreja contra a espiral de violência no mundo e especialmente em nosso País. A CNBB denuncia “os estrondos da guerra, os gemidos da fome, o ensurdecedor barulho dos tiros que ceifam vidas e ecoam no choro das vítimas e de seus familiares”. Depois de lembrar que os conflitos atuais – em Moçambique, Iêmen, Etiópia, Haiti, Mianmar e tantos outros – são uma “terceira guerra mundial por pedaços”, como diz o Papa, ela se volta para a atualidade brasileira. Qualifica como “loucura” o aumento de armamentos em mãos de civis autodenominados “caçadores, atiradores e colecionadores de armas de fogo”. Aponta que “seu número aumentou 325% de 2018 a 2021”. Poderia citar outros fatos agravantes, como a facilitação do acesso a armas de grosso calibre e à sua munição por meio de simples decretos presidenciais.

Como é de praxe em notas eclesiásticas, essa crítica ao armamentismo no Brasil é feita em tom de advertência, e não de constatação. A CNBB reconhece que o gasto com armas de fogo “é um escândalo, suja o coração, suja a humanidade” e que o risco de tragédias aumenta quando a arma é acompanhada por “discursos fundamentalistas, inclusive religiosos, que transformam adversários em inimigos e comprometem a fraternidade”. Não era necessário acontecer o assassinato do policial militante do PT no Paraná para dizer que isso não é apenas uma possibilidade, mas uma triste realidade. Quem assassinou defensores dos Direitos Humanos e lideranças de Povos originários há tempos vem fazendo proclamações fundamentalistas e discursos de ódio. A novidade é que agora esse discurso é cada vez mais frequentemente acompanhado de tiros que calam quem deles discorda. Os “clubes de tiro” que se espalham pelo País anunciam um quadro de terror se o Poder Judiciário não der fim à impunidade.

Diante disso, continua a CNBB: “faz-se urgente escutar as vozes de tantos que, vitimados por variadas formas de violência, clamam por justiça e paz. Esta realidade não pode ser naturalizada. É impossível aceitar o extermínio de irmãos e irmãs. Seus corpos sem vida clamam por justiça e responsabilização. Suas memórias e seus sonhos de paz devem permanecer vivos entre nós”. Enfatizam que “diante de tantas situações que nos envergonham, voltamos a erguer nossa voz para denunciar a violência e solidariamente clamar por paz”.

E terminam com uma palavra de esperança: “aos sofredores, que não desistam, aos que têm poder de cuidar, defender e promover o bem comum, que não se omitam e aos que diretamente ferem e destroem a paz, que se convertam!”

Apesar de seu tom moderado, a manifestação da CNBB é um alento para o povo católico que leva a sério a promessa bíblica de um mundo onde “Justiça e Paz se abraçam”. Mesmo sem o tom incisivo de outros tempos, essa nota nos faz sentir que na direção da CNBB estão bispos em sintonia com o Papa, em defesa da Paz e pelo desarmamento.

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