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Reforma da Educação e o legado de Paulo Freire

A educação no Brasil estará perdida enquanto Olavo de Carvalho tiver a palavra final

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Paulo Freire deixou o legado de uma educação libertadora, em que o aluno é o protagonista e o professor o ajuda a ter uma visão crítica do contexto em que vivem, saberem que são os oprimidos os alunos oriundos do ensino público. E negar a “falência” do ensino público fundamental e médio é desconhecer o que é estudar nesses lugares.

A reforma do ensino é fundamental, mas com a participação da população em assembleias e consultas populares e não com uma “canetada” do presidente como ocorreu em dezembro de 2018.

Nesse contexto, a reforma teria caráter utilitarista, integrando os alunos de baixa renda ao “mundo real”, na quarta revolução industrial, transformando-os em mão de obra qualificada em “sintonia” com o mercado de trabalho.

 

Mas, na realidade, a maioria das escolas públicas não terá verbas suficientes para adequar as escolas aos projetos tecnicistas do Estado. Na prática, a realidade seria uma propaganda oficial, sem os planejamentos necessários.

E agora o MEC entregue na mão do astrólogo Olavo de Carvalho, que orienta os seus funcionários que são seus ex-alunos, e coloca a educação numa perspectiva de caça ao “marxismo cultural”, fruto da imaginação desse senhor, a reforma fica esquecida, um projeto natimorto, pois o MEC terá a função de expurgar os professores comunistas, segundo o presidente Bolsonaro que tem seu governo pautado no clássico “O mínimo que você precisa saber para não ser um idiota”, de Olavo de Carvalho.

E mesmo que a reforma tenha debates públicos que ocorram depois de sancionada, ou seja, essas conversas não terão fundamento legal. Parafraseando um colaborador da ditadura no Brasil aos alunos da São Francisco (USP), eles estão lá para estudar e não para debater.

 

Esse é o “clima” na educação brasileira. Um lugar não feito para trazerem as famílias e a sociedade para a escola e criarem um pensamento crítico como dizia Bell Hooks em seu livro Ensinando a Transgredir.

Diante disso querem colocar robótica nas salas de aula, mas a maioria dos alunos não sabe o básico de Matemática e Língua Portuguesa. A educação não pode ser criada para o aluno ser subserviente, reacionário, não criar uma mentalidade de Tempos Modernos em que o Chaplin era o especialista em apertar parafuso e termina caindo dentro da máquina, uma ótima metáfora sobre alienação no trabalho, muito escrita por Karl Marx.

A educação deve ser libertadora e emancipadora. Portanto, o filho da faxineira não pode ter o direito eliminado e transformado em mão de obra barata para uma cadeia de produção multinacional, se sua vontade é ser médico.

O texto da reforma gera uma confusão e não diz claramente se o estudante terá direito a estudar para ser médico, ou terá que comandar um robô para apertar parafuso.

A perspectiva para a educação no Brasil é a pior possível, entre deputada mandando os alunos filmarem seus professores e ex-ministro da Educação orientando as escolas a cantarem o hino nacional, gravarem e mandarem para o MEC com o slogan de campanha do presidente, o que viola o ECA e é inconstitucional.

A educação no Brasil estará perdida enquanto Olavo de Carvalho tiver a palavra final, em busca de reverter o que Antonio Gramsci, que foi um filósofo marxista, fez com a Educação Ocidental. Lógico que é um devaneio de Olavo.

E é essa educação que a nova geração vai encontrar, uma “lavagem cerebral”, sempre louvando a um Deus particular, pois os professores de esquerda são ateus, diz a cartilha olavete, e as falhas da educação, dizem os bolsonaristas, é culpa do PT.

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