Augusto Diniz | Música brasileira

Jornalista há 25 anos, Augusto Diniz foi produtor musical e escreve sobre música desde 2014.

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Livro mostra Marília Mendonça como ponto fora da curva no sertanejo

Artista compunha de forma emancipadora, além de ter um comportamento diferente do padrão do gênero que integrava

Foto: divulgação
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Quando Marília Mendonça ascendeu ao público, não era difícil notar uma personagem musical fora do padrão do sertanejo. Com sua morte trágica ano passado, aos 26 anos (faria 27 no último dia 22 de julho), a comoção e, por outro lado, o preconceito com o gênero musical não permitiram uma análise profunda sobre a artista.

O livro recém-lançado Marília Mendonça, a Rainha da Sofrência – Biografia e Crítica (Clube de Autores; 270 páginas), do crítico musical Bruno Ribeiro, mostra que a artista foi um ponto fora da curva no sertanejo.

O autor sustenta Marília como uma cantora romântica. O fato é que o sertanejo adotado neste século, já bastante mudado em letra, melodia e instrumentação, deu brechas para um pop com variadas influências. 

Definitivamente, Marília não era pop, mas uma cantora e compositora de dor de cotovelo, sofrimento no amor, traições e vinganças, o copo como companheiro, mulher entregue à vida. A naturalidade com que tratava questões desse tipo, associada a um comportamento de mulher independente dentro de um meio musical conservador dominado por homens, posicionou-a de forma diferente na sua “bolha”.

A infância difícil em uma família sem recursos e o começo em bares de Goiânia tocando rock e, depois, compondo para sertanejos, antes de começar em definitivo a carreira profissional em 2015, apontam para uma artista mais radical em seu propósito.

O livro destaca Marília como alguém do meio sertanejo que agregou algo novo dentro de um segmento bastante previsível. Para Ribeiro, a cantora “era espontânea e inteligente; tinha uma voz rara e cantava bem; escrevia e compunha com estilo próprio; e, por fim, mas não menos importante, era dona de uma personalidade original, meio rebelde e meio família, que seduzia e incomodava na mesma medida”.

A obra relata em várias ocasiões como os fãs se identificavam com sua música tornando-a uma líder de audiência no streaming. Marília absorveu bem um público em busca de ouvir algo mais pessoal em meio ao discurso frequentemente tolo do sertanejo.

Lia escritores com vasta erudição, como Bukowski. Tinha admiração pelo ex-Titãs Nando Reis. Gostava de sentar à mesa de bar. Parecia compreender as pessoas e a sensibilizá-las.

O livro, mais que um perfil, é uma boa análise de Marília dentro do contexto da canção popular, preconceituosamente inserida, muitas vezes, apenas no cenário da MPB.

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