Artigo

Que a resistência democrática seja o espírito do nosso tempo

A luta de hoje semeia a esperança do amanhã

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A democracia brasileira corre risco e sua sobrevivência depende da resiliência das instituições e da coragem cívica da sociedade civil organizada e de cada um de nós para denunciar e enfrentar, nas urnas e nas ruas, as ameaças golpistas de Jair Bolsonaro.

Em meio à escalada do presidente, muitos desdenham como impossível a ocorrência de um golpe aos moldes de 1964. Pudera, a conjuntura é distinta. Ao contrário daquela época, hoje, a ampla maioria da população, a imprensa livre, as entidades representativas do grande capital, os organismos multilaterais e até as nações mais desenvolvidas rejeitam a implantação de uma ditadura àqueles moldes.

Porém, é preciso alertar que o processo para minar as bases democráticas, também ele golpista, tem outros moldes na atualidade. Sob Jair Bolsonaro, os ataques são diários e de diferentes formas, seja através de uma permanente guerra aos poderes constituídos, seja através do aparelhamento de órgãos do Estado nacional. A aparente insanidade tem método: solapar a instituições da República e impor seus objetivos de forma ilegítima e ilegal.

O livro Como as democracias morrem, de Steven Levitsky e Daniel Ziblatt, publicado em 2018, explica o processo de desmantelamento de regimes através de governos que rejeitam as regras basilares da democracia, deslegitimam e perseguem seus oponentes, incitam à violência e impedem o funcionamento livre da imprensa. O caso mais paradigmático foi o de Donald Trump, nos Estados Unidos, no qual Bolsonaro se inspira e repete o mesmo caminho.

É o que temos visto diariamente na pregação mentirosa contra as urnas eletrônicas e o processo eleitoral, abrindo caminhos para contestações dos resultados das eleições, gerando um acirramento da violência política. Para tanto, no caso brasileiro, o presidente investe em uma deliberada manipulação do Ministério da Defesa para fins políticos, buscando imiscuir parcelas das forças armadas na farsa golpista. É o governo do caos.

O método do caos é conveniente a Bolsonaro: esconde a tragédia social de seu governo; a catastrófica condução da pandemia; o desmonte e aparelhamento ideológico do MEC; a sabotagem da ciência através da asfixia orçamentária; e as “boiadas” que passam devastando o meio ambiente.

Além, é claro, de escamotear a corrupção generalizada e a falta de transparência do orçamento secreto, os sigilos impostos às investigações contra o que lhe pode atingir, na blindagem a seus familiares envolvidos em malfeitos e na perseguição política aos críticos do governo.

É preciso resistir e reagir! Tradicionalmente, o 11 de agosto é um dia em que o movimento estudantil mobiliza escolas e universidades e convoca a sociedade para debater as pautas educacionais. Neste ano não será diferente, mas haverá um componente a mais: como em outros momentos históricos do país, os estudantes se unem ao coro dos que não aceitam ataques à democracia e ameaças de golpe.

Como organizações que representam milhões de brasileiros e possuem uma longa trajetória em defesa da democracia, tendo atravessado e resistido às agruras da ditadura, estaremos à frente de mobilizações pelos direitos garantidos à população e do respeito à vontade popular.

Que a resistência democrática seja o marco do “espírito do tempo” desses anos 20, impedindo mais retrocessos. A luta de hoje semeia a esperança do amanhã.

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