Economia

Os insumos orgânicos e naturais ganham espaço

Cresce o número de agricultores que percebem as limitações e impactos negativos dos agroquímicos convencionais

Produção orgânica no Paraná
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Depois que os movimentos ambientalistas mundiais, sobretudo a partir da década de 1980, passaram a divulgar os prejuízos que altas doses de agroquímicos, tanto na nutrição vegetal como na defesa contra pragas e doenças, provocam na preservação ambiental e nas saúdes animal e humana, cientistas, universidades, institutos do governo, associações e empresas passaram a se dedicar às pesquisas de insumos alternativos que erradicassem esses malefícios ou, ao menos, os amenizassem.

No início, convergiu-se para as produções vegetais, de proteínas e fibras, na forma de cultivos e tratamentos ditos “orgânicos”, “agroecológicos”, “biodinâmicos” e suas variantes.

Vários obstáculos foram interpostos para contrariar essa tendência: a magnitude e o poder de divulgação dos fabricantes de agroquímicos; a exiguidade de inovações tecnológicas alternativas no Brasil; argumentos de que sem o uso massivo de agroquímicos seria impossível obter produtividade e produção em alta escala para atender a demanda mundial; legislações confusas e padrões exageradamente rígidos e caros para a obtenção de certificação.

Isso limitava a oferta, encarecia os produtos, propiciava adulterações difíceis de comprovar, confrontava com o convencionalismo dos agricultores e a pouca conscientização dos consumidores de alimentos com suas próprias saúdes.

Na Europa e nos EUA, onde as sociedades contavam com aparelhos de divulgação mais consistentes e também maior poder aquisitivo da população, a oferta e a demanda por alimentos orgânicos se anteciparam e cresceram em taxas mais elevadas.

No Brasil, ao contrário, sem as condições acima e prejudicado por uma barafunda de contradições na legislação, muitos produtores abandonaram esses cultivos.

Passados quase 40 anos, ainda são relativamente pequenos o mercado e a produção de orgânicos, reservados aos grupos mais ricos da população. Ocorre, no entanto, um movimento capaz de amenizar os fatores negativos dos agroquímicos sobre os alimentos. A convergência entre os tratamentos convencionais, à base de moléculas químicas, e os alternativos, à base de matérias de origem orgânica, natural e mineral. Mesma tendência que nos trouxeram manejos como os plantios direto sobre palha, rotação de culturas e a integração lavoura, pastagem, floresta.

O excesso de aplicações de agroquímicos e tóxicos aos solos e às plantas, além de cientificamente comprovado ser prejudicial à saúde, está sendo reconhecido pelos agricultores como: de altos custos, pois fabricados e importados em situação próxima ao oligopólio; perdas por acúmulo de nutrientes nos solos e não disponibilizados às plantas; tetos que não mais permitem incrementos significativos na produtividade; e ainda as reações contrárias da sociedade.

Isso praticamente fez os agricultores, mesmo os que plantam commodities em grandes extensões de área, “contaminar” suas lavouras combinando os produtos convencionais com o uso de insumos orgânicos e naturais. Processo de conscientização dos benefícios que eles trazem às lavouras.

Hoje em dia, se estima a existência de perto de 500 empresas fabricantes ou importadoras dessas tecnologias. São fertilizantes foliares orgânicos, organominerais, biofertilizantes, condicionadores de solo e substratos para plantas. Muitos originados de turfas, extratos de algas marinhas, substâncias húmicas e de resíduos e subprodutos da agropecuária e da agroindústria.

Reúnem duas vantagens: sua retirada do meio ambiente e a utilização como adubos e melhoradores da qualidade dos solos. Segundo o Ipea e o IBGE, em 2014, o Brasil teve geração de 349 milhões de toneladas de resíduos orgânicos.   

Em 2016, o faturamento da indústria foi estimado em 6,4 bilhões de reais, pouco (10%) em relação aos 60 bilhões de reais vendidos pelas indústrias de agroquímicos (fertilizantes e defensivos).

Tanto o crescimento da demanda por alimentos, fibras, madeiras e biocombustíveis no mercado interno, como a competitividade para aumentar as exportações, certamente, se darão com o uso mais intenso de fertilizantes e controladores de pragas e doenças de origem natural e orgânica, em duas frentes:

a) acompanhando a demanda dos fertilizantes químicos, que já faz o Brasil um dos maiores consumidores e importadores mundiais;

b) mas em taxas mais aceleradas, por deslocamento de espaço diante das evidências da necessidade de redução no uso dos agroquímicos convencionais, pois como já vem acontecendo cresce o número de agricultores que reconhece suas características de eficiência e os menores custos e impacto ambiental.

Para que isso aconteça, as empresas do setor precisarão qualificar suas equipes técnicas e comerciais, difundir suas tecnologias com embasamento científico, e atuar junto ao Ministério da Agricultura para pacificar os aspectos regulatórios.

BioBrazilFair

Nos dias 7 a 10 de junho, no Pavilhão da Bienal do Ibirapuera, em São Paulo, será realizado importante evento mundial sobre as tecnologias aqui mencionadas. Mais informações em: http://www.biobrazilfair.com.br/2017/infogerais.asp

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