Economia

O otimismo dos ruralistas

Torço para as projeções de crescimento da produção rural se confirmarem, mas considero haver entraves para o resultado positivo

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Vixe Maria! O que deu em nossos nobres ruralistas a espalharem otimismo com a agropecuária em todas as folhas e telas cotidianas? Será somente pelo excelente governo federal que, na mão, derrubou o anterior eleito pelo voto popular? Afinal o apoio deles ao ato antidemocrático foi quase total.

Vejam só. O valor da produção paulista deve crescer, em 2016, 21% sobre o ano anterior, até 75,5 bilhões de reais, 15% sobre o total nacional, segundo o Instituto de Economia Agrícola. São Paulo é líder nacional à frente do Mato Grosso.

Ah, já sei, dirá o chato de plantão, a cana-de-açúcar puxou o aumento. Sim, responderá o colunista besta, em pouco mais de 3 bilhões de reais; mais 6 bilhões vieram de carnes, laranja, soja, milho, café, ovos madeira e leite; e 3,5 bilhões de uma cultura chamada “outros”, costume nosso de acusar quem pratica desfaçatez distributiva. No estado paulista, o “outro” foi responsável por 27% do crescimento.

Em minhas Andanças Capitais argumento muito quando dizem que São Paulo virou um mar de cana. Não é verdade. A cultura apenas passou a predominar pelas condições edafoclimáticas da região, o deslocamento de outras culturas para terras de menor valor, o aparato agroindustrial já existente, e se desenvolveu em base à inovação tecnológica. Foi mal?

O oponente, se muito teimoso, poderá continuar: “mas, por onde passo só vejo cana”? Claro, estúpido (conforme mais velho, menos paciente estou), queria chicória, mamão e lichias nas beiras de estrada, em extensões de terra a perder de vista? Incruste-se, calce as botas, enlameie-se, informe-se com o IBGE ou no boteco papeando com agricultores.

Vamos ao plano nacional:

FIESP traça cenário positivo para o campo” (Valor, 05/12/2016). Considera sairmos de um ano climaticamente complicado, mas ainda bom, para outro que será melhor. Curioso para uma entidade que pouco olha além de seus umbigos políticos.

A visão se diz “cautelosamente otimista”, diante de turbulências políticas no país e no exterior. Os maiores ícones lusófonos morreriam de rir, se mortos já não estivessem. O pato-estudo se origina da MB Agro, braço da consultoria MB Associados, dos Mendonça de Barros.

Na matéria, todos os temores que eu tenho assinalado nas últimas colunas são relativizados sabe-se lá por quê.

À FIESP junta-se a CNA, Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil. “Apesar das dificuldades, o agronegócio tende a ganhar espaço na economia nacional e o PIB do campo, em 2017, crescerá até 3%, para R$ 1,425 trilhões. Considerar que em 2016 efeitos climáticos prejudicaram a agropecuária.

Quem também confirma otimismo para o agronegócio brasileiro é a revista Globo Rural, em sua edição de dezembro. Estudo realizado em parceria com a Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB) e FIESP, que calcula o Índice de Confiança do Agronegócio, antes, dentro e depois da porteira.

É uma pesquisa opinativa, tanto que a maior base para a confiança veio, segundo Márcio Lopes Freitas e Paulo Skaf, respectivamente presidentes das entidades, veio da expectativa de melhora na economia com o novo governo. Não, não pensem que se trata de minha costumeira ironia, vejam o que eles dizem: “O principal indicador a alavancar o resultado foi a economia do país”.

Por óbvio, torço para que as perspectivas alardeadas se confirmem. Melhor para o país, melhor para mim. Não nego, entretanto, ter algumas dúvidas e considerar entraves para o resultado, não de pronto, que a largada já foi dada e boa, o clima está ajudando. Mas e lá na frente, quando os produtos começarem a chegar aos silos e o planeta estiver mal-humorado com nossas criancices.

Aposentadoria rural

Não escreverei enquanto não forem confirmadas as mudanças. Mas prevejo que precisarei de arma mais potente que a AK-47.

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